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GLÓRIA E TRADIÇÃO

DECLARAÇÃO

Esta fanfiction foi feita apenas como mero entretenimento, não querendo ferir direitos autorais. As personagens, Lívia e Varia são usadas aqui, sem intenção de infringir as leis de copyright.

Autora: Alba Diniz

Agradecimento especial: Flávia C. Silva


 

Glória e Tradição – 1ª parte

CAPÍTULO 1


Logo nos primeiros raios da manhã, quando a leve névoa ainda cobria as pastagens e florestas, as pequenas Éris e Rhéia acordavam junto com as amazonas e se punham a cantarolar sentadas na cama que dividiam, enquanto penteavam os cabelos ruivos e assim que terminavam a tarefa de pentear os cabelos, corriam até o lado de fora da cabana, onde as gêmeas aspiravam o ar puro e frio da manhã.

Somente depois corriam para dentro da cabana em resposta ao chamado das mulheres. As irmãs punham-se a comer apressadamente seus mingaus e pães quentinhos. Quando as gêmeas, então com oito anos, saíam corriam para encontrar outras crianças da mesma faixa de idade, tudo que se podia ver eram aquelas várias criaturinhas correndo e gritando felizes pela aldeia. Em pouco tempo, porém, voltavam sujas por terem rolado na terra, com os cabelos novamente embaraçados, com algumas folhas de gramas agarrados neles, ou arranhadas, resultado das brincadeiras com os cachorros e os amigos.

Quando as via assim Tylapa, a segunda em comando na aldeia amazona tinha receio que tanta energia infantil incomodasse a rainha. Por isso muitas vezes as repreendia, mas de nada adiantava, eram meninas mais ativas que as demais.

Varia assistia a gritaria e correria das crianças com satisfação, ria e se divertia com a inocência das meninas. A rainha sabia que a criação das meninas da tribo era de grande responsabilidade, por isso a tarefa da educação era dividida entre as amazonas mais experientes. Todas as meninas tinham aulas sobre combate, luta, manejo de espadas, lanças, bastão, cavalos e arcos.

A única hora do dia em que as crianças se aquietavam era quando a boa e paciente Arduína, mulher forte e sábia que era de vital importância na educação das crianças, sentava-se numa pedra embaixo de uma frondosa árvore para ensinar-lhes as histórias sobre a tradição amazona que eram passadas de geração em geração.

 Às vezes achava difícil prender suas atenções e também responder às perguntas cada vez mais numerosas. Curiosas e ativas, elas gostavam de contar histórias típicas de criança à velha mulher, que ria divertindo-se com as suas inocências.

Parada no último degrau da escada que levava à entrada de sua grande cabana real, erguida sobre um platô natural existente na planície, que dava uma visão privilegiada de toda vasta área da aldeia, Varia conseguia avistar não só as crianças brincando, encenando lutas e batalhas com espadas de madeira e as cabanas, como via além das paliçadas o arredor verdejante pontilhado por seu pequeno rebanhos de ovelhas. Aquela era uma primavera fértil.  Varia tinha orgulho de admitir que sua aldeia era bem construída e organizada. Rampas de terra protegiam a paliçada feita com troncos de árvores e pedras socadas. Quem olhasse de fora a fortificação, não imaginaria que fosse tão próspera e antiga. A tradição amazona dizia que toda a fortificação descendia de um povo conquistador, esse povo desconhecido havia desaparecido misteriosamente a centenas de anos atrás. A ocupação, porém era muito mais antiga, tinha relação com o aparecimento da nação amazona, da primeira rainha amazona, a lendária Cyane, reverenciada com todas as honrarias dignas de uma grande líder guerreira. Varia sentia que pisava em solo antigo e que, portanto era um solo de forte tradição e que deveria ser mantido a todo custo.

Varia respirou fundo e soltou o ar sem pressa. Olhou novamente para o horizonte, receosa de ver despontar centenas de romanos tentando invadir e destruir toda aldeia. Toda essa terra era o portal de entrada para conquista do sul, e pelo que se sabia os romanos avançavam pelo território cada vez mais sedentos de conquistas, espólios e escravos. Nada impedia sua ganância de conquistar, destruir e escravizar populações e a sua tribo estava bem no portal de entrada para a conquista de toda região. Tal fato enchia Varia de profunda apreensão.

Do alto ela avista duas amazonas se aproximando a galope pela entrada da aldeia. Entram e se dirigem a cabana real. A cena desviou seus pensamentos de apreensão.

- Minha rainha... – Era Tylapa.

- Sim? O que foi Tylapa?

- Minha rainha. – continuou. – As batedoras retornaram com informações sobre os romanos!

As duas amazonas descem dos cavalos que estão cansados e suados; entregam as rédeas as outras amazonas que os levam imediatamente para o estábulo para beberem água e descansarem. Varia desce os degraus e se dirige as duas mulheres, que inclinam ligeiramente a cabeça em reverência a rainha.

- Minha rainha, os romanos estão acampados após a segunda colina próximos ao rio.

- Quantos são? – Perguntou Varia.

- Talvez uns trezentos homens. Mas o acampamento está mais agitado do que o de costume, boa coisa não é. – Informa uma das mulheres. - Não conseguimos identificar o estandarte.

- Tylapa, reúna as chefes guerreiras no salão de armas, convoque uma reunião com urgência! – Ordenou a rainha.

- Sim minha rainha. – Diz Tylapa. – As três mulheres reverenciam a rainha e se afastam.

Varia subiu a escada apressadamente de dois em dois degraus, e instalou-se na cadeira alta na cabeceira da mesa de madeira rústica, aguardando as guerreiras convocadas e que não tardaram a chegar quase todas juntas. Instalaram-se em volta da mesa.

- Acabei de ser informada que os romanos estão acampados a três dias de distância. Temos que nos preparar para a batalha. – A voz de Varia tinha uma tensão firme de preocupação. – Temos que tirar as crianças e as mulheres velhas da aldeia. Aqui serão apenas mais escravos ou baixa de guerra. – Tylapa, você vai levá-las para a aldeia de Melosa, convoque mais algumas mulheres e partam amanhã antes do sol raiar.

- Mas minha rainha, eu serei mais útil aqui, as crianças e as mulheres podem ser levadas por outra amazona..., Cyssin é uma guerreira valente, responsável, ela poderá levar todas em segurança. – Protestou Tylapa.

Varia se recostou na cadeira, apoiou o cotovelo no braço da cadeira, coçou a testa; por segundos se fez um pesado silêncio. – Está bem. – Concordou. – Que ela esteja pronta para partir antes do dia raiar, veja que algumas amazonas a acompanhe, quero todas elas protegidas longe daqui.

- Mislina, quantas guerreiras temos prontas para lutar? - Perguntou Varia se dirigindo a outra amazona.

- Na última guerra tivemos muitas baixas. Em condições de lutar temos atualmente umas cento e trinta guerreiras, e umas cinquenta na fase de treinamento, mas que estão dispostas a darem suas vidas defendendo a aldeia.

Apoiando o queixo no punho fechado, Varia sentia o coração bater pesado, ao lembrar das cenas das batalhas que travou contra os romanos em outras épocas.

- Não duvido das habilidades das nossas guerreiras, mas eles virão Mislina e serão muito mais destruidores do que foram antes. Estamos em grande desvantagem e nosso tempo está escasso para podermos ter ajuda das outras tribos. Temos que provocar o maior número de baixas neles logo no primeiro ataque, isso nos dará uma maior chance, até chegarem os reforços. – Disse a rainha.

- Eles são quantos? – Perguntou Milla, a guerreira encarregada do treinamento das amazonas com as armas.

- Em torno de trezentos. – Respondeu Varia receosa.

As amazonas se entreolharam assustadas, via-se nitidamente o choque que a notícia causara. Mas Varia não podia esconder esse fato delas, como também não podia deixar que o medo desorganizasse a tribo. Precisava de cada amazona, de cada músculo disponível, de cada fibra de coragem para defender não só a aldeia, mas também para evitar que os romanos ultrapassassem aquela planície. Se eles conseguissem passar por elas estariam com as portas abertas para a invasão de todo território amazona.

Todas as mulheres estavam bem treinadas e algumas se destacavam em funções e armas diversas; todas corajosas guerreiras com total domínio de suas artes e cavalos. Mas eles seriam trezentos homens fortemente armados sedentos de vingança, já que na tentativa de invasão anterior tinham sido derrotados vergonhosamente. Todas as tribos amazonas tinham se unido numa só intenção, expulsar os invasores de suas terras. E agora estavam vindo liderados por um novo comandante. – Quem seria ele? – Pensava. – Se soubesse quem era, talvez conhecesse suas táticas de guerra. – Mas não tinha tempo para pensar nisso agora, tinha que pensar num plano que não permitisse o extermínio das amazonas ou que fossem transformadas em escravas.

- Rainha! – Chamou Tylapa, tirando Varia de suas amargas recordações. – Nós deveríamos pedir ajuda as outras tribos.

- Elas não chegarão a tempo; eles estão muito perto. A tribo mais próxima é a de Velasca que também teve grandes baixas na última batalha. Temos que pensar numa estratégia em que possamos tirar vantagem logo no primeiro ataque. – Disse a rainha. – Talvez assim tenhamos tempo de receber reforços das outras tribos. É o único recurso que temos no momento. - Milla, escolha três guerreiras e nossos cavalos mais velozes, mande-as com mensagens a cada uma das tribos pedindo ajuda, que elas partam imediatamente. – Ordenou.

- Sim minha rainha. – Disse e saiu imediatamente para cumprir a ordem.

A sala emudeceu. O único som que se ouvia era o do vento manso chacoalhando as folhas das árvores do lado de fora.

- Varia. – chamou Tylapa, que era a única amazona que a chamava pelo nome. – Será que Pompeu está vivo?

- Pompeu arrasou cidades e destruiu grande parte da tribo de Velasca – disse a rainha. – Ele não era tão valente, nem destemido quanto seus soldados fizeram questão de espalhar. Era um covarde, que se escondia atrás de sua guarda e de seu exército enquanto eles sangravam por sua carcaça podre. – Continuou a rainha. - Mas ele agora está morto, não merece ser lembrado em nenhuma história e a melhor maneira de fazê-lo pagar por todos os males que cometeu é mandá-lo para o esquecimento.

Mislina ousou perguntar. – Será que os romanos pensam o mesmo minha rainha?

Varia sabia que ela estava certa, o inimigo era uma lembrança vívida na mente das guerreiras que estavam ali na sala. - Não se enganem minhas guerreiras. O inimigo está de volta, no momento imóvel, mas não está morto e com um novo comandante. Eles voltaram com sede de vingança e quando estiverem prontos chegarão a nossa porta arrasando o que virem pelo caminho. – Sentenciou a rainha.

- A senhora está quase amaldiçoando sua própria terra, grande rainha! – Disse Cleon, guerreira encarregada do treinamento das amazonas com os cavalos.

Ao ouvir isso, Varia bateu com o punho fechado na mesa. Colocou-se de pé e pareceu ganhar mais altura, imponente como uma rainha deveria ser. Ela olhou com severidade para a mulher que fazia parte da mesa. A rainha então falou alto com voz irritada: - Eu vi muitas das minhas companheiras morrerem das formas mais terríveis que se possa imaginar no campo de batalha... - O olhar de Varia quase soltava faíscas, seus lábios tremiam de raiva por tamanha insolência. – Nós lutamos e sangramos por essa terra. Essa terra é o nosso legado, uma dádiva deixada por nossas ancestrais, como posso amaldiçoar esse presente? Não existe justificativa em dizer tamanha asneira!

O ar ficou tenso, as amazonas se voltaram para Cleon, censurando-a com os olhares, mas nenhuma palavra foi pronunciada. A amazona envergonhada baixou a cabeça, desculpando-se por ter falado sem medir suas palavras, num momento tão decisivo quanto aquele não tinha porque abalar a credibilidade da rainha.


CAPÍTULO 2

O céu estava avolumado, nuvens escuras traziam uma garoa fria, nada normal para a estação da primavera, um vento estranho nada agradável soprava, batia em seu rosto e açoitava seus cabelos castanhos que mesmo presos no alto da cabeça eram longos o suficiente para esvoaçá-los sobre seu rosto de formato fino. Era uma mulher formosa; suas feições magras, seus lábios finos contrastavam com a dureza de seu olhar; um belo par de olhos azuis, mas frios, cruéis e calculistas. Vestida com sua roupa de montaria; uma placa peitoral prateada marchetada com detalhes de pequenos ramos e folhas protegia seu tórax. Peças de couro sobrepostas sobre uma curta saia iam da cintura até metade de suas coxas e uma capa vermelha presa ao peitoral da armadura pelos ombros por broches em forma de folha. Sua estatura era média, mas seu porte era forte, tinha músculos perfeitamente delineados sob a armadura.

Sua destreza com diversas armas, seu completo domínio sobre sua montaria indicavam que tinha sido treinada pelos mais hábeis instrutores de Roma. Desde cedo ela se destacara com grande habilidade na espada e lança, um porte de guerreira como nunca antes visto nas arenas romanas. Seus movimentos eram rápidos, sistemáticos, e o principal: precisos. Seu golpe era pesado e fatal.

