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O INÍCIO DE TUDO

O início de tudo
(Capítulo único)
por: Alba Diniz


O concurso de Bardos.

Na Grécia, no tempo dos deuses antigos, existia uma pequena cidade chamada Potedaia. Grande parte de sua população se dedicava a agricultura. A vida pacata da comunidade só era abalada com as festas, principalmente as dos solstícios de verão.
O Solstício de Verão é um ritual de festa e alegria. Trocam-se presentes, faz-se uma grande festa para agradecer pelas frutas, pela fartura e pelo sol, que nessa época do ano brilha mais tempo no céu. Esses dias e noites do solstício de verão são tempos para agradecer a deusa Deméter pela generosidade da estação, quando a vida é mais fácil e há tantas horas de luz diurna que nos permitem realizar todas as tarefas com tempo de sobra para o repouso e o divertimento.
Na pequena cidade vivia um agricultor chamado Herodotus, casado com Hécuba, tinham duas graciosas filhas, Lila e Gabrielle; e nessas comemorações encontramos a família do agricultor se divertindo com as danças, as músicas e o concurso de contos, onde inclusive Bardos de outras cidades se apresentam para deleite de Gabrielle.
Gabrielle era a filha mais velha. Linda, mas de uma beleza pouco comum. Existia nela uma combinação harmoniosa de atributos. Os cabelos loiros e lisos contrastavam com os que se viam na sua própria família e nas mulheres da cidade. Seus olhos de uma tonalidade verde esmeralda eram mais ternos e belos do que os mais bonitos das belezas da capital. O rosto formoso era de uma beleza angelical, geralmente mostrava-se rosado, às vezes exprimindo tristeza ou alegria sem igual.
Gabrielle adorava contar histórias, seu grande sonho era um dia poder estudar na Academia de Atenas. Infelizmente a jovem loira não recebera dos pais o que poderia se dizer realmente de educação. Aliás, ambos não possuíam grandes conhecimentos para transmitirem as filhas. Mas o acaso tinha favorecido a jovem Gabrielle.
Durante uma das festividades, em que acontecia o concurso de contadores de estórias, Femios famoso Bardo da ilha de Ítaca, que gostava de percorrer a Grécia cantando repertórios compostos de lendas, epopéias e tradições populares, cansado da viagem resolve pernoitar na pequena cidade, já que Atenas ainda estava a muitos dias de viagem achou que seria divertido ouvir os contos extravagantes daqueles iletrados aldeões. Se interessa em participar do evento a convite de Alcíno.
Alcíno era o organizador do concurso, um velho homem corpulento, de poucos cabelos e barba grisalha. Filho de um próspero fazendeiro e que teve oportunidade de estudar na Academia de Atenas. Lá se encantou pelas obras de Homero e Demodocos. Embora nunca tenha conseguido fama popular, era um Bardo talentoso, mas não caíra no gosto dos Atenienses. Não gostava de temas comuns. Entre várias composições próprias como “A festa das bacantes” e “A descida de Orfeu ao Tártaro”, mostrava uma grande imaginação, que se baseava no terrível e no sobrenatural, mas que poucas vezes chegava ao excelente.
Na escolha dos temas Alcíno era mais fiel do que seus contemporâneos, a origem primitiva de suas estórias introduzia temas que aterrorizavam os ouvintes. Mesmo com o mérito da originalidade, ele não saiu da obscuridade. Retornando a sua cidade natal, mas continuando ligado pelos laços da arte, ele cria o evento que com o correr do tempo passou a fazer parte das festividades da cidade.
A jovem Gabrielle sempre que terminava os afazeres domésticos e da lavoura, corria para cidade para se deleitar com as estórias contadas pelo velho Bardo. Algumas vezes ele falava à moça de valentes guerreiros e príncipes curvados aos seus pés. Outras vezes fazia-lhe o sangue gelar nas veias, aterrorizando-a com estórias das harpias, das bacantes, do poder dos deuses gregos e do submundo de Hades.
Tudo isso foi sendo gravado na memória de Gabrielle de tal maneira que nem a idade, nem a maturidade puderam apagar. Aquelas imagens a acompanhavam desde a infância. Pode-se dizer que sua imaginação estava cheia de recordações, sensações de prazer e medo, tudo junto num emaranhado de sensações que tanto a deleitavam quanto a aterrorizavam. As estórias que tanto lhe agradavam durante o dia a fazia despertar assustada, quando estava na cama, no quarto escuro.
O Grande Alcíno - sim, pois para o povo daquela cidade ele era o Grande Alcíno, o Bardo; um homem letrado que estudou na capital, insistia que Herodotus permitisse que Gabrielle participasse do concurso, pois via na doce jovem o dom para contar estórias. Desde menina ela o divertia com suas estórias recheadas de contos e lendas típicas da imaginação infantil. Mas o lavrador era irredutível. Dizia que suas filhas já tinham a educação necessária para camponesas, sabiam ler e escrever, o que mais podiam querer?  Não tinham posses que permitissem melhorar a educação das meninas.
- De que serviria ela ser uma contadora de estórias, isso não alimentava ninguém. Além do mais isso não era coisa para mulheres! - Dizia. Eram camponesas e não passariam disso. Herodotus decretava assim a sorte das filhas.
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Herodotus era um homem bom apesar da fisionomia sempre carrancuda e mal humorada. As rugas profundas marcavam seu rosto queimado de sol. As mãos eram grandes e calejadas denunciando o trabalho árduo lavrando a terra desde criança. Cresceu, tornou-se homem. Conheceu Hécuba em uma das festas de solstício.
Ela casara-se com Herodotus por sua espontânea escolha e amava-o. Todos comentavam como ela resolvera se casar com um homem grosseiro e intratável como aquele. Por quantos infortúnios passaram juntos, quantas vezes cuidara dele em suas enfermidades? Ela não sabia dizer.
Gabrielle sabia que estava contrariando as ordens de Herodotus, mas o apelo de seu coração; a arte correndo em seu sangue era mais forte que seu temor pelo pai. Em segredo inscreveu-se no concurso para alegria de Alcíno. Chegou afinal a hora decisiva. Acompanhada de sua mãe, Gabrielle dirigiu-se ao teatro. Queria sentir pelo menos uma vez como era a experiência mágica do palco, o nervoso dos bastidores.
A jovem e a mãe foram recebidas com entusiasmo pelo Bardo; ela escolhe o tema. - Além do mais que chance teria competindo com candidatos mais experientes e letrados que eu? - Gabrielle pensou.

As apresentações seriam julgadas pelo famoso Femios e pelo próprio Alcíno. As extravagâncias e erros dos candidatos não eram difíceis de serem percebidos, os improvisos eram aceitáveis até certo ponto, mas variações frenéticas e aterradoras desagradavam os ouvintes. Os juízes percebiam logo qualquer alteração no texto de uma epopéia. Bastava um simples murmúrio ou pigarrear dos jurados para fazer os concorrentes saírem dos Campos Elíseos diretamente para o Tártaro. Depois de um tímido e rápido olhar em torno, com semblantes humildes, voltavam a executar suas interpretações.
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Duas horas depois, o jovem Perdicas entra correndo eufórico na casa de Herodotus gritando: - GABRIELLE GANHOU O CONCURSO!
O homem se assusta com grito do rapaz e surpreso diz: - Quê...? Como assim?
- Gabrielle ganhou o concurso dos Bardos! - Repete o rapaz, mostrando uma alegria tão sincera que parecia ser ele o ganhador.
Herodotus tratou de vestir-se com uma casaca e se dirigiu para a cidade.  Correu até o teatro. Que surpresa ao entrar. Estaria sonhando? Terminara a exibição e o triunfo estava decidido. Herodotus viu no palco sua filha. Uma luz parecia irradiar da jovem loira. Ouviu a platéia aplaudi-la de pé, extasiada com a jovem. Ali estava sua filha..., a filha predileta de sua alma, que ele acariciara anos e anos na obscuridade, na brutalidade de seu modo de ser.
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Logo no início da apresentação, mesmo acostumada desde muito tempo a ter suas pretensões artísticas ridicularizadas e menosprezadas pelo pai e pela irmã, Gabrielle tremeu ao ver a platéia.
- Pelos deuses é uma mulher! - Alguém da platéia exclama em alto som.
Uma agitação de desagrado circulou por todo teatro, inquietando seu coração. Em todo caso insistia na fiel execução do seu papel como único recurso para dissimular a impressão que causara no público. Sempre que aparece um novo interprete levanta-se um murmúrio inicialmente parcial, para depois explodir em vaias, assovios e risos debochados ou num silêncio significativo. A tempestade estava por um fio. A novidade da sua situação, a recepção dos espectadores, nos quais nem mesmo a vista daquela singular beleza pareceu produzir a mais leve impressão, os cochichos maliciosos dos demais concorrentes, tudo gelou seu raciocínio, emudecendo-a. Em vez da grande eloquência que lhe é característica, predominava nela a timidez, permanecendo pálida e muda perante aquelas dezenas de olhares que a crivavam como se fossem fechas.
Naquele instante, quando parecia que o chão lhe faltava. Gabrielle viu em pé junto a porta, um rosto de incomparável beleza como de uma deusa; traços marcantes, os olhos de uma tonalidade azul nunca visto naquela região, uma mulher alta, longos cabelos negros, de porte esguio e forte, com os braços cruzados sobre o peito impunha respeito a quem se aproximasse. Pareceu que despertara em sua imaginação uma daquelas vagas lembranças que ela acariciara em seus momentos de ilusões infantis. Por mais que fizesse não conseguia afastar seu olhar daquele rosto. Continuando a olhá-la Gabrielle sentiu o terror e aquele frio ao se apresentar diante do público desaparecer.
No olhar da mulher havia uma segurança que a reanimava. Era tamanha a expressão de admiração, mostrada naquele rosto, que a jovem loira sentiu suas forças voltarem. O sorriso da mulher produziu uma repentina e vigorosa influência na estreante. Gabrielle continuava olhando a desconhecida, ela sentia o olhar da mulher penetrar seu coração.
Em tão crítico momento, Gabrielle emergiu. Reanimando-se, a loira começou a contar a “Odisséia de Ulisses”, sem saber que um dos jurados era o autor e o declamador da epopéia na corte de Ítaca. Apenas se ouvia a sua voz, clara e desembaraçada. Então Gabrielle esqueceu a platéia e o risco que a ameaçava, exceto os Campos Elíseos onde se encontrava. A presença da desconhecida servia para aumentar essa ilusão. Ela sentia como se aquele belo sorriso e aqueles olhos brilhantes lhe dessem um poder desconhecido. Aquele feitiço só acabou quando terminou a apresentação e viu seu pai parado junto à porta.
Femios não se movia, não respirava. Se não fossem as grossas lágrimas que rolavam pela face, poderia se supor que se transformara em estátua.
Em fim desceu o pano. Uma tempestade de aplausos! Toda platéia se levantou como se fosse uma só pessoa. Gabrielle estava pálida e trêmula e em toda a platéia viu só o rosto do pai. Seguindo a direção daquele expressivo olhar, Femios e Alcíno compreenderam o seu significado.
A expressão de Herodotus era de raiva e indignação. As emoções do agricultor pouco se revelavam na face sempre carrancuda e mal humorada. Não era desses pais carinhosos que brincam com os filhos que os cercam. Muitas vezes a fina sensibilidade infantil de Gabrielle afastava-a do pai, indo chorar escondida, na suposição de que ele não a amava e que sua predileta era Lila. Mas sob a camada de homem rude, se ocultava um afeto que a jovem foi se apercebendo à medida que crescia e ambos se conheciam melhor.
Agora o agricultor sentia que ela estava participando de uma conspiração contra ele. Tamanha ingratidão era mais cruel e dolorosa que a picada de uma serpente.
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Alcíno conhecendo o temperamento rude do agricultor corre para Herodotus e o segura firmemente pelo braço, quase o sacudindo como para tirá-lo do torpor e diz: - Homem escuta a platéia, tua filha é um êxito, uma artista, ela nasceu com o dom no sangue. Não a castigue, nem a atormente com tuas grosserias.
Femios se dirige para a jovem loira, se desdobrando em elogios, aclamando-a como Diva. Por todos os lugares da Grécia onde tinha andado nunca tinha ouvido sua composição ser tão perfeitamente interpretada como ela o fizera. Emocionado, enxugando as lágrimas, ele se apresenta. Gabrielle se surpreende ao saber que estava na presença de um dos mais famosos Bardos do país.
Depois de ter ouvido tantos elogios, que a aturdiram, a jovem Barda tentava descer do palco e passar por entre os admiradores. Seu olhar procura a mulher. Virou a cabeça e seus olhares se encontraram. Gabrielle sentiu o sorriso dela chegar ao fundo do seu coração, para nele viver eternamente e despertar em sua alma sentimentos confusos.
Femios e Alcíno convidam Herodotus para conversar. O lavrador ouvia os elogios sobre as disposições artísticas de sua filha; que ela estava destinada a ser a primeira Barda na Grécia. Inicialmente tamanha era a irritação do homem por ter sido desobedecido, que relutava em ouvir as razões que os dois mestres Bardos insistiam em mostrar sobre o talento de Gabrielle.
Quando ouviu a proposta de Femios custear os estudos de Gabrielle na Academia de Atenas, o agricultor teve um choque. A proposta caiu sobre ele como uma dádiva dos deuses. Finalmente alguém da família teria uma vida melhor, mais digna, com estudo e quem sabe até mais posses. Mas isso teria seu preço, como tudo na vida. Sabia que perderiam Gabrielle, que perderia sua doce menina para o mundo teatral.
A proposta do Bardo provocou uma série de dúvidas e pensamentos nas mentes de Gabrielle e seus pais. Durante aquele dia os pensamentos de Hécuba eram de presságios que a filha estava predestinada a algo além de uma vida de camponesa. Herodotus estava confuso, no seu modo rude de ser, remoia dúvidas e temores que se embaralhavam à vontade de permitir uma vida melhor a sua filha.
Gabrielle por sua vez sentia os medos infantis despertarem.   Estava amedrontada, insegura. Estaria em companhia de pessoas estranhas por um longo período, um mundo desconhecido, sem o colo da mãe para aconchegar-se como fazia quando criança em noites de tempestades. Mas o dom da arte corria em seu sangue e a oportunidade que surgiu em sua vida seria única, e ela e seus pais sabiam disso.
Incapaz de explicar a si mesma, aquela repentina mudança em seus sentimentos, e pedindo que a deusa Atena a protegesse tomou uma resolução.

................... A desconhecida.

Como era sedutor aquele mundo que se abria para Gabrielle. Era o único que parecia se harmonizar com seus pensamentos.  Femios lhe dera os mestres mais afamados. Ia ler, estudar, aprender a descrever com gestos e olhares as estórias que iria contar para o público. 
Um dos mestres sempre dizia que pessoas como ela, de imaginação simples e coração puro sabem distinguir nas estórias que leem ou nos cantos que ouvem a diferença entre a arte verdadeira e a falsa.
Fora dos estudos Gabrielle era simples, afetuosa e dócil, mas às vezes seu humor se alterava sem razão aparente. De vez em quando o rosto daquela mulher desconhecida surgia na sua mente de maneira tão viva como foi na primeira vez, que fazia surgir um sorriso no seu pequeno rosto. Mas também era comum ver a loira deixar sua alegria corriqueira e sentar-se em algum canto muda e pensativa.
Frequentemente Gabrielle entrava nos jardins da academia, sentava-se a sombra da parreira, olhando pra o céu azul e as nuvens que se dispersavam com o vento. Muitas vezes ficava construindo castelos no ar até aparecer a primeira estrela nos crepúsculos do verão. O sonho é um privilégio humano, mas os sonhos de Gabrielle eram mais frequentes, mais distintos. Pareciam sonhos proféticos.
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A educação artística de Gabrielle terminou aos 18 anos. Femios declara que chegara o dia de escrever um novo nome na sociedade artística Ateniense e depois seguiriam pelo país encantando o público. Ao mesmo tempo notava-se que o Bardo andava irritado com sua pupila. Sucediam conversas entre eles que nem sempre terminavam bem. Chegando a dizer publicamente: - Que moça ridícula, é tão louca e estúpida quanto o pai. Vive questionando tudo!
Um dia tudo terminou com uma forte discussão. Gabrielle retorna para casa. Não o acompanharia, tinha desfeito o contrato.
Sem conhecimento das dificuldades da relação entre Femios e Gabrielle, Herodotus tinha a esperança que sua filha se tornaria famosa. A zanga da moça o desgostara muito, sempre que podia resmungava sobre o assunto, mas a família a acolheu festiva e carinhosamente.
Herodotus tinha o hábito de deitar-se após o almoço para descansar o corpo. Durante esse período Hécuba e Lila costumavam sair para fazer as compras caseiras ou para conversar um pouco com as outras mulheres nas vizinhanças de sua casa. Gabrielle por sua vez costumava visitar Alcíno e os dois conversavam longamente sobre poesias, contos e sonhos não realizados. Sentavam-se a sombra de uma parreira que formava um caramanchão sombreando a entrada da casa do Bardo. Mesmo quando não estavam conversando a moça gostava de olhar as folhas da parreira e de longe fixava o olhar em algum ponto do céu. Enquanto a loira estava com o pensamento divagando, sentada à sombra do caramanchão, passava pela rua com passos firmes uma mulher puxando pelas rédeas um belo cavalo amarelado de crina, cauda e patas brancas. Abaixando os olhos de repente Gabrielle espantou-se ao ver a desconhecida do teatro e sem pensar duas vezes a chama: - Oláááá moça!
A mulher vira-se, olhando-a com certa surpresa. Depois de dois anos fora da cidade elas voltaram a se encontrar. Os olhos azuis se fixaram no lindo rosto da loira. Eram de tal maneira profundos que Gabrielle se desconcertou.
- Olá! - responde a mulher ensaiando um sorriso.
A loira estava totalmente embaraçada, sem saber por que a tinha chamado e agora não sabia o que falar com a morena a sua frente. Um longo silêncio pairou no ar. No entanto nenhumas das duas deixaram de se encarar. Finalmente a mulher quebra o silêncio: - Você quer falar comigo?
- Ah é..., bem é que eu queria lhe agradecer, embora você não saiba o motivo. - Diz a loira sem jeito.
- Me agradecer pelo que? – A mulher pergunta intrigada.
- Bom por uma coisa que aconteceu a dois anos atrás, um concurso de Bardos que teve por aqui durante o solstício de verão..., mas que bobagem a minha, é claro que você não vai se lembrar.
- Está enganada jovem, eu lembro sim, você ganhou o concurso não foi? - Responde a mulher, abrindo o belo sorriso que encantou Gabrielle e que vivia em suas lembranças desde o dia que a vira pela primeira vez.
A expressão de surpresa e o embaraço de Gabrielle diverte a mulher. - Você é de onde? - Pergunta a loira tentando continuar a conversa.
- Sou de Amphípolis, mas vivo na estrada, não tenho lugar fixo. - Responde a mulher e continua: - Qual o seu nome menina?
Gabrielle zangada responde: - Eu não sou mais uma menina; tenho 18 anos e meu nome é Gabrielle.
- Certo Gabrielle, gostei de conhecê-la, meu nome é Xena. - A mulher faz menção de continuar seu caminho, mas a loira está fascinada com aquela estranha; sua respiração estava alterada.
- Onde você está indo? - Pergunta a loira curiosa.
Um levantar de sobrancelha era sinal que a curiosidade da loira já começava a incomodar. - Você é curiosa hein? ... Vou à taberna beber alguma coisa,depois vou comprar mantimentos para viagem e partirei. - Xena responde secamente.
- Mas..., você já vai? Não vai ficar na cidade mais um pouco? - Gabrielle pergunta ansiosa, demonstrando seu desconforto com a partida da mulher.
Xena para e examina as feições delicadas da linda Barda e diz: - Escute, agora que o acaso nos colocou tão próximas quero te dar um conselho, eu não sou uma boa companhia. Acredite.
Quando Xena se cala, Gabrielle a encara com o semblante triste. Compreendendo a gravidade do conselho ela tenta dizer algo, mas sua garganta trava com um nó sufocado.
Xena a observa, inexplicavelmente também sentia certo incômodo em deixar aquela jovem, mas ela tinha uma vida de guerreira errante, perigosa e solitária, e já tinha se acostumado com isso. Finalizando a conversa ela diz: - Adeus Barda, sucesso no seu caminho!
- Adeus Xena! Mas... - Depois de uma breve pausa, um impulso irresistível, um vago sentimento de perda e de esperança, faz Gabrielle insistir: - Não a verei mais em Potedaia não é?
- Não. Pelo menos por algum tempo, parto amanhã de madrugada. - Xena responde secamente e foi afastando-se lentamente.
Gabrielle permaneceu silenciosa e meditativa. Acompanhou Xena com o olhar como se quisesse detê-la. Sem dúvida daria tudo para vê-la voltar, para ouvir ainda aquela voz firme e sonora.
Xena seguiu pelo caminho que levaria a taberna, puxando tranquilamente o cavalo pelas rédeas.

................... Rapto frustrado.

Em uma noite de esplêndido luar, Xena está sentada sob uma árvore junto à fogueira, amolando a espada. Por mais que tente evitar, seus pensamentos constantemente se voltam para a jovem Barda. A delicada beleza da loira parecia tê-la enfeitiçado. Seus olhos, seu sorriso, seus cabelos dourados. Tudo naquela pequena jovem mexia com seus sentidos. Embora preferisse dizer que tinha se interessado pela contadora de estórias, sabia que no seu íntimo se interessara mais pela moça.
- Por Zeus, o que está acontecendo comigo? - Disse a si mesma. O desejo de rever Gabrielle era quase incontrolável. Levanta-se e verifica se o cavalo está bem. - Boa noite amigo! - Diz enquanto acaricia o focinho do animal. Arruma a manta próximo à fogueira. Acomoda-se, mas não consegue dormir, olha o céu iluminado pela lua.
- Que será que ela está fazendo agora? - Pergunta a si mesma.
A noite seria bem longa.
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- Você já se apaixonou por alguém Lila? Um amor de verdade que quando você pensa na pessoa, não pode se imaginar com outro alguém? - Gabrielle pergunta, tentando puxar conversa com a irmã sonolenta com quem divide o quarto.
- Huumm... Gabrielle vai dormir! - Responde Lila se remexendo na cama se acomodando melhor.
A loira insiste, mas não obtém nenhuma resposta, passados alguns minutos ouve o ressonar da irmã. Gabrielle acomoda-se, mas não consegue dormir, andava dormindo pouco, e quando dormia seu sono era agitado. Já tinha decorrido um ano desde que Xena tinha partido. Todos tinham esquecido dela, exceto o coração de Gabrielle. Frequentemente a loira sonhava com ela e acordava sobressaltada, suada. Eram sonhos tão reais como se Xena a estivesse realmente tocando; seu sorriso, seus olhos, seu porte, a lembrança daquela mulher não lhe dava sossego. Tinha que voltar a vê-la. Mas como? Não tinha notícias dela; sem paradeiro e solitária.
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Novamente as festas de solstício de verão chegam. O teatro era reaberto; o concurso de Bardos se tronara conhecido em outras cidades. O número de candidatos crescia a cada ano. Gabrielle já era uma Barda conhecida não só na cidade, mas em várias outras próximas.  Nos dias de suas apresentações o teatro lotava. Suas interpretações faziam derramar lágrimas ou inspiravam raiva.  Não se poderia encontrar outra mulher que compreendesse melhor o amor ou os ciúmes expressos nas palavras.
 Entre seus admiradores tinha um que ela sempre permitia a aproximação e conversavam com mais frequência, talvez por ser tímido ou porque não via inconveniência nessa admiração. Gabrielle começou a querer bem ao rapaz ou amá-lo talvez. Seus sentimentos em relação à Perdicas ainda eram confusos.
Seguindo seu hábito, naquela noite Perdicas foi ao teatro. Por trás da cortina observava Gabrielle, que interpretava um dos mais belos contos gregos. Os aplausos ressoavam pela sala. O orgulho e a paixão eram visíveis no rapaz.
Essa encantadora criatura ainda pode ser minha. - Pensava.
Enquanto estava absorto nesse pensamento viu uma mulher observando Gabrielle por trás da cortina, assim como ele. Antes que pudesse caminhar para onde ela estava, a mulher desaparece se misturando aos outros competidores.
A Barda interpretava o conto de uma pessoa que ama sem ser correspondida e sentia sinceramente sua interpretação. De repente ela sente seu coração quase parar quando se depara com a mulher que se distinguia dos demais pelo traje, o porte e a extraordinária beleza. O auditório escutava atento. Os olhos da Barda, no entanto buscavam somente os de uma fria e indiferente espectadora. Xena ouvia. Embora observasse a Barda com atenção, nenhuma emoção alterou o semblante frio da guerreira. Quando termina o conto, as lágrimas corriam pelo rosto da loira.
A platéia aplaudiu de pé o desempenho da Barda. Muitas mulheres não continham as lágrimas. Gabrielle tinha acabado de deixar o palco. Perdicas aproximou-se dela com flores e galanteios apaixonados, que ainda não tivera coragem de dizer. Apesar disso, a loira não deu atenção às palavras do rapaz.
Ela é ovacionada pelo público que pede seu retorno ao palco; retorna ao palco mais pela ansiedade de ver Xena do que para atender ao apelo da platéia, mas não encontra mais a mulher. A tristeza se abate imediatamente sobre seu coração; sente a profunda dor do desprezo. Curva-se em agradecimento e retorna aos bastidores não contendo mais as lágrimas de tristeza.
Todos acreditam que são lágrimas de emoção, pois nenhum mortal tem o poder de ver como seu coração está sangrando.
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- Por Zeus! - Exclamou o rico comerciante de Corinto que fazia da pacata Potedaia sua parada obrigatória para descanso de viagem. - Esta jovem acendeu uma paixão em minha alma. Hoje, nesta noite ela será minha! - O homem de estatura acima da mediana, robusto, calvície acentuada e olhos negros, tinha uma expressão resoluta. Faz sinal para o criado franzino que o acompanha.
- Philemon avisa os outros criados que hoje à noite terão o serviço de raptar essa linda moça e levá-la para meus aposentos. Prepare tudo. - Ordena o comerciante.
O criado o olha espantado: - Senhor..., isso é certo? A Barda enfeitiçou o senhor? Quando ela voltar para casa irá falar sobre essa violência. Pense bem senhor.
- Idiota, como ousas discutir minhas ordens, faça o que estou mandando! - Esbraveja o homem.
- E se o rapaz acompanhá-la? - Pergunta o criado se referindo à Perdicas.
- Quem? Aquele imbecil presunçoso? Vai pagar caro se segui-la. Não quero nenhum rival. Ladrões vão assassiná-lo entendeste? Para melhor encenar o assalto, tirem tudo que ele estiver levando. Deixo em tuas mãos. - Determina o homem.
O criado inclina-se em obediência e se afasta, indo providenciar o que lhe foi ordenado. Nenhum dos dois percebe a mulher em pé as suas costas, que sai logo em seguida ao criado.
Gabrielle volta para casa acompanhada pela mãe, a irmã e Perdicas. À noite a pálida luz da lua mal iluminava o caminho. A chama da tocha que o rapaz carregava, produzia sombras fantasmagóricas na estrada. Caminhavam pela parte menos habitada da cidade já iniciando a área rural. De repente o grupo foi cercado por seis homens armados de punhais e paus; quatro bem fortes, um mais franzino e o último deles se mantém mais afastado segurando os cavalos, apenas observando.
O mais forte deles agarra o braço da loira, para puxá-la do grupo. Hécuba se mostrou uma adversária inesperada. Repeliu o agressor com um vigor que surpreendeu o homem. Lila assustada esboça uma reação, mas é violentamente empurrada pelo outro homem caindo no chão, Perdicas tenta reagir, mas um soco o atinge, derrubando-o no chão. Imediatamente os homens ameaçaram agredir os três a pauladas, já que tinham ordens de não machucarem a loira.
Gabrielle se debatia, tentando se soltar, mas seu esforço era em vão. O homem parecia não sentir os desajeitados socos que a loira lhe dava. Ele agarra Gabrielle pela cintura e a joga sobre o ombro como se carregasse uma saca de trigo. De repente saindo da escuridão ouve-se um urro aterrorizante. O primeiro homem foi atingido com um violento chute nas costelas e logo em seguida tem sua garganta cortada, fazendo o sangue espirrar a distância; apesar da surpresa os outros reagem tentando acertar o vulto que se movia e se esquivava dos golpes com uma agilidade felina. Uma espada gira em arco no ar, cravando profundamente no abdômen do segundo homem. O homem mais franzino está paralisado, suas pernas tremem, não esboça nenhuma reação e cai desmaiado de pavor. Simultaneamente Lila e Hécuba socorrem Perdicas ajudando-o a se levantar.
Todos olhavam espantados. O vulto atacava com uma fúria bestial.
O quarto homem recebe um violento chute no joelho, o homem grita de dor agarrado ao joelho, antes que ele atinja o chão recebe um chute no queixo, fazendo voar uma massa de dentes e sangue. O homem caiu com a mandíbula deslocada e o joelho partido. A espada gira novamente no ar e desce sem piedade no peito dele.  O vulto partiu para cima dos outros dois bufando fúria, com os olhos chamejantes, onde não se reconhecia qualquer traço do azul que lhe era nato.  O homem que carregava Gabrielle já estava próximo aos cavalos. O outro já o aguardava montado pronto para partir em disparada pela estrada escura. Um zunido de alguma coisa cortando o ar em grande velocidade; um grito de dor e o homem desaba no chão com o tendão do calcanhar cortado profundamente. Gabrielle sente o choque da queda e tenta se desvencilhar do corpo pesado do homem. Nesse momento o vulto se aproximou, pareceu-lhe gigantesco; o homem ferido como último recurso tira o punhal do cinto e tenta alcançar Gabrielle. Quem sabe poderia usá-la como escudo?
Com a velocidade de um raio, o homem tem a mão do punhal decepada. Ele berra de dor, o sangue jorra por todos os ferimentos. Mais um giro da espada e o peito dele é traspassado sem piedade. O outro homem já tinha disparado pela estrada abandonando os cadáveres de seus companheiros.
O vulto retira do calcanhar do cadáver o disco de metal liso e achatado, de borda afiada que em toda sua superfície tinha um desenho entalhado, limpa a espada e o disco na roupa do morto, guarda a espada na bainha presa as costas e prende o disco na cintura da roupa de couro preto.
Perdicas, Lila e Hécuba tentam identificar o vulto com a fraca luz da tocha; ficam boquiabertos quando veem que é a mulher que estava no teatro assistindo Gabrielle.
A mulher ajuda Gabrielle a levantar. Quando se ergue novamente, ela se depara com o rosto de Xena. Suas pernas tremem, seu rosto enrubesce, seu coração parece que vai parar. De repente foi como se o tempo tivesse parado, as pessoas, tudo tinha desaparecido. Só existia aquela linda mulher a sua frente.
- Você está bem? - Xena pergunta.
Sem responder Gabrielle a abraça. Por não estar acostumada a demonstrações de carinho, a princípio Xena fica surpresa e desconcertada, mas a proximidade do corpo de Gabrielle, o cheiro de seus cabelos, sua pele quente e macia, desmancham as defesas da guerreira. Ela abraça a loira com força, aconchegando aquele pequeno corpo ao seu.  Pelos deuses, que sensação maravilhosa. - Pensava enquanto sentia seu coração disparar. Agora ela não tinha mais dúvida em relação ao seu sentimento por Gabrielle.