 Lívia tinha todas as habilidades de um bom guerreiro. Sabia se defender e atacar com todas as armas existentes em especial a espada. Sabia identificar falhas e elaborar estratégias. Quando em batalha não existia guerreiro mais impiedoso e hábil que ela. Todos esses predicados a levaram a alcançar o posto de comando das tropas romanas acampadas próximo ao rio.

Montada em seu cavalo negro, do alto da colina ela observava o território, mapeando na memória todas as rotas possíveis para o avanço das tropas sob seu comando. Ela puxa as rédeas, fazendo o cavalo retornar ao acampamento. Entra na tenda e manda chamar seus dois comandados.

 Em um canto da tenda existia um largo divã acolchoado de almofadas vermelhas e uma pequena mesa com um vaso com vinho e outro com água e taças de prata; uma cadeira de encosto alto detalhadamente entalhada e outras duas menores sem encosto do lado oposto da mesa. Dois pequenos castiçais com três velas cada um, colocados nas extremidades da mesa iluminavam o ambiente.  Após poucos minutos entram na tenda dois homens trajando armaduras com o peitoral adornado pela imponente águia que representava o exército romano. Peças de couro se sobrepunham as saias de suas vestimentas. Os elmos, as largas munhequeiras de couro e as botas amarradas até próximo ao joelho compunham o conjunto do uniforme.

Eles retiram os elmos e com o punho direito fechado batem no peito em seguida esticam o braço em saudação a comandante. – Mandou nos chamar senhora? – Disse um dos soldados.

Lívia examinava um mapa em pergaminho aberto sobre a mesa, onde estava desenhada toda região que pretendia invadir e reivindicar como novo território do império romano.

- Senhores..., - Disse sem levantar os olhos do mapa. – Estive examinando o local e tenho certeza que se atacarmos pelo sul e também pelo norte, fazendo duas frentes, iremos dividir suas forças. Quero todo o destacamento pronto, vamos atacá-las daqui a dois dias. Dizia apontando no mapa com um punhal a estratégia a ser seguida.

- Senhora, um batedor informou que existe uma falha na paliçada no lado sul, podemos atacar com menor número de homens, explorando a fraqueza do muro. – Informou um dos soldados.

- Ótimo, então faremos três frentes de ataque..., Quirino, você lidera as forças para o lado sul, leve setenta homens. Telonius você lidera a tropa para o norte e eu vou liderar o ataque frontal. – Lívia determinava, animada com a ideia da guerra. Quero o regimento todo do outro lado em um dia. – Continuou.

- Comandante, construir uma ponte levará muito mais que um dia. – Disse Telonius com um cínico riso de lado.

Lívia levanta os olhos do mapa. - Esse homem a irritava. Ela sentia-se ameaçada por ele. Por vezes ele questionava suas ordens, desafiando-a perante os soldados. Era um bom guerreiro, mas não era confiável. – Pensava, enquanto encarava o homem. - Mande construir duas balsas com capacidade para cinquenta soldados cada, com algumas viagens estaremos a caminho. Do alto da colina vi um lugar aqui próximo onde o rio é bem mais estreito e parece mais raso, não teremos problema em atravessar. O elemento surpresa é fundamental. – Determinou.

- Depois que passarmos o rio, com um dia de caminhada vamos encontrar a primeira tribo amazona, elas não se renderão. – Disse Quirino.

- Então vamos destruí-las e as sobreviventes vender como escravas. - Disse sorrindo a perversa comandante, cravando o punhal no mapa no lugar onde estaria a aldeia amazona.

As balsas forma construídas e zarparam pelo ponto mais estreito do rio, ora carregadas de soldados, ora carregadas de armas e escudos, ora com provisões e cargas, cavalos, carroças e assim aos poucos todo o pelotão levantou acampamento, transpondo o rio. Os romanos agora estavam mais próximos da entrada da planície.

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Montada em seu cavalo, acompanhada de mais uma amazona, Tylapa vistoriava toda paliçada que cercava o acampamento. Contornaram todo lado esquerdo em direção ao sul. No meio do muro ela apontou, mostrando uma abertura. Havia algumas pedras menores caídas no chão e terra solta entre as toras, onde já nasciam algumas plantas.

- Veja, se está com plantas crescidas, é sinal de que faz algum tempo que está assim, veja as raízes como estão grossas... Se sofrermos algum ataque, mesmo com esses muros altos, os romanos conseguirão entrar. Temos que concertar isso imediatamente. – Disse Tylapa.

Nisso uma amazona se aproxima a galope, chamando atenção das duas. – TYLAPA! – Gritou, emparelhando-se as duas guerreiras. – Os romanos ultrapassaram o rio. A rainha está lhe chamando imediatamente!

- Continue com a vistoria. – Ordenou para outra amazona. – Puxando as rédeas, Tylapa partiu a galope acompanhada da outra amazona em direção a área central da aldeia.

O acampamento em pouco tempo ficou em polvorosa. As notícias se espalhavam e não poderiam ser mais reais.

- Milla, coloque guerreiras em toda extensão da cerca e mande batedoras pelas colinas. Quero ser avisada de qualquer movimentação deles. – Ordenou Varia.

- Imediatamente minha rainha. – Disse e saiu para cumprir a ordem.

- Então é verdade que os romanos ultrapassaram o rio! – Disse Tylapa.

- É, eles estarão aqui em três dias no máximo. – Respondeu A rainha.

- Temos problemas na paliçada no lado esquerdo em direção ao sul, temos que reparar imediatamente. – Alertou Tylapa.

Varia ficou surpresa com mais essa má notícia. - Notícias terríveis e preocupantes sempre chegam com pressa. – Pensava. - Mas não tinha como ignorar o fato, teria que reparar essa fraqueza da fortificação. Determinou que algumas amazonas fossem para o local reparar a cerca, não poderiam dar chances aos malditos invasores. Reunidas na cabana real as amazonas discutiam estratégias de guerra, números e armamentos. Mas uma coisa era certa, elas não poderiam abandonar sua posição, o lugar delas era defendendo esta região, mesmo sabendo que não contariam com muita ajuda. É por isso que terão que resistir custe o que custar, se não a nação amazona não sobreviverá. Disso todas tinham certeza.

Varia galopou até o alto da colina, de lá avistava não só a sua aldeia, mas do outro lado, entre as colinas via a outra planície cortada pelo rio, pontilhada de tendas, armas, suprimentos e homens todos esperando uma ordem para atacarem.

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Antes do amanhecer do segundo dia, houve troca das vigias no alto das paliçadas e no portão. As sentinelas naquela madrugada observavam atentamente as colinas, não havia movimentação de homens, nem de animais. Subitamente um barulho de metal se ouviu ao longe.

- Você ouviu aquilo? – Kara apontou para um ponto na planície escura de onde o som partira.

Céssias esforça o olhar, tentando enxergar na escuridão. Havia realmente algo longe meio sem definição. Aos poucos foram se delineando formas humanas às centenas, muitos a pé e outros que pareciam líderes a cavalo. Os romanos começaram a aparecer aos montes enquanto ainda tinham estrelas no céu. Aproximaram-se o máximo possível dos muros, ocultados pela escuridão.

Lívia vinha na linha de frente, ordenando a Quirino que setenta soldados fossem pelo flanco sul, mais cento e vinte sob as ordens de Telonius, atacariam pelo norte e os restantes comandados por ela, invadiriam pela entrada principal. Seus dois comandados obedecendo suas ordens dividiram a tropa e cada um com seu regimento tratou de se posicionar conforme determinado.

Lívia então deu a ordem. Uma flecha de fogo cruzou o céu, era o sinal. Iniciaram o ataque. Começaram a correr enfurecidos, gritando, trazendo o inferno nas costas. Os soldados que atacavam pelo norte e pela frente, lançavam flechas incendiárias por cima das paliçadas, começaram a incendiar as construções de palha e madeira. Lívia e sua tropa investiram contra o portão, enquanto a última parte dos soldados atacou a fraqueza da paliçada no lado esquerdo da direção sul.

Os romanos vinham correndo empunhando suas lanças, espadas e escudos, imediatamente uma chuva de flechas incendiárias caiu sobre a aldeia, enquanto as sentinelas davam o aviso do ataque gritando e batendo em um grande cone de metal, causando alvoroço. Varia e Tylapa correm para a paliçada onde estavam as sentinelas. Lá do alto elas avistaram uma linha imensa de soldados se formando próximo aos muros.

- ARQUEIRAS, TOMEM SUAS POSIÇÕES! – Gritou Tylapa.

Milla correu com seu pelotão de amazonas para junto da paliçada norte, onde por pequenas brechas entre as toras, se viam os romanos correndo furiosos em direção ao muro. Mislina corria com parte das guerreiras para a paliçada sul. Armadas com suas lanças e espadas, elas se sentiam preparadas para a batalha. Milla tinha como missão defender o lado norte e Mislina o lado sul. A primeira leva de romanos correu em direção ao portão grosso de toras ao ser ordenado o ataque. As flechas cruzavam os ares, caindo sobre as cabanas, algumas atingindo as toras das paliçadas e o portão. Tylapa praguejou e mandou que suas guerreiras se posicionassem com os arcos, enquanto ela mesma pegava o seu e se posicionava nos andaimes junto à paliçada. Conseguiram derrubar muitos romanos assim, mas não tinham flechas suficientes para todos aqueles que despontavam na planície.

Varia pulou do andaime e ordenou que Cleon e um grupo de amazonas corressem para o portão para escorá-lo para impedir que se quebrasse. As mulheres se comprimiam contra a madeira, usando o máximo de suas forças enquanto ouviam os berros irados do outro lado, escoravam o portão com pequenos troncos. Vez por outra, um romano achava uma brecha entre as toras do portão e enfiava a espada por ali, acertando alguma amazona. Parecia ter um gigante empurrando do outro lado.

Lívia, que de longe avaliava o ataque, mandou que os soldados cortassem uma árvore próxima e fizessem um aríete. Dessa maneira derrubariam o portão. Os homens derrubaram rapidamente uma árvore e esculpiram uma ponta grotesca numa extremidade. Jogaram-no sobre uma pequena carroça e atearam fogo no monte de folhas e capins que amarraram nele. O aríete improvisado foi jogado com força contra o pesado portão. As mulheres que escoravam o lado de dentro foram surpreendidas com o tranco. A madeira começou a esquentar com o fogo e a fumaça criou uma neblina negra.

Contrariando a ordem de Varia, Tylapa dividiu seu destacamento entre as defesas do portão e a paliçada norte, disparando suas flechas para cima dos romanos acabaram acertando muitos soldados que caíam como sacos de trigo. Mislina estava no alto da paliçada sul e notou que um romano sobre um cavalo ordenou algo aos homens apontando para a paliçada. Ela não acreditava no que via. Devido as pancadas de um pequeno aríete, as pedras recém-postas no lugar da falha do muro do lado sul foram escorrendo devagar, por entre as toras. A terra caia em blocos que se desmanchavam. Assim que os romanos receberam a ordem, se concentraram no monte de pedregulhos e passaram a retirá-los com rapidez.

- O MURO RUIU! – Mislina berrou alto. - O MURO RUIU, PREPAREM-SE PARA O COMBATE CORPO A CORPO!

Varia subiu no andaime da paliçada do lado sul e viu quando os romanos começaram a entrar pela paliçada, algumas toras tinham sido derrubadas, agora já existia um grande buraco. Varia ordenou que algumas amazonas corressem para o local para reforçarem o grupo de Mislina. Cleon, no portão, não tinha outra alternativa senão continuar protegendo a entrada, mas que cairia muito em breve, ela sabia. O barulho agora era ainda mais ensurdecedor. Varia liderava as mulheres que guardavam o portão, procurando encorajá-las. Tylapa e seu grupo insistiam em disparar suas flechas causando baixa nas linhas inimigas. Varia manda uma linha de lanceiras se adiantarem as das arqueiras. As arqueiras e lanceiras continuavam acertando seus alvos com precisão. Pressão sobre o portão. Pressão sobre os corações.

Mislina defendia a paliçada sul com ímpeto selvagem. As guerreiras lutavam no limite de suas forças, os músculos doíam, estavam no auge do cansaço, mas nada parecia diminuir o número de soldados, eles estavam em número muito superior ao das amazonas, que a cada momento se reduziam ainda mais com os combates corpo a corpo. A desordem desta vez tomou conta da paliçada, para desespero de Mislina. Mesmo com a chegada de reforços enviados por Varia, não eram suficiente sequer para dispersar o inimigo.

Pressão sobre o portão. Eram eles empurrando o tronco em chamas no portão. Varia entendia o que via na face de muitas de suas guerreiras. Muitas daquelas jovens nunca tinham estado numa batalha e teriam seu batismo de uma forma muito sangrenta. Sabia que mesmo sendo destemidas, viria a perder muitas amazonas dessa maneira. Varia sentiu os músculos retesarem e apertou com força o cabo da espada. Estariam frente a frente em questão de minutos. Cleon respirava ofegante, sentindo fisgadas no corpo.

A madeira era consumida pelo fogo. Em vários pontos das paliçadas as chamas já consumiam boa parte das defesas. Além da superioridade numérica, o ataque pelos três flancos, deixou as amazonas fragilizadas.

Mais pressão sobre o portão. O frondoso portão de toras não resistiu; o portão de tanto ser forçado e com a madeira fragilizada pelo fogo, despencou. Um enxame de homens furiosos entrou e derrubou tudo no seu caminho, trombando com as mulheres. Lívia a cavalo aproveitou o caos para entrar profundamente na aldeia, passando sua espada sobre cabeças, peitos e costas inimigas. Cleon armada com uma lança acertou em cheio o peito de um romano que acabara de matar uma de suas companheiras. Varia e Cleon derrubaram muitos homens com seu pequeno destacamento. Elas derrubavam os soldados com golpes pesados e faziam uso dos escudos romanos como arma quando vez ou outra a espada escapava-lhes da mão. O som de metais se chocando, os gritos de ódio e dor dos feridos de ambos os lados se misturavam num caos indescritível.

A luta prosseguia, Varia sentia o corpo tenso. Tudo pareceu ficar devagar, ela via o desenho em arco que as espadas faziam no ar. Após derrubar mais um soldado, passou os olhos pelo campo sangrento de batalha em que sua aldeia tinha se transformado, foi quando viu um soldado perfurar o peito de Cleon com a espada. O invasor ria enquanto a lâmina atravessava a vítima. Varia viu a mulher cambalear para trás.

- NÃÃÃOO!!! – Gritou.

Sua força dobrou e tropeçando nos corpos caídos, correu até Cleon, que tombou pesado com a boca cheia de sangue. Um calafrio lhe percorreu a espinha. Voou como um falcão para cima do assassino e o estripou de raiva. Tomada pelo ódio que dilacerava seu coração, Varia gritou:

- SEUS MISERÁVEIS! DESGRAÇADOS! - Ela pegou a espada de Cleon e partiu para luta.

Uma amazona próxima tentou segui-la, mas não conseguiu. Um romano gigantesco enfiou a espada na garganta da mulher, tingindo com sangue quente o rosto de outra amazona que se aproximava. Elas viram a companheira tombar sufocada na terra, as mãos no pescoço.  Com uma agilidade felina, Vária conseguiu driblar o golpe pesado da espada do romano e enfiou a espada na barriga do homem, rasgando-o até metade do peito, fazendo suas vísceras saírem. Cinco soldados vieram atrás dela para agarrá-la e levá-la como escrava e precisou lutar contra todos. Kara veio em seu socorro carregando duas espadas, com as quais decepou algumas cabeças e braços, deixando os corpos se contorcendo como animais no abatedouro. Kara tentava engrossar o grupo das amazonas que defendiam a entrada e que estavam cercadas pelos romanos, quando sentiu uma forte pancada na cabeça e caiu desmaiada. Milla conseguira derrubar muitos homens na paliçada norte e ficou aliviada por alguns segundos antes de ser atropelada pelo cavalo negro da comandante que na selvageria do combate parecia não tê-la visto no caminho.

A luta continuava intensa dentro da aldeia. Os soldados já tinham invadido completamente a área. Metiam os pés nas portas das cabanas. Notaram a ausência de crianças e velhas. Tocaram fogo no que tinha restado das cabanas.

Mislina continuava lutando com o que restou de seu destacamento. Fizeram muitas baixas no inimigo, que eram numerosos como formigas. No entanto, por mais perícia e técnica que tivessem, os invasores eram mais numerosos, vorazes e furiosos. Quando o cerco foi fechado em torno delas, com dezenas de triunfantes romanos gritando felizes pela vitória. Um homem aparece a cavalo abrindo caminho entre os soldados – era Quirino. - Ordenou que juntassem todas as mulheres, mesmo as feridas e as levassem para a área central da aldeia.

Varia assistia seu destacamento ser reduzido a cada minuto que passava, mas continuavam lutando bravamente com o que restou de seu grupo. Céssias traspassou o peito de um romano com sua lança. – Estamos perdidas. – pensava. -  Seus pensamentos foram atrapalhados quando um romano faiscando de raiva veio para cima dela. Vária deu cabo dele girando sua espada no ar rasgando-lhe o peito. O cerco se fechava limitando cada vez mais o espaço para manobras.

Ainda estava longe a hora do por do sol e a única coisa que se via na aldeia eram as cabanas derrubadas e algumas ainda fumegantes. Muitas amazonas jaziam mortas e mutiladas por entre as palhas de telhados espalhadas pelo acampamento; o estábulo totalmente destruído, a cabana real era consumida por labaredas que podiam ser vistas a milha de distância. A rainha e muitas guerreiras ainda lutavam com todas as suas forças, passando os incontáveis inimigos no fio da espada.

Em meio a tantas perdas de vidas importantes, Varia com o canto do olho viu entre as palhas do estábulo, onde jaziam algumas guerreiras brutalmente assassinadas, algo se mexendo. Era Arthia, uma jovem amazona que ainda não tinha vivido os horrores de uma guerra. Cambaleava, mal conseguia se manter de pé. Suas vestes estavam sujas de sangue. Ela estava pálida e em choque, como se estivesse arrancando forças não sabia de onde, a amazona pediu ajuda e desabou nos braços de Varia. Arthia estava com uma perfuração profunda tingindo sua roupa de vermelho.

- Oh, não...! – Varia viu que a jovem fora atingida na altura do fígado e que um sangue escuro saía do ferimento.

Arthia abriu os olhos e viu a rainha tingida de sangue, com o rosto salpicado de gotas de sangue. - A respiração da jovem era entrecortada.

- Minha rainha... – respirou com dor. – Algumas lágrimas penderam do canto dos olhos.  – Então a jovem amazona apertou a mão de Varia e a olhou com firmeza, parecia ter algo importante a dizer:

- Rommmano... at... – sua voz fraquejou. – Arthia respirou fundo uma última vez, o corpo retesou, espirrando sangue pela boca que permaneceu aberta. Seus olhos não se abriram mais, o corpo relaxou.

Antes que pudesse colocar o corpo da jovem no chão, Varia foi surpreendida por uma violenta pancada na cabeça que a derrubou violentamente no chão.  Apenas a silhueta de um homem. Logo sua vista ficou embaçada, os sons da luta distantes, o soldado se distanciando, o ambiente ao seu redor ficando escuro.

As cabanas foram inteiramente destruídas; Lívia observava o fogo consumindo a madeira, enquanto um rolo preto de fumaça subia aos céus.

A comandante estava admirada com a habilidade das guerreiras e de uma em especial. Quando o cerco foi definitivamente fechado em torno delas, Lívia sobre o cavalo abre caminho entre os soldados. Não parecia uma mulher comum, tinha um ar de maldade nos gestos e na fala, músculos rígidos, olhos ferozes.  Suas roupas, rosto e braços sujos de sangue não a incomodavam. Gritou para os soldados que não as matassem. Foram todas desarmadas e reunidas no pátio central da aldeia. Elas deviam ser aprisionadas para que fossem enviadas intocadas a Daneses. Ordenou que matassem todas as mulheres que estivessem seriamente feridas e que juntassem todas as outras para serem avaliadas. Céssias mostrava visivelmente seu desespero, a mão firme agarrada num punhal que tirou da bota. Quando um romano segurou seu braço para levá-la, o punhal foi cravado no meio do peito do soldado. O homem tombou morto gerando raiva nos demais soldados. Um deles lhe deu um soco violento e Céssias foi ao chão. Lívia desceu de sua montaria tranquilamente e se dirigiu ao soldado lhe dando um violento bofetão. Não gostava de ser contrariada. Queria as mulheres intactas e um olho roxo em uma delas podia diminuir seu preço diante dos compradores. Pares de mãos brutais agarraram as mulheres, que com muita relutância, os acompanharam.



CAPÍTULO 3

O dia amanhecera enegrecido, nuvens carregadas despejavam uma forte chuva sobre a região. As mulheres se encolhiam espremidas umas nas outras sob a forte chuva que começara a cair desde a madrugada e não cessava. Céssias, Milla, Tylapa, Mislina, Kara e muitas outras amazonas sobreviventes, se mostravam abatidas pela derrota. Os olhares malévolos, os risos sarcásticos e vez por outra cutucadas com os cabos das lanças, doíam menos do que o duro golpe da escravidão. Varia que fazia parte do grupo capturado acompanhava atentamente com o olhar toda movimentação no acampamento inimigo.

Já tinham se passado oito dias desde a captura das mulheres. A comandante percebia o quanto era perigoso mantê-las ali por muito tempo, os soldados a muito tempo em guerras, não tocavam em mulheres havia tempo. Os homens as admiravam como animais acuados e lambiam os beiços imaginando como seriam macias suas peles. Mas por ordem da comandante, ninguém poderia tocar nelas. Os olhares maldosos de Telonius se concentravam em Varia, o que foi percebido por Lívia, que o observava discretamente.

Telonius era um hábil guerreiro, mas era homem asqueroso, de hálito podre, troncudo, ralos cabelos ensebados de tonalidade de ouro velho na cabeça, de traiçoeiros olhos azuis-acinzentados. O garboso uniforme, não diminuía o seu aspecto peçonhento e sujo. - Esse homem tem me causado muitos problemas, mas já tenho como resolver isso.  Essas mulheres vieram a calhar. – Pensava a comandante, observando-o atentamente.

- Quirino! Leve as mulheres para tomarem banho, quero todas limpas. Amanhã vamos levá-las para Daneses. – Ordenou a comandante.

Os melhores compradores de escravos se concentravam em Daneses, o porto sempre fervilhava com a movimentação dos navios de escravos. Lívia soube que dessa vez viriam comerciantes vindos do Oriente. Mouros e hebreus interessavam-se agora por traços marcantes e diferentes de sua própria cultura, portanto queriam figuras exóticas para compor seus palácios e haréns, que fossem jovens e misteriosas. Como fornecedora procurando atender a demanda do mercado de escravos, ela tinha que fazer contato com os compradores negociando a “mercadoria”, com o maior lucro possível, o que possibilitaria aumentar seu exército.

Lívia olhava para as novas escravas com satisfação e examinava uma por uma, eram fortes, músculos rígidos, ombros largos; selecionava as mulheres que eram amontoadas no cercado improvisado no centro do acampamento romano. Muitas mulheres estavam machucadas pelos abusos dos romanos insanos. Mas tinha uma em especial que chamava atenção da comandante. Era uma bela mulher, tinha um porte altivo e apesar de amarrada pelos pulsos e pescoço, demonstrava que tinha uma fera indomada em suas entranhas prestes a dar o bote. Esse conjunto de fatores e mais a beleza da mulher despertaram a curiosidade de Lívia.

- Aquela mulher é diferente das demais, quem é ela? – Perguntou a comandante, apontando para a rainha.

- É a rainha das amazonas, seu nome é Varia! – Respondeu Quirino.

- Separe-a do grupo e leve para minha tenda. – Ordenou.

- Sim senhora! – Exclamou Quirino.

Após o banho Varia foi levada para a tenda, com os cabelos e vestes ainda encharcados, é amarrada com os braços e pernas abertas em dois pequenos postes fincados dentro da tenda.

Lívia agora estava frente a frente com a rainha das amazonas; com curiosidade analisava cada linha do rosto e do corpo de Varia. A amazona tinha todos os músculos perfeitamente definidos, peitos, abdômen, coxas, nádegas, um corpo escultural, um perfeito conjunto de beleza selvagem. Seus olhos castanhos transmitiam força, liderança; seus lábios perfeitamente desenhados, quase sempre entreabertos mostravam os dentes brancos, seus cabelos negros estavam presos por uma faixa de couro trançado que contornava toda sua cabeça, deixando ver toda beleza daquele lindo rosto. Era evidente que Varia era uma mulher linda e selvagem, coberta apenas por duas peças de roupa, uma que cobria seus seios e outra pequena tanga sobreposta com franjas de couro que realçavam ainda mais seu ventre e coxas. Como consequência da batalha, Varia tinha arranhões profundos nas costas do lado esquerdo e uma mancha roxa na coxa direita.

Daria uma boa escrava, é forte, bela e encantadoramente selvagem. Vai ser um ótimo desafio domar essa fera. – Pensava a romana. – Riu de lado, enquanto andava lentamente rodeando Varia; olhando para todos os detalhes de seu corpo e principalmente para seus olhos, o órgão mais importante de um escravo. Era ele que denunciava o ódio, a revolta, a humilhação. Não gostava especialmente do modo e olhar dessa mulher. A amazona a atraía, talvez o ódio que faiscava de seus olhos, seu ar selvagem... Algo que ela não sabia explicar, uma atração animal que mexia com ela.

Varia estava indefesa, mas não demonstrava medo. Foi então que sentiu a ponta de um punhal lhe percorrer desde o alto da nuca, seguindo o desenho da espinha até os quadris.

- Cuidado rainha! – a voz de Lívia a paralisou.

- Muitos bons negócios meus foram destruídos por uma “certa” amazona desta tribo. Crianças são mercadorias valiosas no mercado de escravos. – Seu tom era sibilante como de uma víbora. – Você não sabe quem é essa amazona, não é?

Silêncio. Varia continuava calada, sem se mover. Ela cerrou os punhos sentindo os dedos apertarem-se com força contra as palmas das mãos.

- Como uma rainha amazona pode ser tão desatenta? – Lívia cochichou perto de seu ouvido.

Como Varia não lhe respondeu, Lívia lhe desferiu uma espetada rápida, mas não profunda na nádega esquerda. Varia assustou-se e contraiu o corpo um pouco a frente, mas não emitiu nenhum som.