................... Sentimentos inexplicáveis.

Xena acompanhou o grupo até a casa de Gabrielle. Hécuba foi cuidar dos seus serviços, deixando os quatro na sala. Agora sob a claridade das inúmeras velas Xena olhava a cabeleira dourada, um tanto em desalinho, caída sobre os ombros da Barda. Os olhos verdes cheios de ternura e agradecimento e as faces rosadas da agitação.
Lila tentava puxar assunto com Perdicas, mas o rapaz mal lhe dava atenção, observava a admiração com que Xena olhava para a loira.
Nesse instante Herodotus chega na sala acompanhado da mulher. Quando Gabrielle e Lila veem o pai correm para abraçá-lo. A mulher já o informara que foram atacadas. Ele abraça as filhas e se dirige à Perdicas para agradecer ter salvado suas três preciosidades. Lila e Hécuba se entreolham. Gabrielle sente o rosto queimar.
- Não pai, você está enganado, quem nos salvou foi Xena. Se estamos todos bem foi graças a ela! - Diz a loira.
Herodotus olha espantado para a mulher examinando-a dos pés a cabeça. Xena encara a fisionomia carrancuda e o olhar duro do agricultor. Com um seco “Obrigado”, ele agradece a guerreira. O ar na sala ficou tenso. Hécuba quebra o silêncio com um riso nervoso; chama Lila e Gabrielle para ajudarem a preparar uma pequena ceia para comemorarem o dia que terminara com todos bem.
Perdicas, Herodotus e Xena se examinam discretamente. Apesar de conversarem, um clima desagradável pairava entre os homens e a guerreira que não estava acostumada a esse tipo de confronto; pedia aos deuses que Gabrielle voltasse logo, se sentia como um peixe fora d’água e isso a irritava. 
Onde estou com a cabeça? - Pensou.  Desculpando-se, por não poder ficar para a ceia ela se despede.
Algum tempo depois Hécuba e as duas filhas voltam alegres para a sala, trazendo uma tigela com frutas e uvas secas, uma saborosa polenta, pão e uma jarra de vinho. Mas o sorriso de Gabrielle desaparece quando não encontra Xena.
- Onde Xena está? Foi embora? O que aconteceu? - Pergunta a loira. - Um olhar de cumplicidade entre Herodotus e Perdicas não passa despercebido da loira que sente o sangue ferver, os olhos faíscam de raiva, fuzilando os dois homens que ignoram o acesso. Ela corre para fora da casa, procurando por Xena. Olha aflita em todas as direções, mas sabe que não vai encontrá-la.
Perdicas a segue segurando-a pelo braço. - Me solta! - Ela exclama.   Apesar de surpreso com a reação da loira o rapaz tenta acalmá-la. Depois de certo tempo retornam para a casa com Gabrielle se esquivando dos braços do rapaz que insistia na tentativa de abraçá-la para que se acalmasse.
Hécuba e Lila não cabiam em si de alegria, os homens conversavam e bebiam animadamente. Era uma comemoração simples, mas significativa. Gabrielle participava, mas não com o mesmo entusiasmo que os outros; mantinha o rosto apoiado nas mãos e o olhar divagando pelo espaço.
...........................................
Gabrielle levanta junto com o sol, passara a noite em claro, pensando em Xena. Tinha que encontrá-la, falar com ela. Agradecer, mas na realidade era um pretexto para vê-la, pois não tinha coragem de dizer que sentia sua ausência; de como tinha se sentido protegida em seus braços. Vai até a cidade, procura por ela e encontra Xena ajustando os arreios no cavalo.
- Xena! - A voz suave de Gabrielle, faz a guerreira se virar, mas sua fisionomia é séria e fria.
- Olá Barda, teve uma boa noite? - Xena pergunta, procurando não mostrar um real interesse.
Gabrielle se aproxima e toca o braço da guerreira. O simples toque da loira estremece Xena, mas ela se controla e continua a arrumação para a viagem.
- Xena..., Xena, por favor, precisamos conversar. Olhe para mim. - A voz suplicante de Gabrielle amolece o coração da guerreira.
- Está bem mocinha, o que você quer falar? - Xena vira-se e se depara com aflitos olhos verdes e um rosto triste e abatido de quem passou a noite às claras. Sua vontade é abraçar a doce criatura, mas resiste à tentação.
- Olhe, eu não sei o que aconteceu ontem à noite lá em casa. O que meu pai te disse, mas seja lá o que for eu quero pedir desculpas. - Diz a loira.
Xena a encara e vê no fundo daqueles olhos a pureza da alma e a sinceridade dos sentimentos daquela linda moça. Ela diz: - Não houve nada demais, apenas ficamos conversando. - Após uma breve pausa a guerreira continua. - Aquele rapaz... Perdicas..., ele gosta de você, vai fazê-la feliz! - Xena engole em seco.
A expressão de surpresa de Gabrielle é visível. - Quê?
Gabrielle fica confusa, ouve atentamente o que Xena diz; enrubesce quando ela se refere à Perdicas; abaixa a cabeça e esconde o rosto entre as mãos. - Xena escute..., eu..., eu não amo Perdicas.
Gabrielle se aproxima, seu lindo rosto mostrava a aflição de não conseguir expressar o que sentia; os sentimentos confusos que embaralhavam seus pensamentos. Não conseguia explicar a sensação de sentir seu corpo queimar, seu coração bater mais rápido, os estremecimentos que sentia quando estava perto de Xena ou quando ela a encarava com seus olhos azuis e a sensação maravilhosa que teve quando se abraçaram na noite anterior, de aconchego, segurança, de sentir sua vida preenchida.
A guerreira interrompe a Barda: - Talvez você não o ame agora, mas vai amá-lo quando o conhecer melhor. Repito, você será feliz e estará segura com ele. Vocês formarão uma bela família. Nunca pensou num lar onde seu marido fosse ele?
A loira recua com os olhos marejados de tristeza e aflição: - Não! Nunca pensei nisso! - Gabrielle responde com energia.
A Barda fixa o olhar em Xena e continua: - Escute ...,  não confunda o sentimento que... - Gabrielle titubeou, mas logo continua.  - que tenho por Perdicas. Não sei o que sinto por ele, mas posso dizer que não é o mesmo que..., que sinto por você. - A loira enrubesce, a voz aflita denunciava o nervosismo. - Se o amor é como descrevem, como tenho lido, como tenho interpretado no palco, o que sinto por ele é apenas um afeto de amigo. O que sinto por você é diferente..., é como se fosse uma atração sobrenatural. Não sei explicar. - A loira sente o rosto em brasa, está trêmula e desconcertada.
Xena esta surpresa com o que acabara de ouvir. Aquela jovem pura de corpo e alma estava abrindo seu coração de maneira tão sincera que o sentimento de alegria e felicidade estremece o coração da guerreira. Mas sua vida era perigosa, errante, não pediria que Gabrielle a acompanhasse por mais que sentisse sua falta, por mais que a angústia oprimisse seu peito.
Num fio de voz Gabrielle pede: - Por favor, me leve com você. Essa vida não é para mim, eu quero que você me ensine tudo que sabe.
- Sabe o que está pedindo? Você não tem noção do perigo que vai correr! - Diz Xena.
Gabrielle não responde, num rompante ela abraça Xena se aconchegando em seu peito. - Sinto sua falta! - Gabrielle murmura emocionada.
A guerreira sente como se o ar faltasse, com um esforço digno de Hércules, ela afasta a loira e diz: - Gabrielle, meu destino é incerto. Se alguma coisa lhe acontecesse seus pais jamais me perdoariam. Por favor, não torne as coisa mais difíceis. Você viu do que fui capaz com aqueles homens ontem à noite. Pense bem, você seria capaz de conviver com isso? - Pergunta a guerreira.
A Barda fica pensativa: - Eu quero seguir com você para onde você for. - Diz por fim.
- Gabrielle..., eu não sou boa com palavras. Sou uma guerreira, minha vida é na estrada, e a estrada é uma vida de perigos, de privações, de solidão e isso não é para você. Não posso tirá-la da sua família, do seu conforto, de ter um futuro tranquilo, seguro, bem melhor do que estando comigo! - Xena sente imensa ternura pela jovem. Um sentimento até então desconhecido para ela. Procura forças no mais profundo de suas entranhas para resistir à vontade de abraçar e acariciar Gabrielle.
Uma breve pausa e a guerreira continua: - Você está impressionada comigo, só isso. O melhor que você fará será me apagar da sua vida..., do seu coração. - A voz da guerreira era firme e fria, totalmente oposta aos desejos de seu coração.
- Xena, não se mostre para mim como um presságio de tristeza e desgraça... - Gabrielle deixou de falar. Faltou a voz, enquanto brilhavam lágrimas em seus olhos. Passados alguns segundos volta a falar com a voz trêmula: - Algumas vezes em meus sonhos eu a vi diferente, tinha uma alegria radiante, tranquila, que não vejo agora... Pensa que se mandasse no meu coração teria escolhido sofrer por um sentimento não correspondido? - As lágrimas desciam pelo pequeno rosto, novamente abaixa a cabeça e esconde o rosto entre as mãos. Não consegue mais falar. O choro embora controlado, não consegue ser disfarçado.
Xena sente seu coração bater mais forte, sua respiração quase para; se aproxima de Gabrielle; levanta seu rosto molhado de lágrimas e as enxuga com delicadeza. Demorou-se examinando com ternura cada pedacinho daquele rosto angelical. As sobrancelhas, os olhos verdes esmeralda, o nariz, os lábios, o queixo, tudo era perfeito. Sem duvida a loira tinha sido abençoada por Aphrodite.
- Por favor, não insista. Eu vou partir e não sei se voltaremos a nos ver algum dia. Me esqueça. - A voz de Xena era amargurada. - Não me crie problemas. Volte para sua família e seja feliz! - A guerreira vira-se para o cavalo e volta a ajustar a cela. Um nó sufoca sua garganta. Mas não voltará atrás.
Gabrielle cruza os braços sobre o peito, inclina-se como se sentisse uma dor aguda. As palavras de Xena a atingiram como a profunda estocada de uma lança. Ela sai disparada chorando.

................... Surpresas inesperadas.

A jovem Barda estava sentada do lado de fora da casa. Seus olhos miravam o distante céu azul absorta em seus pensamentos. Um pouco atrás na soleira da porta, via-se Hécuba com as mãos metidas nos bolsos do avental.
- Filha..., Perdicas é um bom homem, trabalhador, decente e ama você. Nós faríamos muito gosto que vocês se casassem. - Disse a mulher com a terna voz materna.
Gabrielle dá uma rápida olhada para mãe e volta a olhar o céu sem responder. O coração de Hécuba sofria com a tristeza da filha que não era exposta com palavras, mas sentida no coração, e coração de mãe não se engana.
Hécuba percebe que não adianta falar mais nada, pois não terá resposta. - É..., já está na hora, daqui a pouco seu pai vai chegar. Vou preparar a polenta. - Dá uma última olhada para a filha e entra.
Desde que conheceu Xena e seus olhos azuis a encararam, ela se sentia diferente. Agora não veria mais a princesa dos seus sonhos. Já fazia oito meses desde que ela partira novamente.  A única vontade que Gabrielle tinha era fugir de si mesma, desaparecer. Sentia no coração uma inquietação inexplicável. À noite centenas de lembranças trazem a guerreira de volta a sua vida.
Enquanto estava perdida no seu mundo, aproxima-se um homem sem ser percebido, tocando-lhe levemente o braço diz: - Olá linda Barda!
Gabrielle vira-se rapidamente, ensaiando um sorriso ao ver Perdicas, sua presença a trás de volta ao mundo real.
- Posso me sentar? - Pergunta o rapaz.
A loira sorri levemente, mesmo com a fisionomia abatida não perdera os encantos. Perdicas tomou o sorriso como consentimento e senta-se ao lado dela.
- Gabrielle preciso que me escute... - Ele engole em seco; retorce as mãos de nervoso, sente um suor frio brotar na testa. Gaguejando vez ou outra; Perdicas expõe seu desejo de tê-la como esposa.
A loira ouvia tudo de olhos baixos. Sem mostrar surpresa ela o encara e responde: - Perdicas não sou insensível aos seus sentimentos, sei que você é sincero, tenho um grande carinho por você, mas não me sinto capaz de te fazer feliz.
- Você é capaz sim. Você é a criatura mais doce que conheço. - Ele responde.
- Eu..., eu não sei, talvez..., talvez você tenha razão, todos nós queremos ter um lar... - Falava com um tom saudoso.
- Eu gostaria de ter uma família, fazer a minha família, mas teria que ser com a mulher que eu amo e sempre amarei..., você. Eu te amo Gabrielle. - Disse acariciando os cabelos da jovem. Perdicas levanta delicadamente o rosto da loira e beija seus lábios com ternura. Hécuba assiste a tudo pelas frestas da janela.
Mais alguns meses se passaram. A constante presença do rapaz vai aos poucos tranquilizando o coração da loira. Chegava a se sentir mais animada e alegre com suas visitas. Embora sentisse no seu íntimo o vazio de um amor não correspondido.
A Barda desperta de uma longa noite mal dormida. Sentiu o desejo de escrever, desejo nascido da alma, do coração. Adorava o cheiro do pergaminho novo. Resolveu expor em palavras seu sonho e pensamentos. Enquanto escrevia, suspirava, estremecia, corava.
Quando termina, relê o que escreveu e percebe que o poema se inspirava numa certa pessoa e não era Perdicas.
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Em uma das ruas mais movimentadas da cidade, fica o sobrado de um dos mais ricos comerciantes de Corinto. No salão a porta finamente entalhada, separava o único ambiente que não ostentava o luxo dos demais cômodos. Uma grande mesa retangular ocupava o centro da sala. Sobre a mesa um punhal usado para tirar os lacres de documentos, um tinteiro, uma pena e vários pergaminhos virgens. Três grandes janelas permitiam a entrada da claridade do sol, uma suave brisa arejava o cômodo, balançando levemente as cortinas de algodão branco que decoravam as janelas. Uma mesa próxima a uma das janelas acomodava um vaso com água, taças e uma bandeja de prata com frutas. 
Nesse cômodo se encontra um homem de estatura acima da mediana, robusto, calvície acentuada e olhos negros, vestido com uma túnica bordada, presa nos ombros por broches igualmente preciosos e seu franzino criado.
- Bem Philemon... - disse o homem olhando com desprezo o criado, que permanecia em pé junto a uma coluna. - Ainda não me refiz da decepção, tu me falhaste quando eu mais contava contigo. Além do prejuízo de ter perdido quatro escravos.
O criado permanecia de olhos baixos, suas costas ainda doíam dos dez açoites que levara. Pelo menos foi um castigo menor que o outro criado que fugiu a cavalo.
O homem continua: - É lamentável que não tenhas visto o miserável que prejudicou meus planos naquela noite. Tem certeza que não existe nada que possa identificá-lo?
O criado se limita a balançar a cabeça afirmativamente sem levantar os olhos. - Tens certeza? - Insiste o comerciante.
Philemon repete o gesto. - RESPONDE FILHO DE UMA BACANTE! - Berra o homem.
O criado tem um sobressalto e gaguejando responde: - Te... tenho sim senhor. - Philemon não se atreve a contar ao seu senhor que o grupo foi quase todo exterminado por uma mulher. Uma mulher que tinha a força de dez homens, que lutava com uma fúria bestial como se estivesse possuída por Ares. Mantinha a lembrança viva na memória; ela trazendo-o de volta a consciência e logo em seguida pressionando dois pontos em seu pescoço. A voz dela ainda ressoava em seus ouvidos.
 - Acabei de cortar o fluxo de sangue para o seu cérebro, você tem trinta segundos para me dar algumas informações, senão...
Ele vai engasgando com a própria saliva, o nariz começou a sangrar. Os esforços para respirar eram em vão, o ar começava a faltar. A mulher apoiou um joelho no chão ao lado dele. Ele se debatia, tentando respirar, um filete de sangue começava a escorrer da boca, as artérias do seu pescoço estavam inchando, a dor em sua garganta era insuportável, como se o estivessem enforcando, suas têmporas latejavam, foi ficando com uma tonalidade arroxeada, seu cérebro estava prestes a explodir tamanha a pressão.
- Aaahhrr..., - Tentava gritar.
- O tempo está passando..., - A mulher sadicamente o aterrorizava. - Vai logo seu miserável, conte tudo!
Naquele momento ele se acovarda e delata todo o plano do rapto e seu mandante. Sem nenhuma palavra, ela pressionou novamente os mesmos dois pontos no pescoço desfazendo a paralisia e lhe dá um potente soco no queixo. Ele desmaia instantaneamente. 
A voz do comerciante o traz de volta à realidade. - Necessito de consolo pela perda de minha “querida” esposa e quem poderia me oferecer maior distração que aquela linda e virgem Barda? - Diz o homem com sarcasmo.
O criado não se atreve a falar nada, se mantém de olhos baixos, murmurando ele pergunta: - Outra emboscada, senhor?
O homem o olha com desdém. - Já planejei tudo. Hoje tem uma apresentação da Barda em Potedaia. Quando a jovem sair do teatro quatro homens já estão esperando por ela e mais três armados acompanharão de longe, caso apareça algum herói tentando salvar a moça.
Philemon tenta dizer: - Mas senhor... - Sua frase é interrompida com o berro do comerciante. - CALE-SE! SE NÃO QUISER SER ESFOLADO VIVO COISA INÚTIL! - O homem furioso segura o criado pelo pescoço com força quase o sufocando.
Antes que Philemon abrisse a boca, um criado entra na sala e anuncia que uma mulher deseja falar-lhe. O comerciante solta o pescoço do criado. Acomoda-se na cadeira e ordena que a mulher entre. Philemon empalidece, seu corpo todo estremece ao reconhecer a desconhecida que matara os quatro homens na noite do rapto fracassado. Ele se comprime contra a coluna com medo, seu coração bate apavorado, parece que vai sair do peito.
O comerciante examina a mulher com estranheza. Apesar da indiscutível beleza, o porte, o caminhar firme, o traje que ela usa não era característico das mulheres de Corinto. - Uma estrangeira. - Pensou.
- Pois não bela mulher, o que deseja? - Diz o homem cumprimentando-a. - Como é mesmo que se chama?
A mulher se aproxima da mesa. Sua figura imponente impressionava. A voz é firme e ameaçadora. - Meu nome é Xena e vamos direto ao assunto. Parece que o senhor tentou molestar uma amiga. Quero preveni-lo que não torne a chegar perto dela novamente.
O homem espantado se recosta na cadeira, seus olhos denunciam certo nervosismo. Philemon trêmulo se comprime ainda mais contra a coluna, amedrontado não se atreve a erguer a cabeça. O homem lançou um olhar de irritação para o criado. Esforçando-se para dominar a raiva e a confusão, ordena ao criado: - Me traga água, estou com sede. Aceita uma taça senhora?
Xena não responde, o encara com frieza. A ameaça velada em seu olhar o faz estremecer. Os olhos azuis eram puro ódio. O semblante tenso mostrava que o aviso estava dado. O comerciante tentava evitar aquele olhar.
- Está havendo algum engano senhora, não sei do que está falando. - Diz o homem.
Xena espalma as mãos sobre a mesa, se inclina ligeiramente sem desviar o olhar ameaçador e diz: - Afaste-se da Barda. Se alguma coisa acontecer a ela eu vou caçá-lo nos confins do Tártaro e nem os deuses poderão lhe salvar. - Ela estica o corpo novamente.
O homem empalidece, se remexe na cadeira; tenta intimidar a guerreira: - Sua vadia, como se atreve..., sabe quem sou eu?
Xena pega o punhal sobre a mesa e o crava firmemente no pergaminho que o homem escrevia e finaliza a ameaça. - Já foi avisado!  - Ela vira-se, dá uma última olhada em Philemon, que treme segurando a jarra de água junto à mesa, e sai.
Passado os minutos de choque, o homem furioso atira tudo que está sobre a mesa no chão. Seu rosto está vermelho de raiva; bufando. Depois de ter extravasado sua raiva, ofegante ele diz a Philemon: - Meu sangue está fervendo de ódio. Ninguém me ameaça e sai ileso. Quero essa prostituta morta antes do dia acabar. Agora mais do que nunca quero aquela moça, nem que isso custe parte da minha fortuna.
Philemon estava trêmulo, apavorado tanto com a mulher quanto com o acesso de fúria de seu senhor. Com dificuldade conseguiu murmurar algumas lúcidas palavras: - Senhor..., não estamos na pequena Potedaia, aqui existem leis.
- Leis de ferro que se dobram ao poder do ouro. - Responde o comerciante, soltando uma estridente gargalhada.

................... Peso na consciência.

Já ia alta à noite e o silêncio que reinava no sobrado que ficava na parte mais luxuosa da cidade de Corinto, é quebrado com o alvoroço da chegada dos criados carregando alguém desmaiado enrolado em uma grande manta.
- Levem para meus aposentos. - Ordena o comerciante e em seguida berra pelo criado: - PHILEMON! 
Após alguns minutos o criado entra no aposento se curvando em obediência. - Sim meu senhor!
- Então já descobriste onde a prostituta está hospedada? - Pergunta o homem.
- Sim meu senhor, ela está na hospedaria das Dríades do outro lado da cidade.  - Responde o criado.
O comerciante sentia-se inquieto, ao pensar naquela mulher que o desafiara. Via a necessidade da morte dela e pensou. - Veremos se você consegue sobreviver ao veneno.
O veneno tinha um efeito inevitável, produzia dores, convulsões e sufocamento após alguns minutos de ingerido e se misturado ao vinho era imperceptível pela vítima.
- Toma Philemon, dá esta moeda de ouro ao homem da taberna e mande-o colocar esse líquido numa garrafa de vinho e servi-lo a vagabunda como cortesia da hospedaria para os estrangeiros.  - Diz o homem entregando um pequeno frasco ao criado.
Philemon já nem se lembrava a quanto tempo era escravo, nem quantos castigos sofrera, mas com o passar dos anos cada dia se indignava mais com a falta de escrúpulos do comerciante, a vida humana não significava nada para o maldito; o que importava era que o homem realizasse seus desejos asquerosos e aumentasse sua fortuna, não importando os meios que usaria para consegui-lo.
O comerciante era um homem poderoso que vivia rodeado da classe mais seleta de Corinto. Ninguém se atrevia a contrariá-lo. Agora surgia do nada aquela mulher que enfrentou e ameaçou o velhaco. Fazendo surgir uma centelha de esperança que alguém desse fim ao reinado de maldades daquele homem.
Como ordenado Philemon foi à hospedaria. Viu Xena sentada em uma mesa no final da taberna. Subornou o homem da taberna que se encarregou de envenenar o vinho. Orientou que o homem oferecesse o vinho como cortesia aos estrangeiros e de longe com o rosto coberto pelo capuz do quitão observava a cena. Uma sensação de desprezo por si mesmo invadiu seu coração.
Xena olha o taberneiro desconfiada, agradece e aceita o vinho. Examina a garrafa, destampa, cheira, serve um pouco na caneca, cheira novamente, olha desconfiada para o conteúdo da caneca. Depois de vários minutos resolve completar a caneca. Quando aproximava o vinho dos lábios, leva um violento tapa na mão, derramando o vinho sobre a mesa.
- Não beba, está envenenado! - Diz Philemon descobrindo a cabeça.
Simultaneamente Xena se levanta prestes a sacar a espada quando reconhece o criado. O segura pelo traje sacudindo-o com força.
- Você quis me envenenar seu miserável? - A mulher esbraveja com os olhos cintilando de raiva. Philemon cai em prantos, arrependido.
Xena o observa desconfiada. - Foi seu senhor que mandou não foi? - Diz e dá uma violenta sacudida no homem franzino. A voz do criado está embargada. Xena o empurra para a cadeira e senta-se ao lado do homem que chora de cabeça baixa escondendo o rosto entre as mãos.
- Se não quiser morrer aqui mesmo, é melhor me contar tudo! - Ameaça a guerreira.
Entre soluços Philemon conta os planos do comerciante de novamente raptar a Brada; que dessa vez ele tinha tomado precauções para não falhar; que a essa hora ela já estaria em poder dele e que Xena deveria salvá-la do destino terrível que seu senhor tinha para a jovem.
Xena retesa os músculos, os punhos se fecham, a fúria vai crescendo nas suas entranhas ao ouvir cada detalhe. - E porque você está me contando tudo? Seu senhor vai matá-lo! - A mulher pergunta tentando controlar o ódio.
Apesar de ter sido castigado, no fundo ele se alegrou pela primeira tentativa de rapto da Barda não ter se concluído. O doce encanto de Gabrielle o deixou fascinado. Lembrou-se de sua pequena Diana, que agora deveria estar com a mesma idade que a Barda. -  Por onde estariam? - Pensa. A mulher e a filha tinham sido vendidas no mercado de escravos e nunca mais soube notícias delas. Ele chorou, suplicou, se ajoelhou pedindo que não tirassem sua família, mas o comerciante enxergava apenas o lucro que teria com a venda das duas. E assim foi feito. Philemon viu sua vida e alma serem arrancadas e as viu entrarem no navio que partiu com destino à Índia; ele se tornou um molambo humano e com o passar do tempo foi se acovardando com a vida.
- Estou cansado de viver. Há muito tempo minha vida foi destruída por aquele monstro, perdi minha família e não quero acrescentar mais mortes aos meus ombros. - Diz Philemon já tendo controlado o choro e continua: - Tenho em minha consciência o peso das mortes de inocentes, de virgens violentadas e vários outros tipos de crimes cometidos pelo meu senhor, em que tive participação. Estou farto disso.
Xena o ouve, a fisionomia de angústia e desespero do homem, não deixava dúvidas que ele estava sendo sincero.
- Me espere aqui, não se atreva a fugir ou vou mandá-lo para Tártaro! - Ordena a guerreira.
Xena corre no quarto, pega o quitão e retorna a tempo de ver várias pessoas em volta da mesa. Abre caminho e encontra Philemon caído no chão curvado, segurando o abdômen em convulsões violentas, uma baba espumosa branca escorria de sua boca. Xena o segura em seus braços somente a tempo de ouvir suas últimas palavras.
- Sa...salve a Bar...da. -  Ele respirou fundo uma última vez, o corpo retesou, sua boca espumosa permaneceu aberta, a cabeça pendeu para trás e seus olhos não se abriram mais.
- O que aconteceu? - Perguntou um homem.
- Não sabemos ele tomou um copo de vinho e depois começou a engasgar, caiu no chão, ficou se debatendo e começou a babar. - Responde uma mulher. - É alguma doença?
- Foi castigo dos deuses! - Disse outra mulher.
Xena coloca o homem no chão e responde: - Não, não é doença nem castigo, foi veneno.
Philemon não queria acrescentar mais uma morte as suas lembranças e sim apagar todas elas dando fim a sua miserável vida.
Xena corre disparada para o estábulo, arruma os apetrechos no cavalo e monta de um salto. Argo dispara pelas ruas da cidade com a velocidade de um raio com destino a casa do comerciante do lado oposto da cidade.

........... O sonho.