Como um tipo de ritual, Lívia lembrava constantemente a amazona a sua condição de escrava. Algumas vezes lhe apalpava o corpo e sussurrava em seu ouvido que torturaria e mataria todas as suas companheiras, se não a tratasse bem, se não cedesse aos seus caprichos. Isso continuou por todos os dias seguintes, período em que os romanos estavam se arrumando e aguardando reforços para a nova investida no território.

De tanto lidar com escravos, a comandante conhecia bem o pensamento deles. Eles são subjugados, calados, humilhados e machucados, mas o orgulho fica sempre ali, à espreita aguardando o momento certo para se vingar dos senhores, por isso achava que precisava lembrá-los constantemente de quem mandava. As amazonas eram mantidas sob forte vigilância, elas sim eram perigosas. Lívia via nelas o orgulho acumulado com o ódio e a destreza de gerações nas mãos hábeis e isso formavam uma mistura inflamável.

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Após um levantamento das baixas que seu exército tinha sofrido. Lívia convoca uma reunião com seus dois subordinados.

- Quirino, mande um soldado entregar essa mensagem a Otávio, - entregando um pergaminho ao homem - precisamos de reforços, tivemos muitas baixas, vamos precisar de mais homens para tomar o território.

- Telonius! – Chamou a comandante. – Vou levar um primeiro grupo de mulheres para o porto de Daneses. Você fica tomando conta do acampamento. Lembre-se, nenhuma mulher deve ser molestada, nem machucada entendido?!

- Sim senhora! – Respondeu o subordinando. – O homem sorriu cinicamente e seus olhos brilharam malévolos.

Lívia montou em seu cavalo e acompanhada de Quirino e mais quarenta soldados seguiram para o porto, escoltando as amazonas para seu destino fatídico.

Telonius esperou que o grupo sumisse na colina e ordenou aos soldados que ficassem atentos as mulheres e quem as incomodasse seria severamente castigado. Dirigiu-se a tenda onde Varia estava presa e ordenou aos sentinelas que não queria ser incomodado. Os homens se entreolharam e riram ao imaginar o que ia acontecer. Telonius caminha até a amazona e por alguns segundos fica apreciando a mulher seminua que está indefesa a sua frente. Varia o olha atenta a seus movimentos, mas está indefesa.

Com a lâmina fria do punhal, Telonius tocou o canto do olho esquerdo de Varia, que continuava a encará-lo firmemente para não demonstrar medo. Tentava assustá-la, ameaçando arrancar seu olho. Telonius tocou o corpo da escrava e com a ponta da lâmina, desenhou uma linha vermelha como um arranhão que lhe percorria a bochecha, pescoço e colo. Varia o excitava. Então de repente ele agarrou a amazona pelos cabelos e segurando-a firmemente pelo queixo, lambeu seus lábios. Para se defender Varia tenta se desviar, mas com os movimentos limitados não pode evitar o contato.

Telonius riu de lado e disse. - Você é combativa, selvagem e eu gosto disso. – Disse o homem, soltando os cabelos e o queixo da amazona. Ele desabotoa o cinturão com a espada e joga em cima da mesa. Varia tenta inutilmente se soltar, mas as cordas foram muito bem amarradas e estão cortando a pele de seus pulsos. Ele ri sarcasticamente, se aproxima e arranca a peça que cobria os seios da amazona. Ele aperta os seios dela com força e abaixa a cabeça a altura deles e começa a chupá-los com força. Varia se debatia, tentando se soltar, mas era inútil, quanto mais força fazia, mais as cordas cortavam sua pele. Não adiantaria gritar, pois ninguém iria socorrê-la. Ela estava totalmente a mercê daquele homem. Ele tentava assustá-la, Telonius gostava disso, não precisaria de muito tempo para dominá-la. Excitava-se com o medo alheio, o que fazia com que se sentisse mais poderoso. Ele então agarrou os cabelos da mulher e lhe forçou um beijo violento. Para se defender, ela mordeu o lábio inferior dele com força. Ele gritou de dor e a empurrou violentamente. Telonius viu seu próprio sangue escorrendo pelo lábio dela.

- SUA CADELA !... – Gritou e deu um violento tapa no rosto de Varia. – Vai aprender a ser uma cadelinha obediente! – dizia enquanto apertava o pescoço da amazona, com a outra mão tentava alcançar as partes íntimas da mulher que se debatia inutilmente, pois tinha também as pernas afastadas e amarradas. – Você vai conhecer o que é um homem romano, sua vadia! – Dizia o homem.

- Eu acho que ela não vai ter essa oportunidade! – Telonius ficou paralisado quando ouviu a voz da comandante e sentiu a ponta de uma lâmina pressionando sua nuca.

- Eu disse que nenhuma delas deveria ser molestada!  - GUARDAS! – Gritou. – Os sentinelas entram na tenda e veem a cena. - Crucifiquem esse desgraçado, que sirva de exemplo para os que me desobedecerem! – ordenou a comandante.

Os guardas se entreolham vacilantes. – VAMOS, EU ESTOU ORDENANDO! – Grita a comandante.

- Eu sou um soldado romano..., vai me condenar por causa dessa vadia? – Disse Telonius.

- Você tem razão..., vire-se bem devagar e pegue a sua espada.

- Comandante... – Disse o homem já olhando Lívia.

- CALE-SE! – Gritou Lívia. – Eu lhe dei uma ordem e você desobedeceu, sabe qual é o castigo não sabe? E eu não gosto de ser desobedecida!

Os dois soldados caminham na direção de Telonius, para levá-lo preso. Quando um dos soldados se posta do seu lado, numa tentativa desesperada de se salvar, ele toma a lança do guarda e a arremessa contra Lívia. Com a rapidez de um raio, ela se esquiva e pula caindo próximo ao homem e num giro do corpo e da espada decepa a cabeça do homem que cai pesadamente no chão se debatendo e ensopando a terra de sangue.

- Você não é mais um soldado romano. – Ironizou. – TIREM ELE DAQUI!! – Ordenou.

Os soldados levam o corpo e a cabeça para fora da tenda.

Lívia guarda a espada e olha para Varia quase totalmente despida, admira seus seios firmes e perfeitos, seu ventre, suas coxas. Vai até o vaso que está na pequena mesa junto ao divã, enche uma taça com água e caminha na direção de Varia. Molha a ponta de sua capa na água da taça e começa a limpar os lábios de Varia que estavam sujos de sangue. A amazona vira o rosto tentando evitar o contato.

- Não seja idiota, só estou querendo limpar seu ferimento! – Disse Lívia.

- Eu não estou ferida, esse sangue não é meu. – Disse Varia rispidamente.

Lívia parou, surpresa pela mulher ter falado com ela. Era a primeira vez que ouvia a voz da amazona. Mesmo que fosse de maneira ríspida. - Varia percebeu a surpresa da comandante. - Lívia tenta novamente limpar os lábios da amazona e ela novamente se esquiva. Lívia para, não insiste, arremessa a taça longe com o resto de água que continha, vira-se e caminha para a mesa. Senta-se e sem dizer nenhuma palavra começa a examinar o mapa da região. O silêncio permanece na tenda, ouvia-se apenas o falatório distante dos soldados.

- Romano miserável! – Murmurou Varia, cuspindo na terra. - Lívia continuava concentrada, estudando o mapa.

Um silêncio mais prolongado. Varia mexia-se inquieta, observando Lívia mais atentamente. De certa forma estava surpresa com a sua reação, afinal ela evitara que fosse estuprada e matara um de seus próprios soldados. Varia estava confusa e desconfiada com a atitude de Lívia, elas eram inimigas mortais, a romana era uma mulher conhecidamente violenta, impiedosa, fria e egoísta, para atingir seus objetivos não hesitaria em sacrificar a própria mãe nem qualquer um dos seus soldados e agora lá estava ela demonstrando atenção com a sua inimiga. – Que mulher estranha. – pensava. - Lívia se remexe na cadeira se recostando, de olhos fechados.

- Porque fez aquilo? – Perguntou Varia.

Lívia abre os olhos e vê a amazona a encarando a distância. – Silêncio.

Após alguns minutos, a amazona repete a pergunta. – Lívia cruza os braços sobre a mesa analisando a mulher. Levanta-se e caminha em direção à prisioneira, apanha o pano que foi arrancado da amazona e se colocando por trás dela, cobre-lhe os seios amarrando com firmeza, deslizando os dedos pelas suas costas, sentindo a maciez de sua pele se arrepiando ao seu toque.

- Porque me defendeu? – Perguntou Varia desconcertada.

- Eu não lhe defendi, estava preservando uma mercadoria valiosa. – Responde Lívia já encarando a mulher. – Eu não gosto de ser desobedecida e Telonius já vinha me causando problemas a tempos. Você serviu de pretexto para resolver o problema. – Disse friamente.

Varia encarava os olhos azuis gelados da comandante. Semanas atrás ela mataria essa romana sem a menor piedade. Ela tinha escravizado suas companheiras, destruído sua tribo. Então por que motivo ela era atenciosa com ela? Isso deixava Varia confusa.

- Onde estão minhas companheiras? – Perguntou Varia.

- Elas estão seguras, ninguém vai machucá-las. – Respondeu Lívia dando as costas e caminhando em direção a mesa.

- Eu quero vê-las. – Exigiu a amazona.

Lívia se vira bruscamente. – VOCÊ “QUER”...? VOCÊ QUER? VOCÊ NÃO PASSA DE UMA ESCRAVA..., VOCÊ NÃO É NADA, NÃO TEM QUERER. ENTENDEU? – Gritou furiosa. - Você vai ser minha escrava particular. – Decretou Lívia.

- Nunca, eu nunca vou ser escrava de ninguém! – Disse Varia desafiando a comandante.

- Ah vai sim! – Lívia corta as cordas que prendiam Varia pelas pernas e com a espada pressionada em seu pescoço, cuidadosamente desamarra os pulsos da amazona dos postes. A mulher abaixa os braços doloridos, massageia os pulsos feridos. Todos os seus músculos doem, os dedos das mãos estão dormentes. Lívia puxa seus braços para trás e volta a amarrá-la, a empurra sem piedade para a entrada da tenda. Varia não reage, está fraca, a dias se recusa a comer ou beber qualquer coisa, presa na tenda da romana. Cambaleia.

- Está vendo “rainha”? – Dizia, apontando com a espada para o grupo de amazonas presas no cercado. – Você é responsável por elas não é? – Continuava, agora sussurrando no ouvido da amazona. – Você vai atender todas as minhas ordens, senão as suas amiguinhas vão pagar pela sua teimosia. A cada desobediência sua uma delas vai ser torturada lentamente, bem na sua frente. Você escolhe “rainha”!

Varia via as mulheres amontoadas no cercado, estavam abatidas. Era triste ver a que sua tribo ficara reduzida. Agora sua aldeia estava tomada, destruída e suas companheiras fortemente amarradas e vigiadas, estava difícil acreditar que tão cedo não sairiam dessa situação.

Restaram apenas cinquenta e seis mulheres, ela tinha o dever de preservá-las. Sua razão falou mais alto que sua revolta. Ela cedeu, abaixando a cabeça enquanto lágrimas brotavam em seus olhos. Esforçando-se para não soluçar, a amazona levanta o rosto e sem encarar Lívia fala:

- Não será preciso machucar nenhuma delas. Serei sua escrava. Mas dê-lhes comida e abrigo. – Disse a amazona.

Lívia riu alto. – Você é uma escrava, não tem condições de exigir nada entendeu? E lembre-se, qualquer passo em falso seu; se tentar escapar elas pagarão por você.  - A comandante estava radiante, finalmente conseguira subjugar a fera.

Lívia mantinha Varia sob sua constante vigilância. Mantinha uma correia de couro presa ao pescoço da amazona, com uma longa corda fina amarrada a seu pulso, de modo que qualquer movimento suspeito seria imediatamente sentido por ela.

- Nós vamos até o rio, quero que você tome um banho, não quero minha escrava cheirando a cavalo suado. Dirigem-se para o rio. – Entre..., se esfregue bem! – Ordena a romana.

Varia vai entrando vagarosamente na água, sentindo um leve arrepio até se acostumar com a temperatura da água,  - Lívia a observa atentamente. - Quando já está com água na altura do joelho, a romana da um leve puxão na corda. – Tire a roupa. – Lívia ordena.

- Não é preciso. – Responde a amazona, sem encará-la.

- TIRE ESSA MALDITA ROUPA! – Grita Lívia irritada.

Varia retorna a margem e tira os trajes, colocando-os numa pedra. Lívia examina o corpo perfeito da amazona, agora completamente nu. A mulher entra novamente na água. Quando está com água a altura da virilha, Lívia em pé junto da margem, segura a corda com firmeza. – Já chega, aí está bom!

Varia se agacha e começa a se banhar. Lívia observa a água descendo pelos seus cabelos, seu rosto, escorrendo pelos seus peitos; ela se levanta ligeiramente para lavar-se melhor, Lívia vê a água vagarosamente escorrendo pelo seu ventre, molhando todos os pelos de seu sexo, suas coxas delineadas, esses movimentos excitavam a romana, que já acompanha o banho da amazona com interesse além do normal.

Após muitos minutos, Lívia da sinal com uma leve puxada na corda. – Já chega. Vista-se. Vamos voltar.