Gabrielle entra na sala de onde saía um vapor leve e claro. A jovem sentia um agradável perfume. No mesmo instante sentiu um leve tremor no corpo. Aos poucos, a luz clara foi se tornando cada vez mais suave. Então naquele espaço onde havia apenas a luz, surgiam sucessivas paisagens de vales e montanhas. Em um local distante ela viu Xena sentada em uma pedra, ela aproxima-se com uma expressão de inteira felicidade. Xena percebe sua aproximação e mostra seu belo sorriso. Gabrielle corre para os braços da guerreira que a acolhe com carinho num apertado abraço.
- Enquanto não te conhecia, não sentia tua ausência, eu não sabia como era forte a união de almas. Eu pensava que era tudo imaginação. Mas agora, eu não suportaria que me dissesse para ser feliz com outro. - Diz a loira.
- Nem eu iria te dizer isso. - Respondeu Xena.
- Mas às vezes eu vejo você triste. - Diz a Barda.
Xena suspirou e emudeceu, parecendo pensativa. - Você não deseja saber algo mais sobre mim?
- Devemos deixar os amigos terem segredos, você não tem porque me contar tudo o que faz, eu respeito isso. - Responde Gabrielle.
- Você não tem medo do futuro? - Pergunta a guerreira.
- O futuro? Não penso nele. - E sorrindo a Barda completa: - Para mim o presente e o futuro são o teu sorriso.
Xena sorri, levanta o rosto de Gabrielle e beija seus lábios de uma forma apaixonada; um beijo intenso como nunca sentira igual.
Gabrielle acorda de um pulo, sobressaltada, está suada, respiração ofegante. Sua cabeça dói. É então que ela se dá conta de estar num quarto desconhecido. Sozinha, naquele recinto, ela vai se lembrando do ataque que sofrera.
Estava acompanhada de Perdicas e sua mãe, ao final da apresentação quando abriu a porta do teatro, viu os dois serem empurrados com brutalidade por quatro homens de cabeças cobertas pelo capuz do quitão marrom que usavam. Sentiu a mão enorme pressionando seu nariz e boca; ela se debatia, mas o ar começava a faltar. De repente uma espécie de névoa densa se movia ante seus olhos. Esforçava-se para ver alguma coisa através daquela névoa e sem forças desmaiou; por segundos quando abriu os olhos novamente viu-se amarrada e amordaçada; uma nova nuvem escura e novamente em segundos as imagens vão ficando distorcidas, os homens se tornando apenas silhuetas, a vista está embaçada, os homens se distanciando, o ambiente ao seu redor ficando escuro. 
Teve pouco tempo para se recuperar. Abriu-se a porta e apareceu o comerciante, luxuosamente vestido. Ela ouviu os passos que se aproximavam da grande cama onde estava.
- Doce criatura. - Disse o homem com um sorriso.
Quis pegar uma das mãos de Gabrielle, mas vendo que ela se afastava continuou: - Saiba que não tem para onde fugir jovem. Está à disposição de um homem que nunca foi derrotado em suas tentativas amorosas. Seu amigo não lhe salvará desta vez. Você é minha!
Ele tenta se aproximar, mas Gabrielle pula da cama ainda tonta, mas está disposta a lutar até a morte do que ser violentada por aquele homem asqueroso.
- Olha, o senhor está se arriscando, eu não tenho medo do senhor. - O desconforto da tonteira é terrível. - O senhor atraiu um grande perigo sobre sua casa.
O orgulhoso comerciante pareceu admirado daquela ousadia, que o surpreendeu. Mas não era homem de se intimidar facilmente ou desistir dos seus planos. A tonteira tornava Gabrielle uma presa fácil de ser dominada. Aproximou-se da loira sem grandes dificuldades e agarrou-a. A loira se debatia, esmurrava o homem sem resultado; desesperada gritou.
Gabrielle se sentia humilhada, seu pequeno corpo estava dolorido, as marcas de arranhões sobressaíam na pele clara. Rogava aos deuses com toda força de seu coração que sua vida fosse tirada naquele instante. Notou que o cômodo não tinha outra saída, além da porta. Entre soluços não deixou de pensar em Xena.
- Grite minha ovelhinha, pode gritar à vontade, ninguém virá te socorrer! Você vai ser minha! - Diz o homem enquanto tentava rasgar as roupas da loira. - Verá que não será uma noite desagradável.
O pânico tomou conta de Gabrielle. O comerciante era grande e corpulento e ela já se sentia sem forças, estava exausta ao extremo. O homem já tinha rasgado a blusa da Barda, mostrando seus seios rígidos e perfeitamente delineados, os mamilos levemente mais escuros que sua pele branca.
...........................................
O potente coice de Argo escancara a porta do sobrado. Um criado corre para ver o que acontecia quando é puxado pela túnica, aproximando seu rosto do dele ela pergunta: - Onde está a moça? - A voz da guerreira sai entre os dentes cerrados. O criado não consegue falar, se limita a apontar para um cômodo escadaria acima. Xena o empurra com violência desimpedindo o caminho.
O criado grita: - SOCORRO! ACUDAM! - No mesmo instante a sala é invadida por seis escravos armados de paus, sendo dois deles de porte bem fortes.
- Saiam do caminho e ninguém vai se ferir! - Xena ameaça se dirigindo com a espada em punho para o local que o criado indicara.
Os dois escravos mais fortes se postam no início da escadaria para impedi-la de subir, enquanto os outros a cercam. Ela se vira com os olhos selvagens e os encara; é quando ouve os gritos de Gabrielle. O ódio explode nas entranhas da guerreira e ela avança. Os dois homens mais fortes partem para Xena, acreditando que sua força seria suficiente para impedi-la; ela apara o primeiro golpe de um e quase simultaneamente abaixa-se desviando do potente golpe do outro. Xena dá uma violenta pancada com o punho da espada no queixo do primeiro deles fazendo-o cambalear com o sangue escorrendo pela boca. Com um giro de corpo e espada, Xena faz um corte profundo no braço do segundo homem em seguida chutando seu peito, ele é jogado a distância.
Os outros que a cercavam olham surpresos, paralisados com a reação da mulher. A guerreira toma impulso e com um salto e uma cambalhota em pleno ar, cai de pé junto a porta do aposento e chuta a porta.
Gabrielle se debatia e chorava desesperada, quando ouviu a violenta pancada na porta do quarto. A pancada se repetiu mais forte e a porta cedeu com a fechadura retorcida. O homem vira-se assustado e se depara com Xena pressionando a espada em sua garganta. O homem empalideceu, seus lábios tremiam de medo.
Xena vê Gabrielle em prantos encolhida sobre a cama.
- Gabrielle! - A voz aflita da guerreira é imediatamente reconhecida pela Barda que levanta o pequeno rosto lavado de lágrimas.
- Gabrielle ele..., ele... - As palavras saiam aflitas com receio da resposta.  Por fim Xena perguntou: - Ele violentou você? 
A loira responde entre soluços: - Não..., não chegou a..., mas se você não chegasse agora eu não teria mais força para me defender.  - Xena ouve a resposta com certo alívio.
Xena pressiona ainda mais forte a espada. O homem mal respira, o pânico é visível em seu rosto. A voz da guerreira se torna ameaçadora: - MISERÁVEL!
A fisionomia da guerreira era uma máscara de ódio, os dentes cerrados e os músculos retesados. Seu corpo tremia de ódio. Nesse instante Xena vê as roupas de Gabrielle rasgadas, seus seios expostos e os arranhões na pela branca da loira.
A besta negra emerge das entranhas da guerreira. Ela levanta o homem pela túnica e o arremessa contra parede como se fosse uma fruta podre; soca o rosto dele sem piedade enquanto diz: - E agora, onde está sua valentia? Por que não enfrenta alguém que é capaz de se defender seu verme?!
O homem tentava em vão se defender dos violentos golpes da guerreira. O rosto dele já se transformava numa massa disforme visivelmente inchado pelos hematomas, o sangue escorrendo pela boca, nariz e por um corte profundo na sobrancelha esquerda, o olho esquerdo já não está mais visível. Xena o jogava por cima dos móveis como se sua força tivesse se multiplicado.
Ouvem-se gritos de fúria, objetos caindo, quebrando e repentinamente o silêncio.
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Apesar da raiva, do desprezo, do nojo que sentia por aquele miserável, Gabrielle assistia a tudo chocada com a brutalidade da cena. Xena estava irreconhecível.
- XENA PARE! - Ela grita e corre para a guerreira, segurando seu braço e repete: - POR FAVOR, PARE, CHEGA! VOCÊ VAI MATÁ-LO!
- E VOCÊ ACHA QUE ELE NÃO MERECE MORRER PELO QUE FEZ A VOCÊ? - Xena responde descontrolada.
- Por favor, pare! - A loira pede.
Ainda com os olhos chispando fúria, ela larga o homem que quase desmaiado cai pesadamente no chão. Xena olha Gabrielle sem entender como ela pode se compadecer de um homem como aquele.
- Gabrielle, você está me pedindo para poupar a vida desse miserável? Ele tentou violentar você. Ele ia desgraçar sua vida! - Disse a guerreira ainda tentando se controlar.
- Você já o castigou bastante, ele está quase morto. Chega..., por favor. - A voz suplicante de Gabrielle trás Xena de volta a razão. Num rompante a guerreira abraça Gabrielle com força, aconchegando a loira em seu corpo ainda trêmulo de raiva. A proximidade do corpo de Gabrielle faz seu coração acelerar, mas agora é um sentimento de carinho e proteção. Sente que a loira retribui o abraço da mesma maneira. Aquele sentimento de vazio preenchido quando está perto de Gabrielle é uma sensação maravilhosa. Tantas vezes estivera por desistir de tudo, mas agora sua vida passara a ter sentido. Como poderia agora viver longe da pequena que se aconchegava em seus braços?
- Me leve com você. Enquanto não te conhecia, não sentia sua ausência, eu não sabia como era forte a união de almas. Eu pensava que era tudo imaginação. - Diz a loira que se surpreendeu repetindo a frase do seu sonho e completa: Quando estou com você este vazio que eu sinto se acaba.
- Mas e sua família? - Xena pergunta.
Não sou a garotinha que meus pais querem que eu seja. - Diz a loira, olhando firmemente nos olhos azuis que a encaram.
Xena sorri e acaricia o rosto de Gabrielle. - Agora vamos sair daqui! - Diz a guerreira.
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Após alguns minutos Xena sai do aposento puxando o comerciante pela túnica. O rosto do homem é uma massa de sangue; ao mesmo tempo em que protege Gabrielle com seu próprio corpo. Ela vai descendo a escadaria pressionando a espada na garganta do homem e ameaça: - SE ALGUM DE VOCÊS SE MEXER, EU ARRANCO A CABEÇA DELE! 
Os criados estão imóveis, apenas acompanham as duas mulheres com o olhar. Elas seguem até a porta. Xena joga o homem quase morto no chão, acomoda Gabrielle na garupa de Argo, monta e disparam pelas ruas de Corinto.
O sonho profético se concretizava.

........... Retornando para casa.