Varia sai da água, Lívia observa a sensualidade de seus movimentos, ela está desejando aquela mulher, a água escorrendo por todo seu corpo, sua pele molhada, arrepiada, mexe com seus instintos. A cena daquela mulher saindo da água queima em seus olhos. À perfeição de suas curvas, a deixam acesa. Sente seu coração bater mais forte. – É uma deusa! – Diz para si mesma.

Caminham de volta para o acampamento, entram na tenda, Lívia desce a lona, fechando a entrada. Isso significava que a comandante estaria descansando, só devendo ser incomodada em caso de extrema necessidade.

Lívia desamarra o pano que cobre os seios da amazona e os acaricia de início com as mãos e depois com a língua. A amazona numa mistura de surpresa e desejo, não reage, parecendo gostar do contato.

Caminham até o divã. - Deite-se. – Ordena Lívia.

Varia deita no divã, com o rosto ligeiramente voltado para a entrada da tenda, evitando olhar para Lívia, enquanto ela acariciava seu corpo, examinando os relevos dos seus seios, ventre, quadris e coxas.

Que sensações são essas que essa mulher me faz sentir? Ela me instiga, me atrai tremendamente. – Pensava Varia.

A amazona tentava inutilmente ficar alheia aos toques daquela mulher, mas não conseguia deixar de sentir as ondas de arrepios que eles causavam na sua pele. Varia sentiu que seu sexo começava a ficar quente e úmido. Os bicos dos seios endureciam ao contato das mãos da romana. Lívia controlava seu impulso de arrancar a tanga da amazona. Ainda não era hora, queria a mulher mais excitada, mais entregue, mais desejosa de suas carícias. A proximidade de sua seminudez excitava Lívia. A romana tirava as roupas apressadamente, deixando claro que já estava bem excitada, sentia um ardor surpreendente entre suas coxas, sentia seu coração bater apressadamente, sua respiração estava ofegante.  A amazona sentiu quando as mãos antes delicadas agora agarravam rudemente sua tanga puxando-a para baixo, mostrando seus pelos já molhados de desejo. Lívia se sentiu gratificada por ver que a amazona também estava tão excitada quanto ela. Afastando as pernas de Varia, Lívia deita-se entre elas sem deixar de acariciar seu próprio clitóris. Varia abraça a romana, agarrando-a num forte abraço, segurando o rosto da mulher entre as mãos, procurando a boca da romana com sofreguidão, passa a língua entre os lábios da mulher, seu coração bate descontrolado. Seu corpo treme de desejo, seus quadris se moviam sobre as almofadas do divã. Repentinamente Varia surpreende Lívia com um giro, virando-se e colocando-a sob seu corpo, agora ela era a dominadora.

Lívia assusta-se com a rapidez com que a amazona a dominou, mas não reage. Varia segura a mulher pelos pulsos enquanto esfrega seus pelos contra o ventre dela. Lívia sente os pelos ásperos e molhados roçando pelas suas coxas, os movimentos de Varia a enlouquecem, ela sente sua vagina se lubrificar intensamente. O líquido escorre de sua entrada. Varia vai descendo lentamente, lambendo cada seio vagarosamente, enquanto olha para Lívia, observando sua reação, a língua passeia pelo ventre, umbigo, virilhas. Circundando as coxas de Lívia com os braços, Varia afasta os pelos e leva a boca aquela taça preciosa, lambendo seu líquido, toda aquela carne rósea mostrava-se inteiramente. Este contato fez Lívia contorcer-se de prazer, fazendo uma série de impulsos com os quadris. Varia enlouquecia com seus gritos e gemidos.

- Ohhhhhhh..., não pare, não pare..., gemia Lívia.

A amazona sentiu que o orgasmo de ambas estava por um fio. Sentia seu sexo palpitando entre suas coxas. Aquele desejo palpitante e aflitivo. Todos os poros de sua pele gritavam pela possessão daquele corpo; e ela não hesitou mais, introduziu os dedos naquela gruta de prazer. Lívia enterra as mãos nos cabelos de Varia pressionando seu clitóris contra a língua da mulher, esfregando-se mais e mais intensamente, as contrações de Lívia deixavam o canal da vagina teso, o ritmo das duas começou a aparecer, os corpos se mexiam em cadência. Varia sentia a pressão nas suas veias palpitando ameaçando estourar, isso a impelia para frente mais e mais. Lívia a puxa para si, os espasmos impulsivos e os lábios vaginais pulsantes se dilatavam e contraiam ritmadamente. Varia deitada por cima da mulher sente os dedos da romana esfregando seu clitóris dolorido inchado. Sentiu as sensações crescerem dentro dela, os lábios de sua vagina se dilatavam e contraiam, sentiu os dedos de Lívia entrando em sua fenda, mexendo dentro dela, com força. Doía, mas era dor de gozo. Lívia enterrou as unhas na nádega da amazona, soltando um grito de gozo, enquanto Varia mordia seu pescoço, gemendo alto. Então ambas relaxaram, num gemido único. Seus corpos relaxaram exaustos e satisfeitos.

Varia escorrega de cima de Lívia, deita-se de lado, enquanto Lívia ajeita-se no divã, elas se aconchegam, seus corpos estão suados, leves, naquele estranho estado entre o consciente e o transe. Suspiros profundos de cansaço e satisfação.

- Você é linda..., perfeita. – Disse Lívia, enquanto olhava e acariciava o corpo da amazona. – Eu nunca me senti tão atraída assim por alguém. Você jogou algum feitiço amazona em mim? – Sorriu.

Varia sorriu, um sorriso largo e lindo. – Mas em seguida seu semblante ficou triste, o que foi notado por Lívia.

- Que foi? – Pergunta a romana.

Após alguns minutos, Varia responde. – Você me lembrou da nossa condição..., eu sou amazona e você é romana. Eu sou sua prisioneira e você é a comandante dessa tropa...

Lívia a interrompe. – É eu sei..., tenho pensado nisso. E um pesado silêncio caiu entre elas.
Passados alguns longos minutos Lívia amontoa algumas almofadas do divã, acomodando-se, admirando a Amazona que descansa com os olhos fechados. Seu corpo nu é de uma beleza sem igual. – Pensava a comandante. – Essa mulher lhe dava prazer como nunca sentira. Que feitiço seria esse? Como essa mulher a tinha levado a esquecer das barreiras que as separavam. Ela alimentava suas fantasias.

Por Júpiter, isso não vai continuar! – Dizia para si mesma.

Sentimentos confusos perturbam sua noite, deixando-a sem sono. Ela levanta e se veste, caminha para sua cadeira, senta-se, apoia os cotovelos na mesa, cruza as mãos e apoia o queixo, sua testa se franze demonstrando claramente sua preocupação com o fato. Não percebendo que Varia a observa com os olhos semicerrados, fingindo dormir.



CAPÍTULO 4

Andaram parte do dia sob o sol, sem água nem comida. Os passos eram lentos e cansados. Demorariam pelo menos três dias para chegarem a Daneses se continuassem nesse ritmo. Lívia manda o grupo parar e ordena a Quirino, que retorne ao acampamento com as amazonas.

O homem confuso com a nova ordem questiona a comandante. – Mas senhora, não vamos levá-las para o porto?

- Não discuta minhas ordens, vou voltar ao acampamento e quero vê-las por lá antes do anoitecer. Entendido?

- Sim senhora! – Responde o soldado.

Lívia puxa as rédeas e retorna a toda velocidade, instigando seu cavalo a correr cada vez mais.

- O que aconteceu? – Perguntou Tylapa a outra amazona que estava amarrada andando a sua frente. A mulher se limitou a encolher os ombros.

A atitude de Lívia deixou todos do grupo confusos, inclusive seu subordinado, mas a ele não cabia questionar e sim obedecer ordens e assim o fez.

Lívia disparou pela planície retornando ao acampamento. Entra a todo galope, puxa as rédeas do cavalo com força obrigando o animal a parar repentinamente, salta do cavalo e corre para sua tenda, os sentinelas surpresos, ficam desconcertados com o retorno da comandante, mas não impedem sua entrada. Ela entra na tenda a tempo de ver Telonius molestando Varia. Seu sangue ferve nas veias, suas têmporas latejam, seus olhos faíscam de raiva. Ver aquele homem tocando em Varia a deixa furiosa. Aquela mulher a atraía, não conseguia explicar o porquê, mas ela mexia com seus sentidos. Ele está tão absorto em satisfazer seu desejo que não percebe a entrada da comandante. Quando percebe sua presença já é tarde demais. Ela está com a ponta da espada pressionando sua nuca, qualquer movimento em falso e ela não hesitará em cravá-la profundamente no seu pescoço. – Ele tem certeza disso.

Lívia se controla para não enfiar a lâmina naquele momento mesmo, dá a chance dele virar-se; conhece Telonius, sabe que o instinto de sobrevivência dele vai obrigá-lo a reagir e essa será sua chance de acabar com o problema de maneira nada suspeita. Os soldados não entenderiam a vida de um soldado de alto posto do exército romano ser trocada por uma escrava. Tudo calculado. Ela se livrava de um problema, manteria sua liderança com o exército e ninguém mais ousaria tocar naquela mulher. Perfeito! – Pensava.

O simples roçar na pele daquela mulher enquanto amarrava seu traje, era uma sensação boa. Observou os arranhões em suas costas, consequências da luta, seus músculos, suas nádegas, pernas, cabelos, tudo nela provocava Lívia. Mas ela era sua inimiga, uma escrava... Isso..., ela era uma escrava e tinha que ser tratada como uma. Ela estava ali somente para servir, sem direito a reclamar, a pedir nada. Serviria somente para atender seus desejos sejam quais forem. Ela era uma fera selvagem. Domar aquela bela fera a excitava ainda mais.

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- O que será que está havendo? – Kara sussurrou ao ouvido de Mislina, ambas amarradas pelas mãos e pescoços.

- Não sei, alguma coisa errada aconteceu. Parece uma traição. – Responde Mislina.

- Para onde será que vão nos levar? – Pergunta Kara.

- Ouvi a comandante falar que vamos para Daneses. - Mislina sentia as cordas incomodarem sua pele fina. - Acha que vamos conseguir nos libertar?

- Não sei..., não sei mesmo. – Kara responde deixando escorrer algumas lágrimas, enxugando o rosto em seguida. – Tenho medo de estar perdendo a esperança de voltarmos a nossa terra, a nossa liberdade.

- Esse território já viu mais invasões do que qualquer outro – Céssias as ouvia e se meteu na conversa. – e sempre foram mantidos pelas amazonas, temos que confiar em nossas irmãs e em nossa rainha, temos que crer em nossas tradições.

- Minha crença não anda em alta ultimamente – Disse Kara. – Ainda me lembro muito bem quando Cleon foi morta por aquele romano desgraçado no...

- Sshhhhh, eles estão vindo.- Alertou Mislina.

Elas se calaram e se acomodaram no cercado. Mas viram quando os soldados arrastaram para fora da tenda um corpo sem cabeça.

Ao final da tarde viram que as amazonas levadas pelos soldados retornavam. Milla, Tylapa e todas as outras com uma tímida alegria se juntavam novamente ao grupo. Sem saberem sequer explicar o que tinha acontecido.

- Temos que pensar no que fazer. – Disse Tylapa.

- Não temos como enfrentar trezentos romanos – Kara desenhava na terra com a ponta da unha. – Seria suicídio.

- Eles não são mais trezentos. – Lembrou Milla.

- E nós não somos mais cento e oitenta guerreiras. – Ironizou Kara.

- E vamos deixá-los nos escravizar? Desde quando temos como tradição a derrota e a humilhação? – Disse Milla.

- Não temos escolha – lamentou Céssias. – Eles são muitos e nós apenas cinquenta e seis mulheres amarradas. Vamos lutar com o que, nossas unhas e cabelos? – Mostrando os pulsos amarrados.

- Somos mulheres que lutam, somos guerreiras. Não aceito essa condição de escrava. Temos que revidar. – Disse Tylapa. - A conversa seguiu em torno de estratégias possíveis, mas por mais que elaborassem planos de fuga, todos finalizavam num grande fracasso. E assim mais uma noite de chuva caiu sobre a região.

Próximo ao meio dia do dia seguinte o sol de primavera conseguiu atravessar as espessas nuvens que foram se dissipando após a forte chuva que caíra. Os romanos não prestavam atenção a isso, apenas quem estava no cativeiro, ao relento é que sabia apreciar a trégua que a natureza dava aos seus corpos abatidos e cansados.

Lívia sai da tenda e vê um batedor entrar no acampamento acompanhado de um centurião provocando uma estranha movimentação no lugar e o motivo das risadas que ouvia. A certa distância ouvia-se a movimentação das tropas de reforço chegando. Eram mais trezentos soldados que ficariam sob o comando de Lívia.

Quando os soldados foram reconhecidos, muitos homens do acampamento se aproximaram, comentando a esperada chegada. Estavam contentes por que em breve iriam desfrutar de alguma ação.

Após as apresentações costumeiras, o centurião informa a comandante das atividades que estão acontecendo em Roma. Na entrada da tenda a comandante chama por seu subordinado.

- Quirino, prepare o destacamento, amanhã antes do sol nascer, vamos entrar mais no território. Deixe apenas alguns poucos homens no acampamento.

- Ah..., e leve as mulheres para tomarem banho, quero todas limpas. Leve essa também. - Entregando a corda de Varia para o homem. – Ordenou a comandante. – E lembre-se, nenhuma delas molestadas entendeu? – Advertiu.