Enquanto cavalgavam retornando para Potedaia, Xena segue calada, mergulhada nos seus pensamentos. A loira estranha o silêncio da guerreira.
- Você está tão quieta. - Diz a Barda.
Mais alguns segundos de silêncio e Xena responde: - Estava pensando no que você falou sobre trazer você comigo.  Pense bem Gabrielle, você não sabe nada sobre mim. Não tem medo de como pode ser o seu futuro se me acompanhar? Você já viu do que sou capaz quando fico furiosa, você conseguiria viver com isso?
- O futuro? Não penso nele. - E sorrindo a Barda completa: - Para mim o presente e o futuro é estar com você.
Naquele momento a alegria faz o coração da guerreira bater mais forte, embora as dúvidas ainda a atormentassem.
O quitão da guerreira cobria o corpo da Barda, evitando que seus seios e a roupa rasgada ficassem expostos. Chegam a casa da loira.
- MÃE! - Gabrielle grita. Hécuba e Lila reconhecem a voz da Barda e saem da casa correndo para abraçá-la.
- Minha filha, ó pelos deuses você está bem? - Pergunta a mãe desesperada em prantos.
- Ela está bem sim, bastante abalada, mas está bem! Cheguei a tempo de evitar..., uma violência maior. Leve-a para descansar. - Diz a guerreira.
- Xena! - A voz de Herodotus soa grave.
A guerreira olha para o homem que se aproxima com a cara emburrada de sempre. Quando estão próximos eles se encaram por alguns segundos, até que ele lhe estende o braço; que é aceito pela guerreira.
- Obrigado! - Pela primeira vez demonstrando um sinal de emoção no semblante rude. Sem mais nenhuma palavra ele entra na casa seguindo as mulheres e fecha a porta.
Xena acaricia o focinho de Argo: - Vamos embora amigo, não nos querem por aqui! - Monta e puxa as rédeas, quando o cavalo vira-se para seguir a estrada, a porta se abre novamente.
- XENA! - É a voz de Lila; ela corre para junto da guerreira. - Você volta amanhã?
- Acho que não é mais necessário. Sua irmã está a salvo, agora ela só precisa de descanso. - Responde a guerreira.
- Tenho certeza que Gabrielle vai gostar de te ver. - Diz Lila com um sorriso matreiro.
Xena sorri da cumplicidade de Lila. Sem responder, ela instiga Argo a seguir pela estrada rumo à cidade.
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O dia amanhece com o cheiro de mingau e pão quentinho vindo da cozinha. Gabrielle acorda e se surpreende ao ver Lila sentada na cama observando-a. A loira se espreguiça e diz: - Bom dia..., o que foi?
Lila continua observando a irmã, até que responde: - Bom dia dorminhoca. Como você está?
Gabrielle olha o teto como se estivesse avaliando seu estado físico: - É..., considerando o que passei, acho que estou bem. - Responde com o rosto ainda enevoado de sono e dá um leve sorriso. Nova espreguiçada e senta-se na cama. Nesse instante Lila aproxima-se abraçando-a com força numa ternura poucas vezes mostrada. Lila tinha o temperamento parecido com o de Herodotus, sentia, mas não demonstrava.
Apesar de surpresa Gabrielle responde ao carinho e fica mais surpresa ainda ao ver lágrimas escorrendo pelo rosto da irmã.
- Ah Gabrielle nós ficamos apavorados com seu rapto, estávamos desesperados sem saber como te encontrar. Mamãe não parava de chorar; papai se mal dizia a cada instante, ele e Perdicas te procuraram por toda cidade, eles estavam arrasados. Nem imaginávamos que tinham levado você para Corinto. - E continua: - Graças aos deuses que tudo acabou bem.
- Graças aos deuses e a Xena. - Completa a loira. - Ela me salvou mais uma vez.
Gabrielle encara a irmã: - Lila... - Ela sente necessidade de confessar um sentimento novo e estranho que queima em seu interior, mas as palavras ficam engasgadas, com receio de serem ditas. Elas se olham demoradamente. Lila percebe que a irmã tem alguma coisa importante para falar: - Vai Gabrielle pode confiar em mim..., fala.
A loira engole em seco, como procurando palavras para começar, gagueja, se sente embaraçada, mas finalmente fala: - Lila..., eu..., eu não sei o que há comigo, mas eu sinto que não posso me casar com Perdicas, pois meu coração pertence a outra pessoa. E apesar de não poder estar com ela agora não posso ficar com mais ninguém. - Sente o rosto queimar envergonhada, baixa os olhos, mas continua: - Decidi ir embora com Xena.
Sem demonstrar surpresa Lila pergunta: - Você tem certeza? E nossos pais? E Perdicas?
- Nós temos família em que nascemos, mas às vezes as famílias mudam e temos que construir as nossas. Xena e eu temos uma ligação. É mais forte do que se pode imaginar. É como se fossemos almas gêmeas. - Gabrielle responde e continua: - Perdicas? Eu estive confusa em relação a ele, mas agora vejo que gosto dele apenas como amigo, eu não o amo. Eu não seria feliz nem o faria feliz.
Lila fica alguns segundos calada sem desviar o olhar da irmã. Gabrielle baixa os olhos constrangida com o olhar fixo da irmã. Após alguns minutos Lila rompe o silêncio: - Não é preciso ser filósofa para ver que você pertence ao mundo lá fora com Xena.
- Você sabia o tempo inteiro, não é? - Pergunta a loira erguendo os olhos emocionada.
- Sim, você é minha irmã e eu te amo mais que tudo. Se é o que você quer..., te desejo toda felicidade do mundo. - Lila responde com a voz embargada. Ela e Gabrielle se abraçam emocionadas.
Enxugando as lágrimas Lila diz: - Papai não vai aceitar isso.
- Eu sei, por favor, não conte nada a mamãe. Um dia eu voltarei para visitar vocês, eu prometo. - Responde a loira.
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Uma semana se passou desde o incidente e Herodotus decide o destino de Gabrielle.
As lágrimas da loira sensibilizavam o coração de Hécuba, que pedia que o marido reconsiderasse a decisão.
- Um casamento sem amor não era uma boa maneira de começar uma família. - Insistia a mulher, mas Herodotus estava irredutível. Gabrielle já estava na idade de casar; Perdicas a faria feliz e isso bastava.
- Se ela tivesse a proteção de um marido nada disso teria acontecido..., ela aprenderá a gostar dele com o tempo!  - E assim o lavrador encerrava o assunto.
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Por iniciativa própria Lila foi procurar Xena. Ela se aproxima da guerreira que responde com um leve sorriso.
- Xena, preciso falar com você. - Diz Lila.
- Pode falar, estou ouvindo. - Xena responde.
- É sobre Gabrielle. - Diz Lila.
Xena tenta se mostrar indiferente, mas o olhar denuncia o interesse da guerreira sobre o que estava para ser falado.
- Podemos conversar em outro lugar? Aqui é muito barulhento, quero te contar umas coisas. - Diz a jovem.
Dirigem-se para um local mais afastado do comércio da cidade. Numa área próxima onde existia uma verdejante alameda, elas sentam-se numa pedra sob uma frondosa árvore e Lila começa a contar os fatos.
Xena se surpreende com o que escuta, mas não comenta nada, continua a ouvir com atenção; apoia os braços nos joelhos, entrelaça os dedos, fica algum tempo em silêncio, pensativa. Lila observa a mulher, como se quisesse ler seus pensamentos. Finalmente Xena abre um sorriso, os olhos azuis brilham; pede que transmita a Gabrielle que irá conversar com ela e que tenha paciência.
Lila volta para casa eufórica para contar a novidade para a irmã. Ela corre para o quarto e encontra Gabrielle com o olhar perdido no céu azul que espia pela janela entreaberta. A loira se assusta pela maneira como a irmã invade o aposento. Lila começa a falar apressadamente, quase de um só fôlego. Gabrielle ouve a princípio sem entender, mas depois a euforia também vai tomando conta dela à medida que a irmã vai narrando a conversa com Xena. A loira agarrada ao travesseiro sufocava os gritinhos de alegria. Ao final da narrativa Gabrielle abraça Lila agradecendo e choram emocionadas.
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Perdicas não cabia em si de alegria, cercava Gabrielle de atenções, quase diariamente ia visitá-la, sempre levando algum agrado para a futura esposa. Gabrielle se esforçava para se mostrar interessada nas conversas do rapaz, mas seu pensamento vagava desatento. Estranhamente a loira não mostrava o abatimento de alguns dias atrás, seu olhar voltara a brilhar e muitas vezes ela e Lila eram pegas sussurrando pelos cantos da casa, um olhar de cumplicidade era comum entre elas. A relação das irmãs se solidificara de tal maneira que se tornaram quase inseparáveis.
Hécuba pressentia que tinha acontecido alguma coisa para que Gabrielle mudasse seu comportamento dessa forma. Não havia mais vestígio de tristeza em seus olhos; seu sorriso era leve, espontâneo como de uma criança. Por mais que tentasse, não conseguia que as filhas lhe confidenciassem o que viviam cochichando. Havia um pacto subentendido entre elas, do qual nem a própria mãe fazia parte. Mais cedo do que imaginava Hécuba saberia do que se tratava tanto segredo.
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Passadas algumas semanas as festividades de Solstício se iniciam. A pedido de Gabrielle, Alcíno anuncia por toda cidade que no dia de abertura do festival, terá um espetáculo especial. A Barda recitará uma poesia de própria autoria ao final das apresentações. Como se esperava o teatro está lotado. Todos assistem as apresentações dos jovens aspirantes a Bardos; a cada ano a competição se torna mais acirrada. Os numerosos candidatos formam grandes filas para se inscreverem. Alcíno finalmente vê um sonho se realizar, o povo passara a apreciar a arte.
Os competidores vão se apresentando. Alguns são aplaudidos, outros hostilizados. E assim o último jovem se apresenta. Alcíno sobe no palco anunciando a tão esperada atração. O público aguarda com ansiedade a apresentação da Barda que mostrará uma face desconhecida do público até o momento, a de poetisa.
O palco é preparado solenemente, a cortina desce. A platéia vai silenciando até não se ouvir mais qualquer ruído de vozes. A cortina se abre, Gabrielle entra delicadamente. O público está paralisado. É como se uma aura irradiasse do corpo da Barda. Por segundos fica calada, observa atentamente aqueles rostos, muitos deles conhecidos e mais ainda de desconhecidos. O silêncio impressiona. Ela encontra os olhos azuis que a observam com ternura.
Com a voz suave ela inicia a apresentação sem desviar os olhos da bela mulher de pé no final do teatro: - Essa poesia se chama “Confissões do coração” e dedico a alguém de quem acredito que a minha existência não consiga mais se separar.
Com um suspiro profundo ela começa a recitar a poesia que escrevera algum tempo atrás numa manhã de inspiração.
“É a luz do dia que me ilumina ou a lembrança da tua presença? Tudo que olho parece cheio da tua imagem. Tu invadiste minha alma e dominou meu coração! Não me queixarei que sejam duras as tuas palavras e frios os teus olhares. Minha alma deseja se unir a tua. Tudo que se passa em meu coração é misterioso, tão misterioso como é para mim a lua e as estrelas. Por que não luto para romper o laço que me prende a ti? Quem te deu o direito de dispor de mim? De minha alma? Me devolve a vida que eu tinha antes de te conhecer. Me devolve os tranquilos sonhos da minha infância e a liberdade do meu coração, que cantava quando estava alegre. Fizeste-me perder a ilusão de tudo que não se refira a tua pessoa.”
“Me recrimino por pensar em ti a todo momento, de desejar te ver; teu olhar queima minha pele. Esse sentimento que eu agora compreendo afasta de mim a dúvida e o medo. Sinto como se a felicidade tivesse derramado um sorriso sobre meu sonho.”
“Outro dia, outra folha caída da árvore da existência. O sonho desta noite trouxe-me ao coração uma calma incompreensível. Me sinto tranquila a respeito de nossas vidas. Sei que uni de modo inseparável as nossas existências e que não poderei separar minha alma da tua, mesmo que quisesse. Isso foi um sonho. Quando despertei, tive um misterioso sentimento de felicidade. Uma confusa recordação de algo agradável. O mundo volta a me parecer belo. Quando estou com você me sinto completa. Quando estou sem você, apenas desejo estar contigo. Agora nem a mais leve dúvida obscurece minha alma. Conheci o sentimento chamado AMOR.”
Gabrielle sorri e vê seu sorriso ser retribuído por Xena. A platéia permanece em silêncio total, como se paralisada por algum feitiço. Até que se ouve um leve soluçar, em seguida alguém bate palmas e as palmas vão contagiando o ambiente até que todo o teatro está de pé euforicamente aclamando a Barda.

........... A escolha.

- Você tem certeza que é isso o que você quer? - Pergunta Xena. - A vida na estrada é perigosa, não tem conforto. Você não vai ter um lar. - Insiste a guerreira.
 - Xena, um lar não precisa ser uma casa, pode ser uma pessoa. Meu lar é você. - Responde a loira.
Xena não se controlou mais, puxou-a contra seu corpo e abraçou apertadamente a pequena mulher; Gabrielle retribuiu o abraço da mesma forma. A Barda estava ali, nos seus braços. Terna, doce, carinhosa e tão apaixonada quanto ela. A guerreira se inclina e segurando o rosto da mulher entre as mãos, beija seus macios lábios que se entreabrem recebendo a língua ávida da guerreira. Seus lábios se comprimiram num beijo longo, sufocante e apaixonado. A loira sentiu o corpo queimar, o rosto enrubescer, o peito arfando.
Xena se dá conta que tinha se precipitado, todas essas sensações eram novidade para a Barda: - Gabrielle eu... - Foi interrompida.
- Ssshhiii, não se preocupe..., está tudo bem. - Disse a Barda colocando os dedos sobre os lábios da guerreira. Gabrielle sente as faces coradas. O olhar fixo de Xena a deixa perturbada, mas não desviam os olhos uma da outra.
- O que foi? - Pergunta a guerreira, por fim.
- Nada. - Responde a loira com um sorriso meio sem jeito.
Xena luta para controlar o desejo que agora ferve seu sangue. Tudo tem sua hora e seu tempo e ela como uma mulher mais experiente saberia dar esse tempo a Gabrielle.
- Está pronta para partir? - Pergunta a guerreira tentando acalmar seu desejo.
- Sim, quando vamos? - Diz a loira ansiosa e ao mesmo tempo responde: - Quero partir durante a madrugada, não quero que meus pais vejam.
Xena a olha surpresa: - Não vai se despedir da sua família?
- Acredite..., não seria uma boa ideia, meu pai nunca permitiria que eu seguisse com você.
- Está certo, então esteja pronta que virei te buscar amanhã de madrugada. - Diz Xena. - A loira abre um alegre sorriso, causando ruguinhas no nariz que deixam Xena encantada.
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A família fez a última refeição do dia; Gabrielle estava calada, coisa pouco comum para ela; junto com a irmã ajudou Hécuba com os afazeres domésticos. Evitava encarar o olhar da mãe, que já percebera algo diferente com a loira. Gabrielle já tinha confidenciado a Lila que fugiria de madrugada e a fez jurar que não contaria a ninguém. Hécuba sentia que as duas se comportavam de modo estranho. Coração de mãe não se engana.
- Gabrielle..., está tudo bem filha? - Questiona Hécuba.
A pergunta pega a loira de surpresa, que gagueja ao responder: - Está..., está sim mãe, está tudo bem. - O olhar desconfiado da mãe a deixa desconcertada.
- É só uma indisposição boba, vou me deitar mais cedo. - Diz a Barda apressando em se recolher.
- Vou preparar um chá de ervas para você. - Diz a mãe, já se dispondo a levantar da cadeira.
- Não mãe..., não precisa, vou melhorar! Não se preocupe! - Responde a loira abraçando Hécuba com força, beijando-lhe os cabelos e repete os gestos com Herodotus. Ambos estranham a atitude de Gabrielle, mas não fazem nenhum comentário. Despedem-se desejando uma boa noite para as filhas.
A agitação de Gabrielle contagiou Lila, ambas sussurravam com receio de serem ouvidas pelos pais que continuavam conversando sentados à mesa na cozinha. A todo momento a Barda procurava ouvir as vozes dos pais. As horas se arrastavam, parecia que justamente esta noite eles resolveram permanecer acordados.
Gabrielle já estava com as roupas arrumadas numa saca, esperando ansiosa. Lila por sua vez também estava nervosa. Por fim o silêncio se fez sentir em toda casa. A noite prossegue. Lila começa a ficar sonolenta, mas a excitação de Gabrielle não a deixa dormir.
- Pelos deuses onde ela está?! - Murmura a Barda.
Nesse momento ela ouve uma voz que a chamava e ao mesmo tempo batia na janela. Gabrielle dá um pulo da cama e sacode a irmã. A loira abre a janela com cuidado; põe um dedo nos lábios para recomendar silêncio.
- Meus pais estão dormindo no quarto ao lado. Não fale alto. - Sussurra a Barda.
Antes de pular a janela Gabrielle abraça Lila com força: - Obrigada minha irmã, nunca esquecerei isso. - Lila beija as mãos de Gabrielle e responde com a voz embargada: - Seja feliz minha irmã, eu te amo muito!
Ela corre e se abraça ao vulto que tem a cabeça coberta pelo capuz do quitão. A loira recebe a saca com roupas e acena para Lila se despedindo. Correm para fora da cerca da casa e mais alguns metros depois encontram o cavalo escondido entre as árvores que margeiam a estrada. De um pulo o vulto monta em seguida se inclinando ligeiramente segura firme o braço da Barda e a puxa para garupa, ela se acomoda agarrando-se fortemente ao corpo de Xena enquanto disparam num galope pela estrada.
Nuvens pesadas se acumulavam no céu. O vento frio da madrugada levantava as folhas do chão, raios enormes se ramificavam como galhos e trovões estrondosos ecoavam pelo ar. Era necessário procurarem abrigo antes que a tempestade caísse.

........... A primeira noite.