- Acomode os homens, partiremos amanhã cedo. – Determinou a comandante ao centurião.
Varia tenta disfarçar a surpresa e se junta ao grupo. Enquanto as mulheres seguem escoltadas para o rio próximo, Lívia entra no cercado, examinando pessoalmente as cordas, as estacas, remexendo a lama com os pés, atitude estranha para a comandante. – Pensam alguns soldados, mas não deram maior atenção ao fato. Após algumas horas as mulheres retornam.

Se encaminham para o cercado fortemente escoltadas. Quirino separa Varia do grupo e entrega a corda para Lívia, que observa as mulheres. Lívia enquanto desamarra a correia do pescoço da amazona sussurra: Confio na sua pericia, não me decepcione!

- Coloque-a junto das outras no cercado. – Ordena a comandante. Vira-se entra na tenda, abaixando a lona da entrada.

A rainha amazona calada observava a tenda da comandante, por mais que tentasse não conseguia entender as atitudes daquela mulher, num momento estavam entregues nos braços uma da outra, no seguinte ela era desprezada, jogada num canto como um cão sarnento. E o que significavam aquelas palavras? - Não aguentava mais ser humilhada, o que fazia crescer nela o sentimento de revolta.  Ela tinha que ter e dar as suas companheiras a força necessária para se pôr de pé e mostrar do que as mulheres amazonas eram feitas: de força, de esperança, de honra, de coragem, de quem não se rende facilmente à espada ou as lanças romanas. Os olhos da rainha amazona olharam com saudade na direção de sua terra. Mais um dia se passou no cativeiro.



GLÓRIA E TRADIÇÃO – parte final


CAPÍTULO 1


Varia se sentia muito cansada. Estaria se entregando a situação? Ela não podia se deixar abater e tentava se convencer disso. Abaixando a cabeça pensava na sua situação e de suas guerreiras. Algo, no entanto chamou sua atenção. Não tinha reparado naquilo antes. Mas parecia um brilho pouco nítido na lama. Com a unha ela bateu no que achou ser uma pedra, mas a sensação foi de que tocava em metal. Conhecia bem a sensação de tocar em espadas e facas. Começou a cavar. O brilho tornou-se intenso e viu que era um punhal. Ela conhecia aquela arma, era de Lívia, era o mesmo punhal com que ela a ameaçava quando estava presa na tenda. Mas como ele tinha ido parar ali? – Não pode ser... Será que...? – Remexeu novamente no solo, encontrou ainda a afiada lâmina de uma lança. Não podia acreditar. Agora ela compreendia o sentido daquela frase.

- Tylapa... – Sussurou e sacudiu a mulher.

A amazona com os olhos marejados de cansaço, olhou por cima do ombro e viu o que Varia tinha nas mãos. Seus grandes olhos se iluminaram como não faziam havia dias.

- Onde achou isto? – Pergunta Tylapa.

- Não importa..., - Sussurou. - Varia corta discretamente as cordas de Tylapa e passa a lâmina da lança para ela. Varia pediu silêncio a todas e foi soltando as companheiras. Viram que quatro guardas sonolentos vigiavam o cercado onde estavam reunidas. Dois guardas se aproximam estranhando a movimentação das mulheres. Agora soltas, Varia e Tylapa se preparam para atacá-los. As duas mulheres apertando fortemente as armas, pedindo em silêncio pela primeira vez que se aproximassem mais. Sem que tivessem tempo de abrir a boca, elas avançaram neles como lobas, enfiando as lâminas e rasgando suas gargantas. Céssias apenas percebeu um rápido movimento e logo viu os dois guardas despencarem no chão sem nem um grito. Os outros dois correm para o cercado, mas antes que chegassem as cordas, Kara e Mislina atingem seus peitos com as lanças de seus companheiros mortos. Varia chefiando as guerreiras sai do cercado. Reconquistariam sua liberdade com sangue.

Um soldado viu o reboliço e deu um berro para chamar os outros. Com a velocidade da corrida junto com a força do arremesso, Kara o atravessou com uma lança bem no meio do peito. As amazonas pegam as armas dos mortos. Mislina deu cabo de dois homens, rasgando suas barrigas com a espada.

- PEGUEM OS CAVALOS! – Gritou Vária, enquanto enfiava repetidas vezes a espada na barriga de um soldado.

Milla corre para libertar os animais presos num cercado próximo, seguida pelas demais guerreiras, algumas já armadas. Montam nos animais em pelo e correm pelo acampamento. Céssias do alto de sua montaria deu cabo de mais dois homens degolando-os sem piedade. Mislina derruba um soldado com uma lança certeira em seu peito. Kara e algumas guerreiras montadas nos cavalos perseguiam alguns covardes que começaram a correr ao ver o tumulto. Varia avançava nos soldados tomada pelo ódio, extravazando toda fúria contida. Nunca sentira tal fúria que a impelia a continuar com a brutalidade e não cessaria enquanto ainda visse um romano de pé. Milla atravessa a espada na garganta de um dos soldados que perseguia e o outro ela consegue atropelar com seu cavalo, que ao cair é atropelado diversas vezes pelas outras amazonas, ficando completamente desfigurado.

Tylapa e Varia emboscaram quatro soldados que saíram da tenda onde ainda dormiam; sonolentos foram presas fáceis. Seguidas de mais seis amazonas, elas entraram correndo, aos berros e eliminaram um a um, atacando-os como se fossem animais selvagens. Eles não conseguiam conter a fúria das mulheres. A desorganização entre eles impedia qualquer reação. Tentavam correr para suas armas e eram mortos. Um ainda tentou escapar do massacre, mas Varia foi mais rápida. Arremessou a espada pelo ar que o acertou entre as omoplatas, abrindo uma fenda de onde jorrava sangue. O homem cai como um pedregulho.

Em outras tendas, os soldados dormiam quando as mulheres furiosas entraram e muitos morreram sem nunca verem como e com o que tinham sido atingidos. Nunca sentiram tanto ódio. O restante dos homens iam caindo a cada minuto. O sangue tingia o chão do acampamento. O ataque surpresa fez o efeito desejado, todos os cinquenta soldados que ficaram no acampamento estavam mortos, massacrados sem piedade. Algumas mulheres feridas, mas nenhuma baixa.

Varia sai da tenda seguida pelas outras amazonas, olhando em volta viu que tinham conseguido. Os romanos morreram, elas agora estavam livres. Havia uma expressão de liberdade salvadora no sorriso de muitas mulheres, muito choro de alegria e reencontros.

Muitos corpos mutilados e ensanguentados espalhados pelo acampamento, mas nem se comparava a carnificina de sua aldeia. Precisavam agora desaparecer das vistas de tudo e de todos e se reagruparem junto as outras tribos para ajudá-las a combaterem os invasores.

Varia sentia uma semente de felicidade brotando em seu coração após a desgraça. Ela agora sorria, falava com a força de sempre e por alguns instantes pareceu esquecer o que tinham passado. Esquecer talvez não fosse de todo possível, mas certamente uma delas seria uma agradável lembrança. – Lívia. – Apesar de tudo que passara nas mãos daquela mulher, não conseguia mais odiá-la como antes. Sentia certa estima por sua inimiga. Os momentos que sentiram juntas seriam guardados na memória, enquanto ela vivesse.

Precisavam andar depressa antes que as tropas romanas voltassem e as encontrassem mais cedo do que queriam. E assim tratou de conduzir as mulheres para os bosques, onde se protegeriam encobertas pela escuridão.

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Até a aldeia de Velasca estendia-se um imenso tapete verde, denso de bosques e florestas, com vida animal e vegetal abundante, com vários riachos cortando suas terras. Seus recantos escondidos foram por alguns séculos refúgios seguros das Amazonas.

Os romanos ignoravam esses locais por sua aparência inofensiva. Desconheciam o potencial que possuíam. Além disso, não podiam ver os caminhos invisíveis que somente as moradoras do lugar conheciam. As amazonas ancestrais criaram caminhos sutis, marcados por presenças naturais, para que servissem de guia para as futuras gerações.

“Curiosa desde criança Varia percorria grandes extensões de estradas ao lado de Margam, a mulher responsável pela educação de todas as crianças antes de Arduína. A adorável senhora sempre lhe mostrava os sinais sutis que quase ninguém percebia enquanto andavam pelas estradas. Um dia de tarde agradável e quente, Margam andava com ela nos bosques procurando por ervas medicinais quando reparou nos sinais naturais propositalmente colocados. Eram pedras marcadas, árvores estrategicamente localizadas, troncos caídos, guiando por caminhos invisíveis. Pegando na mão da pequena Varia, as duas entram no bosque soturno e silencioso, sentindo que olhos ancestrais as observavam.  As copas das árvores se fechavam cada vez mais, formando um ambiente abafado, bloqueando a passagem do sol. Foi quando de repente entraram em uma clareira em algum lugar no meio do bosque, com gramado curto e frondosas árvores de galhos grossos. Os raios de sol passavam por entre as folhas sacudidas pelo vento, criando sempre uma iluminação diferente. Sentiam-se protegidas e acolhidas por um afago quente.”

Montada em seu cavalo em fuga Varia lembrava-se desse episódio de sua vida detalhadamente. Ela e suas companheiras cavalgaram por muitas horas, mas teriam que parar para descansar. Após se libertarem da escravidão e deixarem um recado visível de corpos mutilados, elas fugiram, sempre cuidadosas para não deixar rastros, se embrenhando nos caminhos só conhecidos por elas.

No interior do bosque encontraram frutas, alguns ovos e pequenos animais. As guerreiras entraram mais profundamente no bosque a fim de ocultar a fumaça e a luz da fogueira. A comida foi dividida e mesmo sendo pouca, conseguiram acalmar seus estômagos. Não tinha avistado nenhuma tropa romana nas várias milhas que percorreram e, portanto achavam que eles evitaram subir o território por completo.

Varia olhou atentamente para as companheiras. O comando daquelas cinquenta e seis sobreviventes estava novamente com ela. Reunidas em torno da fogueira branda, satisfeitas e descansando, todas num silêncio contemplativo. Para mulheres escravas subjugadas, a fuga bem-sucedida tinha sido uma coisa notável. Varia sabia que essa liberdade que desfrutavam agora, não seria possível sem a ajuda que recebera de Lívia.

Lembranças de seus momentos juntas vieram a sua mente. Suspirou profundamente. Com as mãos ágeis e fortes descascava uma fruta. Olhava a fogueira completamente mergulhada em suas recordações, quando foi interrompida por Tylapa.

- O que faremos agora? – Murmurou Tylapa.

Voltando-se para trás, olhando por cima do ombro, Varia viu as amazonas deitadas dormindo em paz enquanto outras guerreiras montavam guarda no alto das árvores. 

Varia a olhou e depois olhou para todas as outras que estavam em volta da fogueira como se estivesse procurando palavras para responder. Agora que estavam livres tinham que pensar no que fazer. Lutar? Fugir? Varia respirou fundo, mastigando e engolindo o pedaço de fruta.

- Nossa tribo foi destruída - dizer isso lhe causou uma dor imensa, pois ela mesma evitava admitir o fato. – Nossa nação está esfacelada. Acho que nosso dever é reuni-la e expulsar os romanos.
- Como vamos fazer isso? – Kara se mostrava cansada.

- Lutando.  – Responde Varia. - Nossas irmãs das outras tribos virão nos procurar e nos ajudar, disso eu tenho certeza, mas por enquanto, podemos contar apenas com nós mesmas. Muitas dessas mulheres ainda são jovens, mas lutaram com uma fúria que nunca vi. Na hora da necessidade, não temos ideia do que podemos fazer. E estamos em necessidade agora.

-Temos espadas e lanças em boa quantidade, precisando apenas serem afiadas. – disse Kara.

- Seria suicídio tentar qualquer coisa agora, temos que esperar por nossas irmãs..., se é que elas virão. – disse Mislina desanimada.

Todas concordavam em um ponto. Teriam que esperar até se recuperarem por completo dos maus tratos sofridos e ter notícias das outras tribos.

Após se alimentarem, elas abrandaram a fogueira e deitaram sobre a grama fresca. A escuridão da noite pontilhada de estrelas passava pelos galhos criando uma penumbra que delineava os corpos o suficiente para as guerreiras de guarda nas árvores os distinguir entre as sombras. Um sono pesado caiu sobre as mulheres. Varia então ouviu um barulho. Apura os ouvidos querendo se certificar que ouvia direito. Nada. Suspirou. O ruído voltou. Num pulo se pôs de pé, pegando a espada que estava ao seu lado. Estranho era que as outras não acordaram. Contornando as companheiras, segue para o lado de onde vinha o som. Ouviu barulho de passos. Apertou o cabo da espada e prosseguiu por entre as árvores. Sentia algo se aproximando. Parecia que a rondavam, pois ouvia passos por todos os lados. Agachou-se, encostou o ouvido na grama. À esquerda. Pôs-se de pé e correu para o local. O barulho sumiu novamente. Varia não entendia o que estava acontecendo. Estou imaginando coisas, dizia a si mesma, ofegante. Deu as costa para voltar para junto de suas companheiras, quando viu uma sombra perfeitamente  delineada vir em sua direção. Parecia uma mulher, vinha com um punhal em sua direção. Aquela silhueta ela conhecia. Era Lívia. Varia está paralisada. Lívia se aproxima e encosta a ponta do punhal na garganta da amazona.