O vento frio e cortante se torna mais forte, balançando os galhos das árvores sem piedade.  Uma pequena caverna conhecida por Xena que ficava próxima a estrada serviria de abrigo. Apressando o galope em pouco tempo chegam à caverna. Desmontam e Xena entra puxando Argo pelas rédeas. Gabrielle a segue; a pele da Barda está fria e arrepiada.
- Vamos ficar aqui até o temporal passar. - Diz Xena. - O vento uiva do lado de fora.
Xena abre a bolsa grande amarrada à sela, tira o cobertor e agasalha Gabrielle.  - Fique aqui, vou buscar galhos para a fogueira. - Diz a guerreira.
Um trovão ressoa; Argo relincha inquieto. A caverna escura só é iluminada pelos rápidos clarões dos raios que riscam o céu. A guerreira retorna antes da chuva começar a cair; acende uma pequena fogueira, o suficiente para iluminar pequena parte da caverna.  Xena retira os apetrechos de montaria de Argo. Acariciando a cara e pescoço do animal diz: - Pronto companheiro está tudo bem..., calma!
Gabrielle sentada numa pedra a observa. O olhar apaixonado se derrama sobre a guerreira que quando percebe, dá um sorriso. - O que foi? - Xena pergunta.
- Nada..., estava só olhando, como você é linda. - Responde a Barda.
A luz da fogueira não deixa Gabrielle ver as faces coradas de Xena que sorri desajeitada.
- Posso te perguntar uma coisa? - Diz a Barda, e antes que Xena respondesse ela concluiu. - O que aconteceu que você mudou de ideia de me trazer com você?
A guerreira que alimentava a fogueira com alguns gravetos responde: - Alguns dias atrás Lila me contou que seu pai ia te obrigar a casar com Perdicas, e que você estava se sentindo infeliz por casar com alguém que não amava. Então já que você estava disposta a me acompanhar...
Xena estende a grossa manta próxima à fogueira e diz desconversando: - Que tal para o seu primeiro dia de aventura? - A Barda se limita a um pequeno sorriso.
Gabrielle fica alguns instantes em silêncio com o olhar perdido nas chamas. Xena percebe, senta-se ao lado dela, acaricia os cabelos da Barda e pergunta: - Você está bem?
Após um profundo suspiro a loira diz: - Minha mãe sempre quis que eu me casasse e tivesse filhos. Eu disse a ela que eu sempre seria grata pelo modo que me criou, mas não poderia esperar que eu pagasse isso com o meu futuro.
- Você..., - Xena titubeia. - está arrependida?
A Barda abre um sorriso: - Não, de modo algum, eu quero seguir com você para onde você for. O mundo é muito grande, ficar num só lugar é desperdício de espaço.
 Xena sorri com certo alívio. - Tivemos um dia cansativo, vamos dormir. - Diz a guerreira se acomodando e se cobrindo, mas percebe que Gabrielle continua sentada.
- Você não vai dormir? - Xena pergunta.
Gabrielle deita próximo a Xena, mas mesmo forrando o chão com o quitão da guerreira, as pedrinhas a incomodam. Ela se remexe, tentando se acomodar. - Onde está sua manta? - Xena pergunta.
- Eu não tenho manta nem cobertor, na pressa esqueci de pegar. - Reponde a Barda.
Após alguns segundos de silêncio Xena diz: - Vem..., deita aqui comigo, dá para nós duas. - Xena acomoda Gabrielle junto ao seu corpo. A barda deita a cabeça no ombro da guerreira, aconchegando seu pequeno corpo, enquanto tem seus cabelos acariciados. A simples proximidade daquele corpo quente, a maciez dos cabelos e da pele faz o sangue correr rápido nas veias da guerreira.
- Xena... - Gabrielle murmura.
Xena tenta de todas as formas se controlar, mas sente o desejo crescendo dentro dela. - Huumm? - Responde.
- Seu coração está batendo forte. - Comenta Gabrielle. - O meu também está assim.
Xena levanta ligeiramente o queixo de Gabrielle e curva-se beijando delicadamente os lábios da Barda. Um beijo suave e carinhoso.
Gabrielle enlaçou o pescoço de Xena num abraço amoroso. A guerreira apertou a jovem mais fortemente em seus braços, o beijo se aprofundou mais, suas línguas se tocavam examinando prazerosamente cada parte das bocas. Suas respirações já se alteravam, seus corações batiam fortemente.
Os beijos da guerreira foram descendo pelo pescoço e ombros de Gabrielle, a língua de Xena passeava pelo pescoço e orelhas provocando ondas de prazerosos arrepios na pele branca e macia da loira. Xena foi despindo a jovem Barda, tentando controlar-se para não deixar seu desejo apressar esse momento de encanto.
A guerreira mordia delicadamente os ombros da sua companheira; a língua descia vagarosamente para os seios.  As mãos deslizando suavemente pelo corpo da parceira examinando detalhadamente cada curva, textura da pele dos seios, ventre e coxas. Os beijos ficando cada vez mais ardentes.
- Gabrielle, eu quero você... - Sussurrou Xena no ouvido da loira. - Não conseguia mais segurar a onda de desejo que tomava conta de seu corpo e sentia que estava sendo correspondida. Xena sentia seu sexo molhado; a guerreira verificou que Gabrielle também se entregara a esse êxtase, sentia o sexo quente da loira molhando seus dedos.
Gabrielle sentia ondas de arrepio. Os bicos dos seios endureciam ao contato das mãos da guerreira. Xena controlava seu impulso de arrancar a roupa da loira. Ainda não era hora, queria a mulher mais excitada, mais entregue, mais desejosa de suas carícias. A proximidade da nudez total da loira excitava Xena. Gabrielle já bem excitada sentia um ardor surpreendente em seu sexo.  A Barda sentiu quando as mãos antes delicadas agora agarravam rudemente sua saia puxando-a para baixo, mostrando seus pelos já molhados de desejo. Xena se sentiu gratificada por ver que a loira também estava tão excitada quanto ela. Beijava Gabrielle com ardor, seu corpo forte transpirava desejo, sentia seu sexo quente pulsando, cada vez mais molhada, não tinha mais nenhum pensamento a não ser possuir aquela linda criatura que agora estava em seus braços.
A guerreira tirou as roupas apressadamente, deixando claro que já estava bem excitada. Xena deitou-se sobre a Barda, pressionando seu corpo forte, contra aquela pele macia e quente. Continuava acariciando, examinando delicadamente o corpo sob o seu, passava a língua vagarosamente pelos bicos dos seios que já estavam duros, sugando-os prazerosamente. A cada carícia, Gabrielle gemia baixinho, suspirando. Xena foi descendo as carícias pelo ventre, sentindo a pele arrepiada de sua parceira na ponta da língua. Avidamente já procurava aquele lugar quente, úmido, escondido, onde estava brotando o néctar dos deuses.
Afastando as pernas de Gabrielle, Xena deita-se entre elas sem deixar de acariciar seu próprio sexo.
- Huuumm..., Xena..., gostoso... - Gabrielle gemia. - Esses pequenos sussurros enlouqueciam ainda mais a guerreira. Sua boca e língua em contato com aquela carne quente, macia, pulsante provocava ondas em seu interior. Via o quadril da loira se mover; se agarrando aos seus cabelos o corpo da pequena se arqueava, estava totalmente entregue a ela. Não teve mais dúvida, introduziu alguns dedos na gruta sedosa de sua amada ao mesmo tempo que sugava aquele néctar que brotava de suas entranhas.
A leve sensação de ardência e desconforto logo que Xena rompeu sua virgindade persistiu por mais algum tempo, mas o prazer era maior, ela estava entregando seu corpo e alma a sua amada princesa.
- OOHHHHH... - gritava Gabrielle, pressionando a cabeça de Xena contra suas carnes molhadas, seu quadril se mexia freneticamente, sem controle.
- Mais fundo..., não para..., Ahhhh... - Gemia Gabrielle. - Os dedos da guerreira se moviam no mesmo ritmo do prazer da loira. A guerreira também gemia de prazer de ver o orgasmo de sua amada. Rapidamente se levantou sem retirar os dedos daquela gruta de prazer e deitou-se sobre a loira, esfregando seu sexo contra os pelos encharcados da Barda, aquele contato firme contra seu clitóris inchado de prazer fez com que o clímax chegasse para as duas igualmente. Os corpos se uniram numa sensação inigualável, num abraço forte e num beijo violento e profundo. Mergulhando as duas num estado de êxtase total, o tempo estancou; um cansaço reconfortante e incomparavelmente maravilhoso caiu sobre ambas. Xena deitando-se de lado deu um profundo suspiro, beijou a franja molhada de suor de Gabrielle e aninhou a pequena mulher, a sua mulher, em seu peito.
Xena com olhos fechados acariciando os sedosos cabelos de sua Gabrielle sorriu feliz. - Agora vamos dormir, temos que acordar bem cedo amanhã. - Beijou carinhosamente a Barda.
- Xena... - Murmura a Barda após um suspiro.
- Huumm. - A guerreira responde.
- Eu te amo.
Xena abraçou mais apertado a mulher, aconchegando-a ainda mais ao seu corpo. – Você é minha vida Gabrielle, eu também te amo. - Adormeceram abraçadas, o sono tranquilo das amantes.
...........................................
Quando os primeiros raios da manhã apareciam entre as árvores e a névoa orvalhada ainda cobria as folhas, Xena e Gabrielle já despertavam.
- Dormiu bem? - Xena pergunta.
- Maravilhosamente bem. - Responde a loira se espreguiçando dengosamente nos braços da guerreira. - E você?
- Como se estivesse nos Campos Elíseos. - Xena responde sorrindo.
Gabrielle se debruça sobre Xena e fica admirando o rosto da mulher. Acaricia a face da guerreira ternamente. Xena sente o suave toque de sua amada.
Xena não sabia como podia existir uma criatura tão doce e maravilhosa quanto aquela. Enquanto olhava aqueles olhos verdes esmeralda pensava em como era abençoada pelos deuses por essa jovem ter entrado na sua vida. Ela se tornara a sua razão de viver. Beijou delicadamente os lábios da sua Barda. Um beijo suave e carinhoso.
Gabrielle observava Xena se vestir. Logo que terminassem o desjejum prosseguiriam viagem; se puseram a arrumar seus pertences. A loira pega a espada da guerreira, se surpreendendo como Xena manejava com tanta destreza e rapidez uma arma pesada como aquela. Ensaia uns golpes desajeitados, mas o peso da espada dificulta seus movimentos. A espada fica presa no tronco que a loira desafiava como um oponente. Xena se aproxima, toma a espada e repreende Gabrielle.
- Isso não é brinquedo. - Diz enquanto guarda a espada na bainha às suas costas.
Gabrielle desconcertada diz: - Você tem que me ensinar a manejar a espada, assim eu vou poder te ajudar a se defender.
Xena se atenta para a inocência de Gabrielle. - Não confunda defender-se com o uso de uma arma. Quando você puxa uma espada, você tem que estar pronta para matar. - Diz a guerreira.
Gabrielle se surpreende com a rispidez de Xena. - Vem, vamos à cidade mais próxima comprar manta e cobertor para você. - Diz a guerreira desconversando.
Com um sorriso malicioso a loira diz: - Você não gostou de ontem à noite?
Xena responde ao sorriso com outro mais malicioso mordiscando o lábio: - Foi a melhor noite que tive em minha vida, podemos repetir hoje também. - Os olhares se encontram com um brilho de desejo começando a surgir. – Mas antes temos que providenciar coisas para você. - Diz a guerreira.
Gabrielle se acomoda na garupa de Argo e partem. - Vamos para onde? - Pergunta a loira.
- Corinto. - Xena responde.

........... Entre o medo e a confiança.