- Cuidado rainha! – a voz de Lívia era fria. - Como uma rainha amazona pode ser tão desatenta? – Lívia cochichou perto de seu ouvido.

Varia acordou num pulo, assustada, atordoada com o sonho. Os olhos ardiam. Já era dia. Na sua frente viu Tylapa olhando-a curiosa, lhe oferecendo uma fruta.

- Você dormiu bastante – disse Tylapa, passando-lhe a fruta. – Já estão todas de pé.

Varia olhou em volta ainda um tanto abalada e viu o acampamento em polvorosa.

- Você está bem? – Perguntou a amazona.

Varia olhou para o céu azul e viu as nuvens vagando sossegadas. Olhou novamente para Tylapa e sorriu, garantindo que tinha dormido demais e por isso estava meio desorientada. Se pôs de pé e juntou-se as outras mulheres, mais quieta que o de costume. Seguindo o ritmo de trabalho matutino, ela e Kara se puseram a avaliar o arsenal que possuíam. Todas estranharam o silêncio da rainha, mas respeitaram sua atitude.

Os berros de uma sentinela no alto da árvore desviou a atenção das duas mulheres de seus afazeres como se tomassem um choque.

- RAINHA!

- O que foi?! – respondeu ela, olhando para o alto.

- Vejo pessoas se aproximando rapidamente! – Responde a sentinela.

- Romanos? – Perguntou a rainha.

- Acho que não, senhora!

Contrariada com as informações vagas Varia e Kara sobem na árvore e forçam a vista para o fundo escuro no fim do bosque. Conforme a visão se acostumava, viram que a sentinela tinha razão, pessoas se aproximavam.

Estreitando os olhos, Varia reconheceu as vestes da tribo de Velasca. Varia desce da árvore para recebê-las. Deviam ser mais de cem mulheres.

- Sou a rainha Varia. Eu as saúdo irmãs. – Disse fazendo o gesto de saudação amazona.

Respondendo a saudação, a amazona se apresenta. - Sou Mércia, a segunda em comando na tribo da rainha Velasca. Ela manda sua saudação. Viemos oferecer nossas espadas para ajudar. A partir de agora estamos sob seu comando, rainha Varia.

- Quantas vocês são? – Pergunta Varia ansiosa.

- Cento e quarenta, minha rainha. – Responde a amazona.

- Como nos encontraram? – Pergunta Kara.

- Nossas batedoras nos informaram que a sua aldeia tinha sido destruída e que as sobreviventes foram levadas para o acampamento romano. Estávamos seguindo para lá. Para evitar encontrar tropas romanas, tomamos o caminho das ancestrais e por coincidência encontramos vocês. – Responde Mércia.

No início da noite mais mulheres das outras tribos foram chegando e se juntando ao grupo de Varia. No final da tarde do dia seguinte chegaram mais amazonas. Elas agora formavam um pequeno exército de trezentos e vinte guerreiras. Faltavam as guerreiras da tribo de Melosa, que era a aldeia mais afastada no território.

Varia se animou com a esperança de que a sorte começava a ficar do lado delas. Ela levantou os olhos para o céu estrelado e suspirou profundamente. Começaram a traçar estratégias de combate.



CAPÍTULO 2


A sentinela na torre da aldeia de Melosa se esforçava para manter os olhos abertos no horizonte. Mas o sono era mais forte. Com o queixo apoiado sobre o beiral, ela suspirou relaxada. Acordando assustada com o relincho de um cavalo se aproximando. Aprumando a lança, ela vê uma grande concentração de mulheres se aproximando rapidamente.  Na frente vinha a rainha Varia, junto com outras três comandantes. Varia ordenou que as guerreiras a esperassem na clareira, na entrada do bosque. As sentinelas deram o sinal, avisando a tribo da presença das mulheres. As amazonas ficaram espantadas ao verem centenas de mulheres, todas armadas e um pequeno grupo também armado, montando cavalos. Chegando junto ao portão Varia manda chamar Melosa.

Em fim reunidas dentro dos muros da aldeia, as guerreiras eram observadas com curiosidade por suas irmãs. Após as saudações de costume, Varia põe Melosa a par do que aconteceu.

- O que pretendem fazer? – Perguntou Melosa.

- Não podemos enfrentar várias tropas seguidas. Portanto precisamos vencer a primeira resistência e seguir direto para o centro do território, pois segundo nossas batedoras as tropas romana estão se dirigindo para lá. – Disse Varia.

- Tenho duzentas guerreiras bem preparadas. Vamos por esses miseráveis para fora das nossas terras. – Disse Melosa entusiasmada. – Batedoras informaram que as tropas romanas estão acampadas na ruína próxima a curva do rio. – Continuou. – Não chegam a quinhentos homens.

Agora seguiriam para encontrar o restante da tropa romana. Pararam no final daquele dia para descansar, ficando várias amazonas de guarda na noite fresca e estrelada. Varia deitada no chão, olhando para as estrelas, pensava no momento em que vingaria suas irmãs e faria os inimigos se arrependerem de cada passo que tinham dado naquele chão.

Ela sabia que inevitavelmente encontraria Lívia. Seus sentimentos se confundiam quando pensava na romana. Evitava pensar no assunto, como se não conseguisse lidar com ele. Talvez para evitar as lembranças. Suas recordações são cortadas quando uma batedora chega com novas notícias sobre os romanos.

O plano do dia seguinte incluía tentar acampar o mais perto possível do local e esperariam anoitecer mais uma vez. Havia ansiedade no ar. Varia, Tylapa, Melosa e Mércia se reuniam em um canto mais reservado no bosque. Desenhando na terra com um graveto, Varia explicava seu plano. Apontando para um determinado lugar do desenho, ela falava:

- Nessas ruínas existe uma passagem que sai de dentro das muralhas em direção ao bosque. Aqui em algum lugar ainda tem restos de um estábulo e da porta de saída.

- Como sabe disso? – Perguntou Tylapa espantada.

- Margam me contou. Contava que essa construção tinha sido feita pelo povo que ocupou essas terras muito antes das amazonas existirem e que desapareceram sem deixar sinal.

- Deveria servir para fuga se precisassem. - Observou Melosa.

- Talvez. – disse Varia. – Essa saída deve estar coberta de vegetação. Mas não será difícil encontrá-la. Entrando por ela sairemos dentro das ruínas e pegaremos os romanos de surpresa.

- E se os romanos conhecerem esta passagem? – Pergunta Mércia, que estava calada até então.

- É um risco que teremos que correr. – Respondeu Varia.

- Parece fácil, mas será que vamos conseguir combater todos ao mesmo tempo? - Melosa se preocupou.

- Ninguém disse que ia ser fácil. – Falou Varia. – Mas agora temos a vantagem numérica de guerreiras. – Continuou.

Era um plano arriscado, ela admitia, mas qualquer risco era preferível do que serem escravizadas e deixar sua nação morrer. Com as funções acertadas, o dia seguinte foi marcado pela ansiedade e movimentação intensa. Lâminas eram afiadas sem descanso. A tensão dos arcos eram testadas constantemente.

Ao cair da noite, um grupo de cento e noventa mulheres se escondeu mais uma vez na escuridão do bosque, observando a movimentação na ruína que parecia grande e obscura. Varia e Melosa tentavam passar confiança e orientação as amazonas que nunca tinham vivenciado aquilo, pedindo apenas que seguissem seus instintos e que acreditassem em sua capacidade e força. Só porque o inimigo é grande, não quer dizer que sua queda não seja possível.

Uma guerreira afoita apareceu da penumbra, tinha encontrado uma construção de pedra entre umas árvores e muito musgo. A rainha e mais algumas amazonas correram para o local. Com ajuda das espadas, as mulheres começam a podar os pequenos galhos e a raspar a terra e o lodo das junções, mostrando a forma de blocos retangulares de pedra que lembrava uma passagem. Com as lanças Varia, Melosa e Mislina começaram a forçar a junção dos blocos, até que um bloco caiu, e depois outro e mais outro. Um ar úmido e pesado saiu de dentro da passagem.

- Mislina, vá chamar as outras..., ah! e preparem algumas tochas, mas não acendam..., encontramos o caminho! – Ordena Varia sorrindo. A amazona regressa apressadamente.

- Como está escuro aqui... – Melosa sussurrou, semisserrando os olhos, tentando enxergar na escuridão. – Será que a passagem está aberta do outro lado? – Continuou.

- Espero que sim. – Responde Varia, já entrando na passagem. Conforme iam chegando as mulheres foram entrando pelo buraco. As tochas foram sendo acessas dentro do túnel com dificuldade devido ao ar úmido e pesado. Buracos nas paredes serviam para encaixar as tochas improvisadas. Varia e Melosa lideravam uma enorme fila de mulheres armadas. O ar carregado sufocava. O suor escorria de seus rostos. Mislina sentia a palma das mãos suarem. Varia vê uma pequena escada e sente uma leve brisa com ar fresco bater em seu rosto. Vira-se e faz sinal para a comitiva parar. Ela e Melosa desembainham as espadas e sobem cautelosamente os degraus. O ar ficava mais fresco a cada passo indicando uma saída cada vez mais próxima. Varia olha cautelosamente pela fresta de uns três palmos. Vê que naquele lugar não existem soldados. Varia sinaliza para Melosa para que traga as outras. Silenciosamente saem no que deveria ser um pátio na parte mais baixa do terreno. Tinha pouca iluminação por ali. Ouvia-se a certa distância conversas e risadas dos soldados. Sentia-se o cheiro de comida. Varia faz sinal para Mislina, que se esgueira junto ao muro, subindo em algumas pedras para observar o acampamento próximo. Após alguns minutos desce e corre para junto das companheiras.

- Conseguiu estimar quantos são? – Pergunta Melosa.

- Acredito que por volta de quatrocentos ou pouco mais que isso. – Responde a amazona.

- Você viu onde está a tenda da comandante? – Perguntou Varia.

- Está na parte alta no fundo do acampamento. – Responde Mislina.

- Melosa, Mislina, Tylapa..., avise as guerreiras que ninguém toca na comandante, ela é minha, temos contas a acertar. – Disse a rainha disfarçando a ansiedade. – Como ambas reagiriam no confronto? – Se perguntava. – Era difícil prever.

Com perícia e boa dose de esperança em seus corações elas conseguiriam pegar uma boa parte dos soldados desprevenidos. Andando junto ao muro, cada vez mais mulheres foram se agrupando, esperando o sinal de ataque. Foram se organizando em grupos menores lideradas por Varia, Tylapa, Mislina e Melosa. As mulheres começaram a se posicionar olhando de relance para as barracas no acampamento. Tylapa posiciona quatro arqueiras com flechas incendiárias na direção dos cercados dos cavalos. De onde estava, Varia podia ver os movimentos dos homens sendo refletidos pelas fogueiras do acampamento. As flechas atingiram os montes de capim seco, iniciando um pequeno incêndio, suficiente para causar pânico entre os animais que saíram disparados pelo acampamento, atropelando tudo e todos em seu caminho. Desesperados os soldados não tiveram tempo suficiente para se organizar e foram pegos de surpresa. Alguns homens não chegaram a se levantar, pisoteados pelos cavalos ou mortos pelas amazonas. Corriam desnorteados, procurando suas armas. O acampamento se tornara um caos. Era o sinal para que o restante das mulheres escondidas no bosque, lideradas por Mércia, invadisse o acampamento. Vieram com toda fúria, rasgando carnes, decepando cabeças, braços, pernas, dizimando romanos como se fossem ratos. Melosa sorriu ao ver que os romanos tentavam em vão se organizar para o combate. Eles corriam de um lado para o outro berrando, praguejando. Quando um grupo de aproximadamente trinta homens se dirigiu para entrada da ruína, uma chuva de flechas atravessou o céu e acertou um por um, cravando em seus rostos, peitos e barrigas. Caíam pesadamente com gritos de dor. Lanças atravessavam corpos e as espadas desenhavam arcos no ar derrubando os inimigos sem piedade. A vingança era doce. Varia tentava abrir caminho para a tenda da comandante. No alto, uma luta feroz das mulheres contra o inimigo tornava-se cada vez mais sangrenta. Melosa com sua espada deformou a cabeça de alguns soldados, investindo contra os que vieram ao seu encontro. Varia com seus olhos de falcão avaliaram a situação, as espadas desciam precisas sobre os inimigos. Procurava espaço para chegar até a tenda de Lívia. Todas lutavam com ódio no olhar e com muita força nos braços.

Kara passou como um furacão por três romanos, quando conseguiu montar em um cavalo para tirar Mislina do meio de um cerco. Mislina com a velocidade do galope arremessou uma lança nas costas de um romano com tanta violência que o traspassou. Tylapa evitava olhar os corpos das companheiras mortas para não perder as forças numa hora tão desesperada quanto aquela. Era o momento de lutar com toda força que tinham ou seriam para sempre escravas do medo e da humilhação.

Varia em meio ao caos procurava por Lívia, até que finalmente a encontrou lutando ferozmente. Foi exatamente no momento que viu Cyssim cair por terra, desarmada com o rosto deformado e um enorme corte no tronco, feito pela espada de um romano que teve as costas transpassadas pela lâmina de Varia. Durante alguns minutos que pareceram horas elas se encaram, sem se importar mais com a batalha ao seu redor.

Pouco a pouco a situação foi sendo controlada pelas mulheres. Após algumas horas os poucos romanos que sobraram foram feitos reféns e desarmados. Um mar de corpos jaziam sobre a terra ensanguentada.

- E então? – Perguntou Varia a Melosa.

- Foram quase todos mortos. – Respondeu a mulher que parecia satisfeita com o resultado.

- Temos os animais e as provisões. – Mislina veio correndo animada. – O acampamento é nosso!

Varia erguendo a espada, grita a todo pulmão. – VENCEMOS, O ACAMPAMENTO É NOSSO!!! ESTAMOS LIVRES!!!

- YEEEEEHHHHAAA!!!! – Respondem as guerreiras em júbilo, erguendo suas armas.

- Onde está a comandante? – Pergunta Tylapa eufórica.

Varia vira-se para trás e apontando com a espada para a tenda, responde:

- Está morta atrás da tenda. - E desce para a parte baixa do terreno. Sendo ovacionada pelas amazonas.

Tylapa e Mislina correm para o lugar indicado por Varia, e lá encontram uma mulher com o rosto deformado e um enorme corte no tronco. As roupas sem dúvida identificavam a comandante romana. A euforia pela vitória era tanta que não reparam numa mulher montada num cavalo negro que se afasta do grupo saindo do acampamento.



CAPÍTULO 3


Tropas romanas tinham desembarcado no sul e Varia acompanhava seus movimentos com preocupação. Mas dessa vez o alvo eram os gregos. As amazonas viviam ansiosas diante das invasões cada vez mais frequentes. Muitos meses se passam e aos poucos foram reconstruindo a aldeia. Trouxeram as velhas e as crianças de volta. A vida retornava junto com a gritaria e a correria das crianças. O cheiro de pães e mingaus quentinhos perfumavam o ar frio das manhãs.

Varia criara o hábito de cavalgar sozinha pela planície e colinas. A rainha se transformara numa mulher calada e triste, mergulhada em sua solidão.

Numa manhã ensolarada ela vê do alto de uma colina uma figura que lhe é conhecida e imediatamente um tímido sorriso aparece em seu rosto. Galopa apressadamente para o rio, chegando ao local conhecido, desce do cavalo e olha ansiosamente em volta como se procurasse alguém. Os minutos passam e ninguém aparece. Varia está inquieta, a ansiedade a sufoca. Nada acontece. De repente ouve passos saindo de trás de uma árvore vindo em sua direção. Vira-se e vê Lívia. Tem ímpetos de abraçá-la, mas se controla, afinal nunca conseguiu prever as reações daquela mulher. Lívia se aproxima ficando a um passo de distância, sem dizer uma palavra, encarando-a por longos minutos, até que finalmente se abraçam e beijam-se com a sofreguidão de amantes saudosas.

Varia queria dizer que sentia falta dela, mas tinha medo, desconfiava que a qualquer momento surgiria a comandante romana fria e egoísta. Mas aquela mulher que estava aconchegada em seus braços em nada lembrava aquela criatura. Seu corpo quente, sua pele macia e seus indecifráveis olhos azuis, a atraiam como nenhuma outra mulher já havia feito.

- Como tem passado? – Pergunta a romana, como querendo puxar conversa.

Varia ficou surpresa com a pergunta. Olhando confusa para a romana a amazona responde: - Estou bem.

Lívia pega as rédeas do cavalo da amazona e se dirige para uma árvore, amarra o animal num galho baixo e acomoda-se embaixo da árvore. Varia ensaia sentar-se, mas a outra imediatamente se levanta e pega o odre na sela do cavalo.

- O que faz por aqui? – Pergunta a amazona, tentando mostrar-se indiferente.

- O dia está muito quente... Está com sede? – Perguntou Lívia, olhando para a mulher. – Sempre que posso venho aqui..., - Disse Lívia recordando quando viu Varia nua pela primeira vez.

- Sente-se mais perto. – Disse Lívia. – Com certa desconfiança Varia se aproxima. – Mais perto! – Repete a mulher. – Varia obedece. Vire-se de costas para mim.

Pelos deuses, essa mulher é linda, ela me atrai demais. – Pensa Lívia. - A amazona vacila, mas vira-se vagarosamente desconfiada. – Lívia ajoelha-se as suas costas, joga os cabelos da amazona pelo lado do pescoço e despeja vagarosamente a água sobre seus ombros, espalhando suavemente o líquido pelas costas de Varia, que a princípio se assusta, mas depois recebe o frescor da água como uma dádiva incomparável. Sente a romana tocando suas costas com delicadeza. As mãos da mulher passeiam pelos seus ombros, suas costas, seguindo a linha de sua coluna até os quadris; ela gosta da sensação do toque daquela mulher. Agora a água está sendo jogada pelo seu pescoço, escorrendo pelo colo e as mãos acompanhando o percurso do líquido delicadamente. Lívia está extasiada com a sensação da pele macia daquela mulher. Aproxima-se até quase encostar-se no corpo da amazona, que parece se refrescar e se deliciar com seu toque. Ela escorrega a mão pelo seu colo, procurando o peito de Varia, que não mostra resistência ao toque. Lívia se curva, passando a língua na nuca e no pescoço da mulher e percebe que a pele dela se arrepia, ao mesmo tempo que sente o bico do seio de Varia endurecer.

A amazona está excitada com a sensibilidade daqueles toques, sua pele se arrepia a cada lambida no seu pescoço, com os beijos nas suas costas. Lívia morde a orelha da mulher que solta um leve gemido, inclinando a cabeça para o lado. Varia está de olhos fechados, mordendo levemente o lábio. Isso deixa Lívia mais excitada. Num movimento repentino ela segura Varia pelos cabelos e inclina sua cabeça para trás, dando-lhe um beijo. Imediatamente Varia entreabre os lábios recebendo a língua da mulher. Suas línguas examinam as bocas com sofreguidão, num beijo profundo. Varia tenta virar-se, mas Lívia a segura forte pela cintura, enquanto morde seus ombros e pescoço, sua respiração excitada no ouvido da amazona, provoca ondas de arrepios por todo corpo de Varia. Lívia rapidamente  desamarra a peça que cobre os seios de Varia, deixando os peitos expostos. Sente seu sexo quente, molhando, latejando enquanto acaricia com ardor aquele corpo.

Varia tenta novamente se virar e dessa vez se recusa a permanecer de costas. Encara Lívia, os olhos azuis da romana estão em chamas. Segura seu rosto entre as mãos e a beija com ardor e é correspondida, as duas estão ofegantes. Varia apressadamente vai tirando as vestes da mulher, enquanto beija seu pescoço, sua boca, morde seu queixo. Afrouxa os cadarços do colete de Lívia, que ajuda retirando-o com rapidez. Ambas estão quase nuas, acariciando os corpos uma da outra. Lívia passeia com a língua pelo colo de Varia descendo até os seios, lambe em volta dos bicos. Varia suspira fundo, soltando leves gemidos, se curva beijando os cabelos da romana, segura Lívia pela nuca trazendo-a para junto de seu rosto e a beija com violência, procurando sua língua com ansiedade.

Lívia desliza as mãos pelas costas da amazona, procurando suas nádegas, enfia as mãos pelas laterais da tanga puxando-a para baixo. Varia se apressa em ajudar a retirada da peça. Passando em seguida a retirar as botas e a calça da romana. A excitação das duas está no auge. Lívia forra o chão com a própria roupa e força a amazona a se deitar, pressionando seu corpo contra o dela. Varia faz uma pequena resistência, mas deita. Lívia se coloca entre as pernas da mulher, se debruçando sobre ela, passeando com a língua pelos bicos dos seios, sugando-os com força.

- Ahhhh..., delícia. – Gemia a amazona ofegante.

O contato da língua de Lívia nos bicos dos seus peitos fazia Varia se contorcer de prazer, leves mordidas nos bicos tiravam gemidos da amazona. Enquanto mordiscava os peitos de Varia, Lívia olhava as reações da mulher, que gemia de olhos fechados e mordia o lábio com força. A língua da romana continuava passeando pelo ventre, umbigo, virilha e a parte interna das coxas de Varia, enquanto apertava os seus peitos com força, sentia que ela já levantava levemente os quadris. Olhou para o sexo da amazona e viu os pelos na entrada da vagina totalmente molhados, com o líquido lubrificante tão bem vindo, que junto com sua saliva facilitaria a entrada de seus dedos. O clitóris estava inchado, como se já tivesse sido esfregado.

- Eu quero você..., quero sentir você na minha boca. Quero beber você. – Disse Lívia embriagada de êxtase.

Quando estava para enfiar os dedos. Varia se ergue ligeiramente, puxando-a pelos braços. A respiração descontrolada o coração batendo violentamente no peito.

- Vem cá..., eu preciso de você... – Disse com um suspiro profundo.

Lívia obedece e sobe, deitando-se sobre a mulher. Não estava entendendo nada..., isso não era hora de se falar nada, de parar o que estavam fazendo. O que teria acontecido?

- O que aconteceu, eu te machuquei? Fiz alguma coisa de errado? – Perguntou Lívia preocupada.

- Não..., não, está delicioso..., eu quero que você vire. Quero sentir você..., te dar prazer também.

Lívia vira-se, procurando acomodar-se de modo a não machucar sua amante. Ela sente Varia afastando os pelos do seu sexo procurando seu clitóris com a língua. Ela começa a esfregar a língua nele com força, mais e mais, cada vez mais rápido. Lívia faz o mesmo, suas vaginas estão escorrendo o doce líquido, os clitóris inchados de prazer doem, elas se esfregam nas línguas com mais força, descontrolam completamente o movimento dos quadris, gemem alto, enfiam os dedos uma na outra mexendo com força enquanto gemem mais alto e se esfregam mais e mais, até que as contrações seguidas das vaginas apertam seus dedos, os líquidos escorrem com mais volume, Varia agarra a nádega de Lívia, pressionando o clitóris da romana contra sua língua ávida, elas gemem alto, quase gritam. O clímax está no auge. Mais algumas contrações e entre gemidos elas relaxam.

- AAAAHHHHH..., SSSSSS..., - Gruniu Vária.

- AI..., HHUUHHHH,...  GOSTOSO!!! – Gruniu Lívia.

Ambas suspiram profundamente tentando recuperar o fôlego, estão extasiadas, cansadas, mas satisfeitas, respiram ainda ofegantes, se recuperando do esforço. Lívia vira-se, procurando sua blusa, limpa seu rosto e o de Varia. As duas sorriem satisfeitas, se beijam, esquecendo-se de quem são. Nesse momento não existe vencedora ou vencida, escrava ou senhora.  Lembram apenas que são duas mulheres que se encontraram e se entregaram ao prazer. Estão deitadas de lado, se admirando, se examinado e se acariciando. Aproveitando cada segundo desse céu.

- Vamos - disse Lívia bruscamente. - temos que voltar para estrada. Vista-se. – Disse enquanto se vestia.

O olhar surpreso de Varia, foi visível. O que aconteceu? – Pensava. - Ainda a poucos minutos atrás elas estavam completamente entregues, gozando uma nos braços da outra, explodindo de prazer e agora é como se nada tivesse acontecido entre elas. Estava sendo tratada novamente como uma escrava. Então era isso, ela não passava de alguém para satisfazer os instintos da comandante. Ela foi usada. Um sentimento de arrependimento, de culpa, de revolta por ter cedido aos prazeres da carne com aquela mulher, remexeu suas entranhas. Aquela mulher era sua inimiga e nada mais que isso. Sentia-se dividida entre a razão e desejo. Sentimento estranho para se ter com uma mulher como aquela. Ela era uma amazona, uma mulher guerreira e livre, não uma escrava subjugada. Mas a recente lembrança de Lívia gozando em seus braços, seus beijos, seu corpo, seus gemidos de prazer a deixavam desnorteada, não conseguia se concentrar com clareza em nada a não ser no desejo de tomá-la novamente.

Varia entendia cada vez menos aquela mulher, isso a deixava confusa. Era uma constante incógnita. Lívia tinha desarmado suas defesas. – Como pode ser isso? – Varia se perguntava a todo momento como ela poderia se sentir tão intensamente atraída, por sua inimiga declarada.

Deuses como isso pode ter acontecido? – Lívia se questionava. – Tenho que fazer um esforço sobre-humano para não abraçá-la. Eu não posso esmorecer. – Lívia ainda sentia o contato da pele dela se roçando, o calor de seu sexo, a umidade dela na sua boca..., NÃO! NÃO! NÃO! – Gritava para si mesma. - Isso não pode ir adiante. Eu sou Roma! E ela..., ela é uma amazona..., a mulher que eu quero. – Suspirou. Era um desejo tão intenso que atrapalhava seus pensamentos, isso não podia continuar, mesmo que significasse perdê-la para sempre.

Chegam numa bifurcação da estrada, Lívia desce da garupa e sente seu coração apertar com a inevitável despedida, abaixa a cabeça para não mostrar as lágrimas que começam a aparecer, morde o lábio sufocando o choro. Varia sente um nó na garganta sufocando, seu peito dói, engole em seco. Elas sabiam que não tinham como levar isso adiante. Uma representava a glória romana e a outra a tradição amazona. Era um amor impossível. E assim cientes de sua condição, nesse turbilhão de sentimentos confusos, as duas separam seus caminhos, sofrendo caladas, perdidas em seus pensamentos.





FIM



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