Durante a viagem as lembranças atormentavam Gabrielle. Por fim não se contendo mais ela questiona Xena.
 - Por que temos que ir para Corinto? Não podíamos ir para outra cidade?
Xena percebe medo na voz da Barda: - Primeiro por que é cidade mais próxima, depois por que precisamos de mantimentos e cobertores e Argo está precisando de ferraduras novas. - Ela responde.
A desagradável experiência por que passara algum tempo atrás ainda queimava em sua memória; a loira insiste: - Mas... e se... - Xena interrompe a frase. - Não se preocupe, ficaremos apenas um dia.
Cavalgando vagarosamente, entram na cidade. Gabrielle observava as pessoas, habitações, lojas de ferreiros, mercados. Agora estava tendo oportunidade de apreciar o lugar. A cidade exalava prosperidade e riqueza, em cada recanto podia se notar a suntuosidade da arquitetura. Na praça central da cidade havia um local de banhos. Não uma banheira pequena, mas um prédio muito grande com colunas sustentando a arcada da entrada principal, com dizeres em relevo no frontão triangular, algumas colunas realçam a grande entrada. Um grande buraco numa pedra, cheio de água quente que vinha das fontes subterrâneas, distribuía água para as várias piscinas que existiam no local.
Gabrielle viu maravilhada o prédio extraordinário e se animou: - Xena seria ótimo um banho quente. Estamos empoeiradas da estrada e depois iríamos fazer compras. O que você acha?
- Hum, não sei..., aqui é uma casa de banhos públicos, não me agrada a ideia de você ficar nua na frente de estranhos. - Xena responde com tom sério.
A loira a princípio se surpreende, mas insiste: - Ora, mas você também vai ficar nua.
- Ah, mas é diferente... - A frase da guerreira é interrompida.
- Aaahh quer dizer que eu não posso, mas você pode? ... Ah vamos, por favor... - Insiste a loira com voz dengosa.
Xena cede ao desejo de Gabrielle. - Está certo, mas primeiro vamos procurar um ferreiro. - Diz a guerreira.
 As mulheres descem do cavalo e se dirigem a um ferreiro. Xena deixa Argo aos cuidados do homem com a promessa de vir buscá-lo após duas horas e depois se encaminham para a casa de banhos. A guerreira escolhe o salão mais privado possível; se despem e entram. Eram apenas as duas na grande câmara. Xena acomodou-se onde a água jorrava de uma caneleta na pedra, deixando cascatear sobre os cabelos compridos e ficou ali imóvel, mas com os sentidos alertas e a espada e o Chakram sempre ao alcance das mãos.
A água quente por toda pele nua deu uma maravilhosa sensação de relaxamento que é aproveitado por ambas. Após o longo banho, já refeitas, se vestem e se encaminham para o mercado.
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O comerciante passa em frente à casa de banhos exatamente quando Gabrielle e Xena saíam. Instintivamente ele coloca a mão sobre o tapa-olho que agora usava para esconder o olho esquerdo que ficara cego devido aos violentos golpes desferidos pela guerreira. As recordações fazem o ódio ferver o sangue do homem.
A loira se encanta com as sandálias, peles, tecidos e adornos expostos nas barracas enquanto Xena compra os mantimentos.
O homem as observa à distância numa luxuosa liteira carregada por escravos. - Nada é mais doce que a vingança. - Murmura para si mesmo.
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Corinto é uma cidade que abriga uma variada população. O intenso tráfego de civis e soldados, as luxuosas liteiras carregadas por escravos conduzindo os nobres ou suas mulheres, autoridades militares em suas montarias, luxuosos e imponentes prédios; a cidade era bem organizada, todas as ruas se ramificavam em acessos a todas as ruas largas e estas por sua vez desembocavam na praça central da cidade. Mas à medida que se afastava, a distante periferia abrigava à população que era considerada a escória de toda cidade. Ladrões, prostitutas, assassinos, mercenários, aleijados e doentes; e nesse ambiente de degradados, por um punhado de Dinares se contratavam assassinos.
Alguns minutos antes da meia noite, o criado entra na taberna e se dirige ao balcão procurando informações onde encontrar um determinado homem, um conhecido assassino. É apontado um homem gigantesco que envolto numa capa de lã preta bebia apoiado num pilar de canto no fundo do recinto. Engolia a bebida em grandes goles, deixando escorrer pelos cantos da boca, molhando a barba.
O criado se aproxima do homem e pergunta temeroso: - Seu nome é Urbba?
Com um olhar penetrante o homem responde: - Quem quer saber?
- Meu senhor deseja contratar seus serviços. - Diz o criado.
- E quem é o seu senhor? - Pergunta o homem.
- Um rico comerciante da cidade, seus serviços serão muito bem pagos. - Responde o criado.
- Onde posso encontrar esse homem?
- Ele o aguarda em outro local, é só me acompanhar. - Diz o criado em seguida sendo acompanhado pelo gigantesco homem.
O comerciante estava contente com a chegada do homem tenebroso. Era carrancudo, tinha cabelos ensebados de cor negra, uma comprida barba trançada, malévolos olhos azuis acinzentados e um aspecto peçonhento e sujo. Seus braços e pernas pareciam toras de madeira de tanta rigidez e andava esbarrando nas pessoas com trancos violentos sem se importar com nada. Uma espada presa ao cinto e um machado preso às costas. O serviço estava contratado, metade paga imediatamente e o restante quando Xena estivesse morta.
Urbba recebe as informações necessárias e se dirige para o trajeto da vítima. Nenhum tom cinza ainda surgira no céu. Está frio, mas isso não parece incomodar o gigantesco vulto que caminha pelas sombras da cidade adormecida. A essa hora da madrugada as ruas estão desertas. Urbba para próximo a uma esquina de acesso a uma das vielas. Escondido nas sombras de um beco próximo, ele observa e aguarda. Esperou ali pacientemente até uma faixa cinza clarear o horizonte. Ouviu vozes na hospedaria, minutos depois duas mulheres saem se dirigindo ao estábulo próximo.
Era a hora. O cinza da borda do mundo clareou. Uma estocada profunda com a espada será suficiente. Ele se aproxima sorrateiramente por trás das duas e golpeia a mulher alta. Ele sente o impacto do golpe subir pelo seu braço enquanto a ponta penetrava e cortava o couro da bolsa da guerreira que com agilidade felina, usou para se proteger do ataque e chuta o homem com brutalidade, tentando atingir sua virilha, mas o golpe foi aparado com firmeza.
Gabrielle se assusta com o grito de Xena: - CORRE PARA O ESTÁBULO! - Gabrielle está aturdida. - VAI! - Grita a guerreira tentando tirar a loira do torpor. A loira obedece.
Urbba tenta mais várias estocadas, mas todas são defendidas com agilidade. Xena desembainha a espada e revida os golpes violentos do assassino. A força do homem era uma coisa colossal; os músculos da guerreira ressentiam a cada golpe defendido, era como se estivesse sendo atingida pelo martelo de Hefesto.
As espadas se chocavam com tanta força, que por vezes podia se ver faíscas saindo das lâminas. Algumas vezes se aproximavam num contato de corpos, que eram imediatamente separados por socos ou chutes. Numa aproximação ela sente o mau hálito do homem que berra:
- Depois de matar você, vou violentar sua amiga, rasgá-la! Vou estripá-la sem piedade.
As estocadas mortais eram defendidas com agilidade.  Num rápido movimento girando a espada, Urbba deu um corte no braço de Xena, próximo ao ombro esquerdo. A guerreira sentiu o sangue escorrer pelo braço. Houve uma rápida separação dos lutadores como se estivessem se avaliando. Os olhares de ambos faiscavam de puro ódio. Xena sentiu a besta negra emergir de suas entranhas com uma fúria descomunal. Xena atacou e atacou. A força da grega tinha se multiplicado inexplicavelmente. Ela atacava sem dar qualquer chance de revide, empurrando o homem contra a parede de uma casa; Xena aplica um veloz golpe rasteiro nas pernas de Urbba derrubando-o. Ainda no chão num rápido golpe ele corta Xena acima do joelho, fazendo o sangue quente da guerreira escorrer pela bota. Ele se levanta com uma agilidade espantosa para um homem daquele tamanho. Em seguida ele tenta acertar o tornozelo da guerreira que pula escapando do golpe e seus pés atingem o rosto e o peito de Urbba ao mesmo tempo em que crava a espada na perna do homem. O gigante barbudo solta um grito pavoroso se retorcendo de dor. Com outro rápido giro da espada a guerreira corta o dorso da mão do homem que solta a espada.
Tamanha eram a força e a fúria do homem, que com um rugido Urbba se atira contra Xena gritando em desafio, desta vez empunhando o grande machado, girando sua lâmina gigantesca, disposto a acabar definitivamente com a luta, tentando derrubar a guerreira com peso e força bruta. Xena salta para trás um segundo antes do machado girar onde suas pernas estavam. Ela estoca a espada para frente acertando o homem no ombro, mas o gigante pareceu não sentir o golpe.  O grosso colete de couro impediu que a estocada fosse profunda.
Urbba gira o machado para cima tentando estripar Xena do ventre ao peito. Com os sentidos completamente ligados na luta, a guerreira com um salto e cambalhota no ar, voou por cima do homem, caindo com os pés nas suas costas, derrubando-o e o golpeou uma, duas vezes, ambas com golpes poderosos usando as duas mãos e toda força que ainda tinha. A lâmina rasgou profundamente o braço acima da dobra do cotovelo. O braço que segurava o machado baixou, tendo toda sua força roubada. Havia sangue na barba do gigante e então ele soube que ia morrer, mas não desistiu. Viu a morte chegando e lutou contra ela, trocando o machado para a mão ferida, tentando acertar Xena.
O sol já vinha empurrando a escuridão quando Xena o golpeou sem piedade no pescoço. Ele cambaleou com o sangue escorrendo pelo peito e ombro; olhou a guerreira incrédulo, enquanto tentava ficar de pé.
Ele caiu de joelhos, ainda olhando a mulher. Tentou falar, mas nada saiu e a guerreira lhe dá o golpe de misericórdia. Ele ainda não tinha morrido, mas estava morrendo, porque o último golpe tinha entrado fundo no pescoço do homem. Então Urbba estremeceu e se ouviu um ruído rouco borbulhando em sua garganta, como um último suspiro.
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Xena vai para o estábulo e depara com Gabrielle apavorada ao ver seu estado. O sangue escorrendo pelos ferimentos e vários hematomas.
- Pelos deuses..., quem era aquele homem? - Pergunta a Barda.
- Um assassino contratado. - Xena responde.
- Mas, por quê? Será que...? Mas não vimos aquele monstro miserável! - Diz a Barda se referindo ao comerciante.
- Mas com certeza fomos vistas. - Responde a guerreira.
A guerreira resmunga, enquanto se apoia no ombro da loira e pula apoiada em só uma perna.  Um gemido de dor e Xena se acomoda sobre um monte de feno.
-  Aaaiii, cuidado aí. - Reclama Xena, olhando para o corte no braço.
- Desculpe..., é que eu não tenho prática com isso. Temos que cuidar disso rápido, você perdeu muito sangue. - Diz a Barda enquanto examina os ferimentos que não são graves, mas são profundos.
Quase num sussurro Xena diz: - Eu só preciso descansar um pouco.
Gabrielle corre na hospedaria e volta com um balde com água e panos limpos. Tira a armadura da guerreira, a roupa de couro, braçadeiras, munhequeiras e botas. Deixando-a seminua. Joga tudo no chão, pois estão sujas de sangue. Sente o olhar de Xena acompanhando cada movimento seu.
Encharcando o pano a loira vai delicadamente limpando o corpo da guerreira, a água vai aos poucos se tingindo de vermelho enquanto sua pele vai se limpando do sangue. A Barda lava cuidadosamente o rosto de Xena, a mancha arroxeada na bochecha próxima ao olho direito agora se acentua e o lábio para de sangrar. Alguns hematomas nas costas e no abdome mostravam a ferocidade da luta.
- Ali na bolsa tem unguento. Ajuda cicatrizar mais rápido. - Diz Xena apontando para a bolsa cortada por Urbba.
Gabrielle seca a pele de Xena, passa unguento nos ferimentos e enfaixa cuidadosamente, mas com firmeza os lugares atingidos. Os olhos azuis encaram Gabrielle como se quisessem dizer algo.
- O que foi? - Pergunta a loira, sentindo que algo incomodava sua amada.
Xena abaixa a cabeça pensativa e depois encara a Barda. Após um profundo suspiro ela diz: - Está vendo o que eu quis lhe dizer quanto a me acompanhar? Nossa vida será assim, de perigos constantes, violência, lutas para sobreviver...  Isso não é vida para você. Eu nunca me perdoaria se te acontecesse algo... Eu cometi um erro..., seria melhor que você voltasse... - A frase de Xena é interrompida.
- Ssshhiii, não diga isso..., eu estou aqui por que quero... Quero viver com você, quero te acompanhar por onde você for. - Diz a Barda colocando os dedos sobre os lábios da guerreira e continua: - Te amo e vou te amar para sempre e se você diz para alguém que vai amá-lo para sempre, isso significa para sempre, ouviu?!
Ensaiando um sorriso a guerreira responde: - Eu também te amo e vou te amar para sempre.
Xena deita-se sobre o feno sempre com a espada e o Chakram ao alcance das mãos; seu descanso é vigiado por Gabrielle.
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Após algum tempo Xena levanta e se veste, embainha a espada e prende o Chakram na cintura. Com voz determinada ela ordena a Gabrielle. - Fique aqui, tenho que fazer uma “visita”!
- Não Xena, por favor, não vá, você está muito machucada! - Suplica a loira.
- Você vai ficar aqui como estou mandando. - Com um tom de voz firme, encarou Gabrielle com um olhar selvagem e frio, que assustou a pequena mulher, deixando-a sem ação. Nesse instante a Barda percebeu que não deveria desobedecer a ordem.
Xena se aproxima de Argo e acariciando o focinho do animal, cochicha algumas palavras em seu ouvido. Imediatamente como se tivesse entendido cada palavra, o cavalo bufa, relincha e bate com as patas no chão.
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Xena corre, toma impulso e com um salto e uma cambalhota em pleno ar pula para a varanda do suntuoso sobrado. Com os sentidos alertas, ela ouve os sons na cozinha; os criados iniciando suas tarefas diárias. Ela pula a janela cuja proteção é apenas uma leve cortina de algodão branco que balança ao sabor de uma brisa matinal.
Na larga cama o homem é acordado com um metal frio pressionando sua garganta. Os olhos azuis da guerreira faiscavam de raiva. Ele tenta falar, mas Xena põe um dedo nos lábios recomendando silêncio.
- Vim lhe entregar isso! - Diz a guerreira cravando o machado de Urbba na cabeceira da cama a poucos centímetros da cabeça do comerciante. - Seu assassino não foi bem sucedido como pode ver.
O homem não se mexia tamanho o pavor que gelava seu sangue.
- Esqueça-nos e não se atreva a tocar em ninguém da família da Barda... E eu prometo que não vou cortar sua garganta. - Ameaça a guerreira.
Xena se afasta e vira-se lentamente se dirigindo para janela, de repente o homem grita: - ACUDAM, ACUDAM TODOS, SOCORRO!
Com a rapidez de um raio a guerreira se volta e pressiona dois pontos no pescoço do comerciante que imediatamente começa a sufocar, as veias do pescoço estufam como se fossem explodir, o nariz sangra e ele começa a arroxear, tenta inutilmente respirar, cai ajoelhado com os olhos esbugalhados.
- Eu só disse que não ia cortar sua garganta! - Diz a guerreira e salta a janela, deixando o homem se debatendo em seus últimos segundos de vida.
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Xena retorna ao estábulo e enquanto arrumava Argo, percebe que Gabrielle estava inquieta.
- Que foi alguma coisa errada? - Pergunta a guerreira.
A loira hesita: - Você..., você...
Sem encarar Gabrielle, Xena interrompe: - Eu não cortei a garganta dele se quer saber.
- Mas... - Novamente a loira é interrompida.
- Está tudo resolvido, vamos esquecer esse assunto! - Xena responde com impaciência.
A Barda olha Xena desconfiada. No pouco tempo que se conheciam, Gabrielle já reconhecia os sinais quando um assunto desagradava a guerreira e um levantar de sobrancelha era sinal que a insistência da loira estava se tornando irritante.
- Xena... - Diz a loira.
- O que foi agora! - Responde a guerreira com rispidez, virando-se e encarando Gabrielle com seriedade.
- Antes de sair você falou com o Argo como se ele fosse uma pessoa. O que você disse a ele? - Pergunta a loira.
Xena dá um pequeno sorriso com certo alívio e responde: - Nada demais.
Gabrielle insiste curiosa: - Ah me diz, por favor.
- Eu disse..., que se ele protegesse o meu amor, ganharia umas maçãs. - Xena responde sem jeito.
A Barda abre um belo sorriso e num ímpeto de alegria Gabrielle abraça a guerreira com toda força que seus braços podem ter.
- Aaarrhhh... - Xena solta um gemido de dor, assustando a loira que se afasta imediatamente.
- Ai meu Zeus..., me desculpe! Eu esqueci. - Disse a loira.
- Não foi nada..., tudo bem. - Xena respira fundo se recuperando da dor. - Vamos ter que esperar mais um pouco para “comemorar”, mas depois...
- Xena..., você mal está se aguentando em pé, nem pense nisso. - Diz a loira, embora estivesse intimamente desejosa de uma rapidíssima recuperação de sua amada.
- É, mas beijar eu posso. - Diz Xena abrindo um lindo sorriso.
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Gabrielle e Xena tomam o rumo da saída da cidade e voltam para estrada em direção a uma vida de aventuras, juntas como duas almas que se amam e sentem que estarão unidas por toda eternidade. Enquanto cavalgavam Gabrielle pensava que as três Moiras fazem a nossa vida e nós somos seus joguetes e mesmo achando que fazemos escolhas, todo o nosso destino está nos fios das fiandeiras.
Pensava que a vida era feita de fios que se entrelaçavam; nas pessoas que conheceu e que mesmo separadas faziam parte de sua vida.
- Hum..., isso seria um bom começo de estória. - Resmunga a loira.
- O que você disse? - Pergunta a guerreira.
- Hein?... Não, nada..., estava só pensando alto.
E isso foi o início de tudo.

FIM



Notas Finais
Atenção: Esta fict também se encontra publicada no Nyah (Alba Diniz) e no Spirit (ALBANIZ), portanto não se trata de plágio, eu sou a própria.




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